Mercado brasileiro de celulares tem crescimento tímido no primeiro trimestre de 2021
Preocupados com a crise global de componentes, fabricantes se anteciparam, abasteceram canais e viram crescimento de 3%, diz IDC

O mercado de celular no Brasil cresceu 3% no primeiro trimestre de 2021, revelou o estudo IDC Brazil Mobile Phone Tracker divulgado pela consultoria nesta quarta-feira (02). Nos três primeiros meses do ano, foram vendidos 11.873.760 aparelhos, sendo 11.167.500 smartphones e 706.260 feature phones, segundo a IDC Brasil.
Comparado ao primeiro trimestre de 2020, quando o mercado registrou queda de 8,7%, o crescimento é considerado positivo, mas não traz um cenário de otimismo para a indústria. Segundo Renato Murari de Meireles, analista de da consultoria para Consumer Devices, o avanço é explicado por uma antecipação do abastecimento de canais por parte de players que preveem uma falta de componentes, e não se traduz automaticamente em vendas para o consumidor.
“A crise é global e o momento é de incerteza, por isso a precaução da indústria em comemorar essa reação do mercado. Por conta de uma antecipação ao canal, houve alta de 3% no 1º tri, mas o comportamento dos próximos meses vai depender da disponibilidade ou não de insumos e também do pipeline dos fabricantes e do sell out, que podem equilibrar uma eventual falta de componentes”, explica.
O analista da IDC Brasil atribui a alta também à iniciativa das entrantes, tanto na categoria de smartphones como em features phones, em especial nas regiões Norte e Nordeste. Em relação ao 1º trimestre de 2020, esse esforço representou um crescimento de 23% na categoria. O movimento, no entanto, é visto como um avanço “pontual”.
“Essa categoria vem perdendo força devido a migração para os smartphones e hoje representa apenas 6% do mercado. O cenário atual do país está passando por uma forte instabilidade financeira e em momentos como estes a categoria de feature phones ganha destaque pelos produtos de ticket médio bem inferior aos devices de smartphones”, afirma o analista.
Já na categoria smartphone, o destaque do 1º trimestre de 2021 foi a desaceleração do “mercado cinza”. Do total de smartphones vendidos de janeiro a março, 832.822 vieram do mercado cinza, 27% a menos em relação ao mesmo período do ano passado. É o segundo trimestre consecutivo de queda de dois dígitos no mercado não oficial.
“Apesar da queda, o volume de vendas ainda é muito expressivo e convertendo em receita o impacto é maior. Em 2021, a estimativa é que aproximadamente 4 milhões de celulares sejam vendidos no grey market, o que significa cerca de R$6 bilhões que o País deixa de arrecadar de impostos que poderiam ser investidos em saúde, educação etc.”, afirma o analista da IDC Brasil.
Em termos de preços, o primeiro trimestre de 2021 confirmou que os dispositivos low end, de até R$699, vêm perdendo força e transferindo a posição de aparelhos de entrada para os modelos que até então estavam na faixa intermediária, de R$700 a R$1999. Essa faixa corresponde a 80% do mercado, segundo a IDC.
Os modelos “super premium”, acima de R$2.999, também tiveram alta no período, de 53%. Segundo Meireles, isso mostra que o consumidor tem migrado para produtos mais robustos e que a indústria está acompanhando esse aquecimento e ofertando aparelhos nessa faixa. A variação cambial e a escassez de componentes, que têm encarecido celulares e smartphones de forma geral, também influem na decisão de compra de um aparelho melhor, que levará mais tempo para ser substituído.
Quanto à receita do mercado de celulares no 1º trimestre de 2021 foi de R$19.073.135.178, alta de 17% em relação ao 1º trimestre de 2020. Desse montante, R$18.947.560.507 refere-se à venda de smartphones e R$125.574.671 de feature phones.
Expectativa para o ano
Para 2021, a IDC Brasil mantém a projeção de crescimento de 0.7% para o mercado de smartphones e de queda de 2.0% para a operação de feature phones.
“Foi o que previmos no início do ano e é de fato o que os dados do primeiro trimestre indicam. Além da crise de insumos, que pode provocar a escassez de produtos nos próximos trimestres de 2021, consideramos a saída da fabricante LG que detinha uma participação de 10% no mercado”, diz Meireles.