Marga Hoek: ‘Brasil tem a oportunidade de se tornar uma potência verde’

Pensadora global em Negócios Sustentáveis abre segundo dia de IT Forum Praia do Forte 2024

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11:20 am - 22 de agosto de 2024
Marga Hoek. Imagem: PlayP

“É realmente impressionante perceber que nós dependemos do mundo e não que o mundo precisa de nós”. Foi com essa reflexão que Marga Hoek, pensadora global em Negócios Sustentáveis, Capital e Tecnologia, abriu o segundo dia do IT Forum Praia do Forte.

Durante a sua palestra, “Business for good: como acessar US$ 130 trilhões para um futuro sustentável”, Marga volta no tempo para explicar o mundo que vivemos hoje. Em uma grande linha do tempo, de 300 mil anos, as últimas revoluções industriais aconteceram há cerca de 300 anos.

“E todos nós sabemos que, nos últimos 100 anos, especialmente depois de 1970, as coisas mudaram muito. Isso não só nos torna nós mesmos, mas nos faz perceber que temos que viver em equilíbrio com o planeta, de forma justa e grata por todos que estão aqui. Mas, vocês acham que fazemos isso?”, provoca ela.

Segundo a executiva, ainda que estejamos em um caminho melhor do que esperado, é apenas uma estagnação do desastre climático. Ou seja, não está tão rápido, mas para que possamos ter um equilíbrio novamente, é necessário virar o jogo.

“A mudança climática ainda é subestimada. Ano passado, tivemos um aumento de temperatura de um grau e meio. Já estamos nesse ponto em que não só terá impacto social e ecológico, mas também um enorme impacto no PIB, de até 15%”, revela ela.

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Nesse contexto, Marga alerta que isso custará muito dinheiro – um investimento que poderia ser gasto em propostas melhores. “[E por que] isso importa para nós? O poder e o impacto no mundo mudaram para o capital, privado e empresarial. É aí que está o problema. Se eu te perguntar quais são as 100 maiores empresas pagando impostos ao Banco Mundial, quantas realmente são empresas e não países? São 69%. Isso é muito e por isso importa o que o negócio faz”, frisa ela.

Para tentar reverter a situação, empresas de todo o mundo se comprometem com ações em eventos como a COP26 – no qual as companhias disseram ter a meta de a US$ 130 trilhões para alcançar o Net Zero até 2026, mas tais ações não são discutidas em outras ocasiões. “O lado bom dessas COPs é que elas definem ambições. O lado ruim é que não há acompanhamento.”

Entretanto, segundo a executiva, capital não é exatamente o desafio dessas empresas para se tornarem mais sustentáveis. “E isso faz sentido, porque, na verdade, esse movimento de uma economia não sustentável para uma sustentável, tanto no sentido social, quanto financeiro e ecológico, é um bom negócio no final. Os desafios representam mercados onde há problemas a serem resolvidos. Os mercados se abrem porque, neste caso, precisamos que as cidades sejam resfriadas. Precisamos de novos tipos de transporte. Precisamos de todos os tipos de novas maneiras para a saúde e o bem-estar. Precisamos garantir que temos mais energia, que temos os tipos de materiais, que tudo o que usamos será reciclado, que o que construímos cria energia em vez de sugá-la”, revela ela.

Outro ponto de vista do todo é o sistema tributário. Porque, segundo ela, se o mercado colocar um bom preço no carbono e na tomada de recursos, os esforços de negócios sustentáveis melhorarão em 40%, segundo Marga. Ou seja, se está funcionando agora, funcionará ainda melhor no futuro ao mudar o sistema tributário.

“E esta é a sua oportunidade, Brasil. Esta é sua chance. Há tantas oportunidades para um país tão rico. 60% da Amazônia está neste país. Há uma enorme quantidade de biodiversidade, recursos, competências e talentos. Tudo está neste país”, comemora ela.

Para a especialista, “o Brasil tem a oportunidade de se tornar uma potência verde de acompanhamento para bioenergia, para recursos, materiais, indústria verde, agricultura e todos esses caminhos serão lucrativos. É importante, então, pensar em ser parte da solução. Precisamos de soluções radicais e inovadoras que resolvam o problema”, declara Marga.

Entretanto, para isso, é preciso entender que sustentabilidade é mais do que apenas fazer menos mal. É sobre fazer mais bem. É um projeto enorme e não sobre reduzir o problema. “É sobre resolver coisas e criar um impacto positivo em escala, e é disso que precisamos. E o interessante é que isso faz você pensar completamente diferente. Por exemplo, se construímos casas, elas não podem apenas usar menos energia, mas elas poderiam criar a energia renovável que precisam, para não usar usinas de energia. E elas podem, inclusive, criar mais energia do que usam”, exemplifica ela.

No final, devemos estar cientes do todo. Eu comecei dizendo que estamos usando 1,75 planetas e um e logo serão 2 planetas. Mas temos apenas um e precisamos fazer o que fazemos com apenas um planeta. Eu acho que você consegue. Mas ainda falta muito”, finaliza ela.

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Laura Martins

Editora do IT Forum. Jornalista com mais de dez anos de atuação na cobertura de tecnologia. É a quarta jornalista de tecnologia mais admirada no Brasil, pelo prêmio “Os +Admirados da Imprensa de Tecnologia 2022” e tem a experiência de contribuições para o The Verge.

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