IoT pode ser a killer app para o Blockchain

À medida que o número de sensores em veículos, maquinário fabril, edifícios e infraestrutura urbana cresce, as empresas buscam uma maneira segura e automatizada de habilitar uma rede mesh para processos transacionais. O Blockchain parece se encaixar sob medida nesse cenário.

Espera-se que o número total de sensores e dispositivos conectados à Internet das Coisas (IoT) suba de 21 bilhões este ano para 50 bilhões até 2022, de acordo com dados recentes da Juniper Research.

O crescimento maciço de dispositivos conectados à IoT nos próximos quatro anos, afirma a Juniper, é impulsionado principalmente por serviços de Edge Computinga – o processamento de dados na borda da rede, mais próximo do endpoint onde os sensores estão. Uma parcela substancial dos estimados 46 bilhões de dispositivos industriais e corporativos conectados em 2023 dependerá de Edge Computing, disse a Juniper, de modo que enfrentar os principais desafios em torno da padronização e da implementação será crucial.

Blockchain, a tecnologia de ledger distribuído (DLT) que também contém um componente de software de automação de negócios – conhecido como “contratos inteligentes” – poderia oferecer um método padronizado para acelerar a troca de dados e permitir processos entre dispositivos IoT removendo o intermediário.

Fundamentalmente, a ideia é que você não tem um agente central – ninguém aprovando e validando todas as transações. Em vez disso, você distribuiu nós que participam da validação de todas as transações na rede”, explica Mario Milicevic, membro do Institute of Electrical and Electronics Engineers (IEEE), uma autoridade líder em inovação tecnológica que possui mais de 500 mil membros.

Construindo uma melhor cadeia de suprimentos
Em um ambiente tradicional de cadeia de suprimentos, diz Milicevic, um servidor central autentica o movimento de mercadorias e materiais de um local para outro. E uma autoridade central pode decidir suspender determinados processos com base em regras pré-determinadas. Em uma rede IoT com Blockchain, os dispositivos de IoT conectados à ela podem autenticar transações e executar transações com base em regras predeterminadas – sem que um servidor central orquestre tudo.

A tecnologia Blockchain também pode melhorar a segurança por meio da interação descentralizada e da troca de dados, proporcionando segurança distribuída e escalável e confiança aos dispositivos, aplicativos e plataformas de IoT. A tecnologia usa algoritmos de hashing para criar um registro imutável de transações, e essas informações podem ser criptografadas e acessadas somente por meio de chaves públicas e privadas.

O software de contrato inteligente, código auto-executável que pode ser incorporado em cada chip IoT, pode determinar qual ação ocorre quando uma condição é atendida. Essas ações só seriam executadas quando uma transação de entrada fosse autenticada. “Então, você não precisa da agência central para dizer a cada nó quando fazer alguma coisa”, disse Milicevic.

Ledgers de Blockchain diminuem o tempo necessário para concluir a troca de informações do dispositivo IoT e o tempo de processamento.

“Pode ser em uma fábrica de automóveis. Assim que uma determinada peça chega, ela comunica sua chegada a outros nós da rede. E esse novo nó seria autorizado pelos demais a começar a fazer o seu trabalho “, disse Milicevic.

O aumento da Edge Computing é fundamental para ampliar as implementações de IoT, devido à redução dos requisitos de largura de banda, tempos de resposta de aplicativos mais rápidos e melhorias na segurança de dados, de acordo com a pesquisa da Juniper.

Os especialistas de Blockchain do IEEE acreditam que quando Blockchain e IoT são combinados, eles podem transformar indústrias verticais.

Embora as empresas de serviços financeiros e seguradoras estejam atualmente na vanguarda do desenvolvimento e implantação de Blockchain, os setores de transporte, governo e serviços públicos estão se engajando mais devido ao grande foco nas oportunidades de eficiência de processos, cadeia de suprimentos e logística , disse David Furlonger, vice-presidente da Gartner.

Por exemplo, os fármacos são obrigados por lei a serem transportados e armazenados em condições de temperatura controlada, e os dados sobre esse processo são necessários para a conformidade regulatória. O processo de rastreamento de remessas de drogas, no entanto, é altamente fragmentado. Muitas empresas farmacêuticas pagam aos agregadores da cadeia de fornecimento para coletar os dados ao longo da jornada para atender aos padrões regulatórios.

No ano passado, a SAP fez uma parceria com a IBM para demonstrar como a IoT e o blockchain podem automatizar uma cadeia de suprimentos farmacêutica para fins de rastreamento e relatórios. A SAP combinou sua plataforma de software Leonardo IoT  com o serviço Blockchain na nuvem da IBM para criar um modelo de funcionamento de um sistema que pudesse rastrear e gerenciar cadeias de suprimento farmacêuticas usando regras de contratos inteligentes.

Novos usos para Blockchain continuarão a crescer por causa da capacidade do DLT de fornecer novas formas de segurança, de acordo com a plataforma de análises B2B G2 Crowd .

“A segurança da informação e a integridade corporativa deram um golpe após eventos como a catástrofe da Equifax, e as empresas estão investindo em blockchain como precaução”, disse G2 Crowd em um relatório.

Blockchain permite acesso seguro aos sensores IoT
Por exemplo, o provedor de tecnologia de rede sem fio ABB Wireless adotou o Blockchain como um método para fornecer serviços de segurança descentralizados para sistemas industriais em setores como serviços públicos, petróleo e gás e transporte.

A segurança cibernética para IoT está se tornando mais relevante à medida que as indústrias se transformam na era dos sistemas “inteligentes”, usando minúsculos dispositivos eletrônicos para se comunicar e controlar tudo, desde a construção de HVACs até as remessas internacionais de cargas.

A ABB Wireless está usando uma plataforma Blockchain desenvolvida pela Xage, uma startup que foi oficialmente lançada no início deste mês.

A ABB Wireless usou o aplicativo de segurança da Xage em execução em gateways periféricos dentro de vários componentes nas subestações da concessionária de energia. A rede em malha permite acesso remoto seguro a dispositivos IoT para controlar as subestações, permitindo tudo, desde a visualização de dados de manutenção até o poder de reencaminhamento.

Em um sistema com milhares ou dezenas de milhares de nós de IoT, a possibilidade de hackear a rede é, na melhor das hipóteses, remota.

“Se você adicionar mais um milhão de medidores inteligentes a uma rede sem fio, acaba dificultando a invasão., enquanto em uma rede tradicional, quanto mais unidades você adicionar, maior será a exposição ao hacking”, disse Duncan Greatwood, CEO da Xage.

O aplicativo Blockchain contém uma tabela criptografada e imutável de credenciais de segurança, que permite que os profissionais de campo se conectem a um dispositivo – mesmo se a subestação for desconectada do data center central de uma concessionária devido a um acidente, como um incêndio.

“Todo mundo está morrendo de medo de que alguém consiga o controle da rede”, disse Paul Gordon, vice-presidente de engenharia e operações da ABB Wireless. “Isso fornece uma solução de forma escalonável, para que a segurança não se torne um fardo enorme. Ela permite uma solução mais escalável, atendendo às necessidades de um ambiente altamente seguro”.

Combinar a imutabilidade de um livro-razão distribuído com criptografia significa que quanto mais nós finais forem adicionados, mais segura será a rede, ao contrário dos sistemas de bancos de dados relacionais tradicionais que possuem um único ponto de acesso. Os dispositivos Blockchain-on-IoT são mais seguros porque um invasor cibernético precisaria invadir a maioria dos nós para obter acesso controlável a um sistema.

CIOs permanecem cautelosos
O Blockchain em si ainda é uma tecnologia muito pouco estudada. Em um banco de dados IEEE de 40 milhões de trabalhos de pesquisa, apenas 480 contêm o termo “blockchain”, disse Milicevic, engenheiro de sistemas de comunicação da MaxLinear , um fornecedor de produtos de semicondutores de banda larga e rede de alto desempenho.

Muitos dos artigos de alto nível do banco de dados do IEEE estão focados em possíveis aplicações, com muitos deles mencionando redes de IoT e como um casamento com Blockchain poderia melhorar as cadeias de suprimentos. Há, no entanto, “muito poucos exemplos” de redes blockchain já implantadas. Esse tipo de informação poderia fornecer às empresas dados sobre o número de nós, o consumo de energia e a eficiência de uma rede de IoT antes e depois de o blockchain ser implantado. Também ofereceria exemplos de falhas de projeto, disse Milcevic.

“Não entendemos o custo ou os problemas de segurança, como o que aconteceria se nós invasores pudessem ultrapassar a rede. Hoje, você ainda tem uma autoridade centralizada que pode desligar a rede”, disse Milcevic. “Na rede descentralizada não existe uma autoridade central. Ainda estou para ver um estudo duro sobre isso. Acho que todo mundo está esperando para ver o que todo mundo faz. Esse é o desafio. Ninguém realmente sabe o que todo mundo está fazendo. Quando não há autoridade central e apenas uma rede de malha de nós automatizados, é assustador”, disse Milicevic.

Por exemplo, um fabricante de sensores IoT poderia colocar backdoors de segurança no software do dispositivo que poderiam ser ativados com um cavalo de tróia ou com um vírus. “Na verdade, alguém pode ter me pago como funcionário dessa empresa para instalar uma backdoor que me permita entrar em sua rede sem que você saiba”, disse Milcevic. “Se você é capaz de ter mais de 50% do poder de computação controlado em nós invasores, todo o histórico do Blockchain pode ser substituído com o que você quiser.”

Uma força de um livro-razão Blockchain, no entanto, é que ele não pode ser sobregravado; é uma tecnologia de gravação única e de muitos anexos. Assim, o histórico de todas as transações na rede peer-to-peer permanece independente de qualquer invasão.

A falta de exemplos reais de implantações de Blockchain é uma das razões pelas quais os executivos C-level são tão cautelosos em adotar a tecnologia.

Uma recente pesquisa do Gartner com CIOs destacou essa tendência. Apenas 1% dos CIOs indicaram qualquer tipo de adoção Blockchain dentro de suas organizações, e apenas 8% disseram que estavam no planejamento de curto prazo ou experimentação ativa com Blockchain, de acordo com o 2018 CIO Survey do Gartner .

“O Gartner CIO Survey deste ano fornece evidências factuais sobre o estado massivamente empolgado de adoção e implantação de Blockchain”, disse Furlonger. “É fundamental entender o que é Blockchain e o que é capaz hoje, comparado a como transformar empresas, indústrias e sociedade amanhã.”