Identificação sem contato cresce na pandemia e impulsiona novos negócios

Pandemia elevou demanda por soluções de reconhecimento facial, tornando-as mais acessíveis para empresas de médio e pequeno porte

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9:00 am - 16 de dezembro de 2020
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O surgimento da Covid-19 trouxe para todos a necessidade de diminuir o uso de equipamentos que necessitem de contato para o funcionamento, desde caixas eletrônicos às catracas de acesso aos prédios comerciais. Dentro deste contexto, a demanda por soluções que permitam a identificação sem contato — de identificação facial a chaves eletrônicas — cresceu de forma exponencial ao longo do ano. 

Enquanto a receita de dispositivos que usam biometria deve cair 22% neste ano (perda de US$ 1,18 bilhão), de acordo com a ABI Research, o mercado soluções deste setor tem projeção de fechar 2021 com ganhos de US$ 30 bilhões e expectativas de alcançar US$ 40 bilhões até 2025. 

O momento positivo do setor também se replica no Brasil: projeções da Associação das Empresas de Tecnologia em Identificação Digital (Abrid) estimam que o setor movimentará cerca de US$ 1 bilhão até o final deste ano. 

Um fator positivo gerado pela pandemia é que, por conta da alta demanda, as tecnologias que utilizam reconhecimento facial ou mesmo identificação sem contato ficaram mais baratas, tornando seu uso acessível para empresas de médio e pequeno porte. 

As soluções de reconhecimento facial também mais sofisticadas. “Se você pegar o reconhecimento facial de um ano atrás verá que não é o custo que reduziu, mas a qualidade que melhorou, pontua Pedro Bicudo, analista de estudos da ISG, que recentemente com o IT Forum em uma reportagem especial sobre tecnologias emergentes (como reconhecimento facial) para o podcast Entre Tech. 

E como esse momento está sendo vivido por empresas brasileiras que atuam no mercado de identificação digital? Conversamos com algumas dessas companhias e, abaixo, apresentamos o panorama de negócio de cada uma delas. 

Cyberlabs foi de uma “portaria do futuro” a um novo modelo de negócio 

CyberLabs Felipe Vignoli ITF

Fundada em 2017, a carioca Cyberlabs é uma companhia focada em desenvolver soluções que envolvam inteligência artificial e visão computacional. Mas a aplicação desses recursos dentro do mercado de reconhecimento facial aconteceu de forma não pensada pela companhia. 

“A entrada na Cyberlabs sempre foi mediante reconhecimento social, com um aplicativo que funcionava localmente. Era o nosso controle de ponto e todo o mundo que ia ao nosso escritório recebia um convite e entrava com o reconhecimento facial”, explica Felipe Vignoli, sócio diretor da companhia. “A resposta das pessoas era estonteante, ao estilo ‘Caramba, eu quero isso no meu escritório agora!’ E a gente começou a ver que, bom, precisávamos produtizar isso. 

Com base nisso, a empresa tirou seu aplicativo da borda (edgelevando-o à nuvem, e começou a trabalhar nas medidas de privacidade, pensando na GPDR, e em um modelo proprietário de reconhecimento facial, com base no contexto brasileiro. Nós treinamos o nosso modelo mais de dezesseis milhões de faces brasileiras, né, pra reduzir esse bias [viés] racial. Hoje a gente bate a performance dos maiores concorrentes de reconhecimento facial em comparativos de performance”. 

A produção e aperfeiçoamento desse modelo resultou no Key App, aplicativo que utiliza a tecnologia para escanear faces e autorizar (ou não) a entrada em ambientes e também medir a temperatura corporal, pensando em tempos de pandemia, além de possuir integração com smartphones para cadastrar rostos e liberar acessos via QR code. Lançado efetivamente em abril, a solução conta com aproximadamente sete mil usuários. 

A Cyberlabs também desenvolveu o Insight Now, plataforma que utiliza câmeras para monitorar transeuntes. Apesar de ter ficado conhecida ao ser utilizada pela Prefeitura do Rio de Janeiro para medir o nível de circulação dos cidadãos, a solução também conta com clientes corporativos. 

“[A plataforma] estava rodando em uma das maiores redes de academia do Brasil, para fazer a comparação da frequência e performance das aulas de cada unidade”, afirma Vignoli, explicando que esse serviço, das duas mil câmeras que a plataforma tinha no início do ano, o número passou para cinco mil em outubro. 

Em agosto, a companhia recebeu um aporte de US$ 5 milhões (cerca de R$ 28 milhões) em rodada liderada pela Redpoint eventures. Além de implementar novas funções no Key App e Insight Now, a companhia planeja investir em outras formas de reconhecimento de identidade como sintetização de voz.  Nós estamos focando neste tipo de tecnologia para também fornecer acessibilidade e democratização. Por exemplo, criando conteúdo para pessoas com alguma deficiência”.  

Unico quer que você deixe todos os documentos em casa e passe a usar apenas seu rosto 

Identificação digital cresce na pandemia e impulsiona desenvolvimento de novas tecnologias

Outra IDTech que também teve seus negócios transformados durante a pandemia foi a Unico, antiga Acesso Digital. No final de setembro, a companhia recebeu um aporte de R$ 580 milhões dos fundos de investimento General Atlantic e SoftBank para expansão do serviço e clientes. Mas se alguém tivesse, em março, adiantado essa notícia ao CEO e fundador Diego Martins, ele teria duvidado da veracidade. 

“Veio a pandemia e a gente entrou numa fase super pessimista, achando que os nossos planos iam piorar brutalmente. Mas acabou acontecendo ao contrário: ela acelerou muito mais [o negócio] do que os nossos planos otimistas no início do ano. E foi isso, inclusive, que acabou chamando a atenção desses fundos globais”, relembra.  

Atualmente, a companhia conta com dois produtos principais: o primeiro é o sistema de autenticação de identidade, utilizado para funções que vão do pagamento por face a verificação de prova de vida e análise para concessão de crédito. Falando sobre crédito, Martins explica que a pandemia acelerou de forma bem significativa muitas negociações e contratação do serviço por grandes bancos e fintechs, por conta da “explosão” de tentativas de fraude ocorridas especialmente entre março e maio.  

“Observamos um volume de uso do nosso produto de biometria facial quase que dobrando depois de dois, três meses que a pandemia começou, porque o mercado precisou se proteger mais rápido desse nível exponencial de fraude”, afirma o executivo, explicando que o tempo entre prospecção e fechamento de contrato para empresas de grande porte (público-alvo da único) também foi bastante otimizado: de quarenta e cinco dias, antes da pandemia, para uma média de dois dias. 

Outro serviço oferecido pela startup que também cresceu nos últimos meses foi o de admissão eletrônica de novos funcionários e assinatura eletrônica. “A gente criou um produto que a pessoa cria uma identidade no acesso de casa e, a partir dessa identidade, compartilhamos os dados com a autorização dela pra empresa contratante”, afirma o CEO, comentando que a pandemia também foi importante para derrubar um certo receio que existia nos escritórios para a validação de assinaturas digitais 

“Aquele paradigma sobre a validade ou não de documentos eletrônicos caiu por terra e as empresas começaram a adotar assinatura digital pra tudo, inclusive para processos de desligamento. As empresas começaram a testar e viram que a Caixa Econômica Federal estava aceitando e, depois, acabou até criando jurisprudência legal para que a assinatura pudesse ser usada em qualquer processo, não só em determinados setores.” 

Em 2019, o serviço de assinatura digital da único tinha, em média, cinco mil pessoas assinando documentos dentro da plataforma. Em outubro, esse número já estava em quinhentas mil pessoas, aumento de mais de cem vezes do número anterior. 

Além de manter as ofertas atuais, a companhia espera utilizar parte do valor levantado neste ano para entrar no mundo das transações, validando a identidade de pessoas em processos como compras em lojas virtuais e, no longo prazo, implementar o uso de face para qualquer tipo de atividade da abertura de um crediário ao check-in inicial antes de uma consulta médica. 

Acreditamos que biometria facial vai ser a grande chave de acesso pra qualquer coisa, simplificando a vida das pessoas e tornando a vida mais segura, pra que ninguém se passe por você em nenhuma dessas atividades que você tem que se identificar no dia a dia. 

 

Ronda Senior oferece mais independência ao cliente, sem abrir mão na qualidade   

Identificação sem contato cresce na pandemia e impulsiona novos negócios

Companhia especializada no fornecimento de software de gestão e performance, a Senior Sistemas possui um produto chamado Ronda Senior, que faz a gestão completa de acesso e segurança de empresas. Dentre outros recursos, a plataforma implementou no início do terceiro trimestre recursos de reconhecimento fácial, como forma de garantir o controle de fluxo de pessoas que passam pelas empresas que possuem sua solução. 

Fabio Nikel, Head de Produto de Gestão de Acesso e Segurança da companhia, reforça o panorama apresentado no início desta reportagem, de que o uso de soluções de identificação à distância foi possível por causa do seu uso massivo e, consequentemente, barateamento. 

O reconhecimento facial já existia, só que era muito caro e muito ineficiente. A indústria mundial foi forçada a se modernizar e, com isso, a tecnologia evoluiu muito e ficou muito mais acessívelEram uma tecnologia que ficavam na ficção ou em grandes corporações podiam pagar milhões por aquilo.  Com essa nova realidade, a gente consegue ter isso a custos muito mais acessíveis disponíveis para qualquer empresa. 

Nikel afirma que, de acordo com números da indústria, o mercado sinaliza um aumento de 40% de uso de tecnologias como reconhecimento facial e QR code, sendo que esse aumento de uso se traduz não só em softwares mais sofisticados, mas também uma gama maior de equipamentos compatíveis com suas funcionalidades. 

“Inicialmente, nosso cliente tinha apenas a opção A pra analisar, com seus prós e contras. Recentemente, também surgiu a opção B, que permitia realizar uma comparação entre A e B. Agora, também temos a opção C. Estamos percebe uma liberdade boa no mercado, na qual é possível escolher um equipamento por questões que vão do design a, por exemplo, consumo de energia elétrica”, aponta Nikel.

“E o mais importante de tudo é que o cliente o nosso cliente pode se sentir confortável de que opção A, como a B e a C vai conversar nativamente com o sistema […] Ele adquire a solução que você quiser em relação ao hardware e a gente assegura que ela vai funcionar.

 

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