Falta de estrutura impede América Latina de lucrar com produção de lítio

Região abriga 70% das reservas do metal, mas não consegue ‘refiná-lo’ pela ausência de incentivos para fomento de comércio e construção de fábricas

Author Photo
3:00 pm - 17 de outubro de 2019

Uma das principais notícias da semana passada foi a revelação dos vencedores do Nobel de Química: o trio de cientistas que, cada um ao seu modo, contribuiu para a criação e popularização das baterias feitas com íons de lítio.

E não é para menos: usadas para baterias de objetos que vão desde smartphones a carros elétricos, as baterias de lítio ganharam destaque ao longo dos anos pelo fato de serem compactas, terem longa duração de recarga e grande vida útil. A tendência é que, com a expansão do uso de veículos verdes, o uso do metal aumente.

E uma informação que muita gente não sabe é que a América Latina é a região responsável pela maior parte do lítio que existe no mundo: 70% da matéria-prima usada na produção de baterias é extraída da Argentina, Bolívia e Chile.

Desses países, apenas o Chile e Argentina possuem fábricas que transforma o material no produto de alto valor. E, mesmo assim, ficam bem atrás da Austrália, país que ganha tanto com a extração de reservas como com a produção de baterias e outros usos que não existem nas fábricas latino-americanas.

E a situação não tende a mudar no curto e médio prazo: até 2025, não há previsão de que nenhuma fábrica que produza células de lítio seja construída na região. É uma perda significativa de oportunidade: o lítio vale muito mais quando sai de fábrica em formato de bateria, então ele poderia ser uma fonte significativa de renda para qualquer país.

 

Escassez de incentivos é principal dificuldade

Para entender como as iniciativas direcionadas ao fomento do lítio são muito instáveis, vale acompanhar o exemplo do Chile: mesmo sendo o segundo maior produtor de lítio do mundo, o governo cancelou em junho projeto de construção para uma fábrica de células por causa da queda dos preços do lítio diminuiu os incentivos governamentais sobre o metal. Enquanto isso, uma empresa local que monta baterias usando componentes do exterior está lutando para obter células de lítio para apoiar suas vendas dentro do país

Uma parceria similar ocorreu na Argentina, terceiro maior produtos de lítio, e foi abandonada por conta da crise interna vivida pelo país

Já na Bolívia, país no qual a extração de lítio é controlada pelo governo, o problema é burocrático: a Industrias Quantum Motors SA iniciou as vendas do primeiro carro já construído no país, um veículo elétrico que usa bateria de lítio. O problema: nenhum comprador pode dirigir o carro em nenhuma rodovia do país, por conta de regulações internas que não foram vistas anteriormente

Você deve estar se perguntando “E o Brasil?”. Apesar de não estarmos no Topo 3 de produtores do metal, o país tem destaque na região e a proximidade com Chile e Argentina poderia servir como atrativo para construção de fábricas.

Acontece é que quase não há subsídios para energias renováveis e, como os impostos de importação adicionam cerca de 65% ao custo das baterias, muitos países preferem comprar os componentes no exterior e realizar a montagem aqui, o que faz com que o país perca negócios.

A situação pode melhorar com a expansão de uso dos carros elétricos ou mesmo com um maior uso de equipamentos de energia solar e eólica (que também utilizam lítio). Mas, para quem acompanha esse mercado, esse momento ainda vai demorar para acontecer.

*Com informações da Bloomberg  

Newsletter de tecnologia para você

Os melhores conteúdos do IT Forum na sua caixa de entrada.