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Exoesqueleto é maior crodwsourcing da história da neurociência, afirma cientista líder do projeto

Durante a Copa do Mundo de 2014, sediada no Brasil, o mundo conheceu Juliano Pinto, paratleta que depois de uma década na cadeira de rodas chutou uma bola na abertura do evento com a ajuda do exoesqueleto, estrutura metálica que dá sustentação ao corpo e reage a comandos do cérebro. O que poucos sabem é a trajetória que o cientista brasileiro Miguel Nicolelis, líder do projeto, e outros 155 profissionais de 25 países percorreram para tornar aquele momento possível.

“O exoesqueleto é maior crodwsourcing da história da neurociência”, sintetizou. O grupo tinha 18 meses para fazer uma pessoa com lesão medular andar por meio da estrutura e conseguiu. Um desafio para cientistas que geralmente não têm data marcada para finalizar uma pesquisa. “Queríamos mostrar que é possível avançar nessa área rapidamente e criar uma nova terapia para 25 milhões de pessoas no mundo que sofrem paralisia”, completou.

Nicolelis lembra que a ideia do projeto surgiu depois de diversos estudos com macacos. Há dois anos, o cientista disse que suas pesquisas identificaram que era possível primatas controlarem avatares por meio de sinais neurais.

Em quatro semanas, os macacos aprendem a usar recursos artificias, assim como se estivessem utilizando dedos de verdade. “Descobrimos a partir daí que a plasticidade cerebral vai ter impacto grande na nossa vida no futuro, aumentando o repertório de percepções dos humanos”, pontuou.

A construção e os testes do exoesqueleto batizado de Brasil Santos Dumont 1 foram realizados com base nesses preceitos. Oito paraplégicos participaram dos testes, incluindo Pinto, responsável pelo chute na Copa. Centenas de horas foram necessárias e, para evitar fraturas, houve a necessidade de reduzir a velocidade de caminhar do exoesqueleto em dez vezes.

Ainda que o acontecimento tenha tido pouco espaço na TV durante a abertura da Copa e seu tempo de exibição reduzido pela Fifa, Nicolelis afirma que não importou quantos segundos o chute passou na transmissão do evento. “O importante é que os pacientes paralisados sabem que há esperança”. Dezenove segundos foram suficientes para levar esperança para as pessoas, frisou.

Poucos antes daquele momento histórico, o cientista comentou que mais de 500 anônimos participantes da cerimônia de abertura fizeram um corredor e cantaram o Hino Nacional para incentivar os cientistas e o paratleta, que carregava no bolso o lenço que Santos Dumont usou quando contornou a Torre a Eiffel, 110 anos antes.

“Depois do chute Juliano disse: ‘eu senti a bola’ e que queria sentir o chão. É nisso que estamos trabalhando agora”, adiantou. O cientista relatou que depois da Copa, ele e seu grupo descobriram muitas coisas. Uma delas foi a evolução da sensação neurológica dos pacientes. Depois do treinamento e dos testes no exoesqueleto, uma das pacientes que somente tinha sensibilidade na medula T11 passou a ter a partir da T4. “São dois palmos a mais de sensibilidade no corpo”, explicou.

Sonhos possíveis
Durante apresentação no placo principal da Campus Party, feira de internet realizada em São Paulo, Nicolelis fez uma crítica às pessoas que acreditam que fazer ciência somente é plausível fora do Brasil.

“Diga para seus amigos que pensam que ser um geek profissional somente é viável nos Estados Unidos ou China que sonhos são, sim, possíveis aqui”, provocou. Prova disso, afirmou, é o Instituto Internacional de Neurociências de Natal.

Criado em 2005, o centro reúne pesquisadores da região e de outros locais, além de crianças cientistas. Segundo Nicolelis, o espaço será ampliado, ganhará novo prédio em um espaço de 14 mil metros quadrados, mais de 30 laboratórios e diversos pesquisadores do Brasil serão recrutados para liderar iniciativas em múltiplas áreas da neurociência.

Para o cientista, o País precisa deixar de acreditar ainda “nesses profetas que tentam diminuir o que é feito pelos brasileiros. Temos grandes cientistas e só porque nasceram aqui não diminui a capacidade intelectual de realizar sonhos”, alfinetou.

A virada dessa visão cética, segundo ele, somente vai acontecer por meio da educação. “Temos de ter cultura mais pró-ativa de querer resolver e não ficar reclamando de tudo. Tem de educar desde cedo as crianças e acreditar nelas. A resposta está na ingenuidade das crianças, não em provas. Precisamos de gente que inove e mude o mundo com suas loucuras”, observou.

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