O investimento na qualificação digital de trabalhadores pode adicionar pelo menos US$ 6,5 trilhões ao PIB global até 2030 e criar 5,3 milhões de empregos, segundo análise da PwC para o Fórum Econômico Mundial. Entretanto, a desigualdade do acesso à internet no Brasil e seus impactos na educação digital podem comprometer o futuro de novas gerações no contexto da transformação do mercado de trabalho.
Segundo pesquisa “O abismo digital no Brasil”, realizado pela PwC Brasil em parceria com o Instituto Locomotiva, apenas 20% da população brasileira têm acesso de qualidade à internet. O recurso é fundamental para a educação e o desenvolvimento profissional. Enquanto isso, 21% dos alunos matriculados nas redes municipais e estaduais de educação básica estão em escolas que sequer têm acesso à banda larga. Das classes D e E, 60% dos brasileiros estão desconectados.
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O abismo digital tem outros desdobramentos, alerta o estudo. Ele se relaciona ao aumento da informalidade no mercado de trabalho, redução da produtividade, atraso no desenvolvimento humano e profissional e redução no acesso a serviços públicos oferecidos cada vez mais por meios digitais.
Apesar de cada brasileiro possuir, em média, dois aparelhos celulares segundo pesquisa da FGV, para 58% da população o celular é a única via de acesso à internet. Telas reduzidas e a capacidade de cada aparelho limitam ainda mais o uso de recursos digitais para informação, aprendizado e utilização de serviços. Essa realidade, reforça o estudo, ameaça fechar as portas do mercado de trabalho para grande parte da população.
As classes C, D e E e a população negra, são as mais impactadas pela falta de qualidade no acesso à internet. Apenas menos de um terço da população pode ser considerada plenamente conectada (sobretudo brancos das classes A e B).
“O gap de acesso à internet que vimos neste estudo tende a perpetuar as desigualdades sociais que o Brasil sofre hoje. Vimos que o internauta brasileiro está muito longe do estereótipo de um perfil jovem de classe média plenamente conectado”, diz Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva. “O abismo digital tem rosto. Ele é negro, pobre e mais velho. Por isso, precisamos que políticas públicas sejam promovidas para mudar essa realidade e reduzir a desigualdade”, completa.
Entre as principais razões para a dificuldade de acesso à internet estão a baixa qualidade do sinal e o alto custo dos planos e dos equipamentos.
Com o avanço da inteligência artificial e da automação, funções tradicionais no mercado de trabalho estão sendo eliminadas ou substituídas em todo o mundo. Ocupações que representavam 15,4% da força de trabalho global em 2020 encolherão para 9% até 2025. Já a participação das novas profissões (como analistas de dados e especialistas em inteligência artificial) quase dobrará, passando de 7,8% para 13,5% da base total de empregados no mesmo período.
A pesquisa também ressalta a diferença entre o número de vagas a serem preenchidas e a dificuldade das empresas de encontrar profissionais qualificados. Entre os entrevistados, 76% afirmaram que, sem internet, é muito difícil se candidatar a uma vaga de emprego. Para 73% quem não sabe usar a internet não consegue uma boa colocação no mercado.
“No momento em que discutimos um futuro dominado por dados, automação e algoritmos e pelo trabalho remoto, que oportunidades estamos criando para milhões de cidadãos que não têm acesso às condições básicas para adquirir as competências digitais? Com esse estudo, procuramos tornar mais concretas e aprofundadas as informações sobre a desigualdade digital de que todos falam. Esperamos que a pesquisa incentive o debate sobre a inclusão digital no Brasil e ajude a fundamentar decisões de políticas públicas e iniciativas privadas que ampliem as oportunidades para os brasileiros em um ambiente cada vez mais digital”, afirma Marco Castro, sócio-presidente da PwC Brasil.
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