Estudante da UnB desenvolve aplicativo com apoio da Universidade de Harvard

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11:34 am - 10 de agosto de 2015
Estudante da UnB desenvolve aplicativo com apoio da Universidade de Harvard

Jéssica Behrens, 23 anos, teve uma ideia empreendedora que começou com um exercício de desapego. A estudante de comunicação decidiu se desfazer de um pertence por dia ao longo de um ano, seguindo uma sugestão encontrada na internet. A ideia era viver com o mínimo necessário. 

As dificuldades para pôr em prática essa filosofia de vida fizeram a estudante, que está prestes a se formar pela Universidade de Brasília (UnB), perceber um mercado a ser explorado e lançar uma empresa com apoio da Universidade de Harvard.
“Percebi que não conseguia encontrar gente de forma rápida para ficar com minhas coisas. E eram coisas legais, não podiam ir para o lixo. Aí percebi que não existia uma forma rápida e fácil de conectar minhas coisas às pessoas que estavam precisando delas. Um dia tive um insight. Pensei: e se existisse um Tinder para produtos?”, conta, referindo-se ao aplicativo de paquera on-line. No Tinder, o usuário visualiza fotos de outros interessados em se relacionar e seleciona potenciais parceiros. No Tradr, o aplicativo criado por Jéssica, as imagens são de produtos à venda.
A ideia começou a virar realidade quando ela comentou o assunto com um amigo. “Ele se formou em Harvard. Achou a ideia muito legal e me colocou em contato com pessoas que ele conhecia que desenvolviam startups. Duas pessoas largaram os projetos que estavam fazendo para participar desse. A gente passou por um processo seletivo e ele foi aceito no Laboratório de Inovação de Harvard”, recorda Jéssica, que viajou para os Estados Unidos. A universidade cedeu a infraestrutura, e o grupo conseguiu patrocínio de um pequeno investidor.
Segundo Jéssica, dois fatores foram determinantes para que a universidade norte-americana considerasse o projeto inovador e decidisse apoiá-lo. “Primeiro, porque a gente desenvolveu um algoritmo que, conforme a pessoa usa o aplicativo, registra as coisas que ela gosta e mostra cada vez mais produtos daquele tipo. Também porque consideraram que ele [o aplicativo] fomenta a economia colaborativa. É uma forma de conectar as pessoas, ver o que alguém está vendendo a 50 metros de você. Isso cria um espírito de comunidade, estimula a comprar e vender localmente. E é bom para o meio ambiente, pois você está deixando de consumir coisas novas”, explica a estudante.
Jéssica ressalta que o aplicativo pode ser, também, uma plataforma para quem tem interesse em empreender. “A gente abre um espaço para a economia marginal, como pessoas que produzem artesanato e não têm espaço para loja física ou rios de dinheiro para gastar com marketing digital”, comenta. 
A estudante explica que cuidou da parte de design, arquitetura da informação, marketing e comunicação no desenvolvimento do aplicativo. Seus colegas de projeto ficaram responsáveis pela programação, pelas finanças e pelo desenvolvimento de um algoritmo. Atualmente, o app, que está disponível há cerca de um mês em versão beta, tem 2,2 mil usuários.
O Tradr é gratuito e está disponível para download apenas para o sistema iOS. De acordo com Jéssica, os desenvolvedores ainda estudam uma forma de monetização do aplicativo. A ideia é continuar não cobrando dos usuários comuns. 
“A gente estuda fornecer um serviço de inteligência de dados para quem quiser ter uma conta premium. Por exemplo, a pessoa está colocando à venda um sapato vermelho e outro branco e a gente consegue mostrar a ela estatísticas de qual dos dois tem mais aceitação”, exemplifica.
O professor do Departamento de Administração da UnB José Pinho, especialista em RH, marketing e estratégia empresarial, afirma que as possibilidades criadas por recursos como a internet e o surgimento das redes sociais ajudam o empreendedorismo, mas não são determinantes. “O desenvolvimento das comunicações ajuda porque abre muitas perspectivas. A pessoa vê as coisas acontecerem, percebe as necessidades. Mas isso não é determinante. Antes de haver internet, Thomas Jefferson tinha um monte de invenções. Cada uma, ele transformava em empresa. Simplesmente, agora, [a internet] estimula e evidencia as oportunidades”, ressalta.
Segundo Pinho, entre as características de quem tem perfil empreendedor estão capacidade de assumir riscos e pensamento a longo prazo. Para o professor, o ambiente no Brasil não é favorável para empreender.

“Vamos supor que você tem R$ 200 mil. Você vai entrar em um negócio, pagar 40% de imposto e sair com um lucro que vai representar mais ou menos 20% [do investimento], correndo risco? É preferível só aplicar e sair com todo o dinheiro e mais um pouco do outro lado. Aquele capitalismo de ter uma boa ideia, constituir empresa e crescer foi praticamente abolido pelo capitalismo financeiro”, comenta. Para ele, o maior problema para as empresas no País é a alta carga tributária

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