Estresse e falta de autonomia no trabalho podem levar à depressão e até à morte, diz estudo

Permitir que os funcionários definam suas próprias metas ou reduzir a jornada pode contribuir com a melhora da saúde e do trabalho

Author Photo
4:55 pm - 27 de maio de 2020

A reorganização da vida pessoal e profissional a partir da pandemia do novo coronavírus trouxe à tona discussões sobre a saúde do colaborador. Seja ele atuante nos serviços essenciais ou em casa, a adaptação da rotina de um “novo normal” somado ao medo iminente em uma pandemia e as consequência do isolamento social, sobrecarregam a carga emocional e psicológica dos trabalhadores. Diante disso, pesquisadores alertam que nossa saúde mental e mortalidade têm uma forte correlação com a nossa carga de trabalho, demandas de produção e nossa capacidade cognitiva de lidar com isso.

“Quando as demandas de trabalho são maiores do que o controle oferecido pelo trabalho ou a capacidade de um indivíduo de lidar com essas demandas, há uma deterioração de sua saúde mental e, consequentemente, uma maior probabilidade de morte”, disse Erik Gonzalez-Mulé, Professor Assistente de Comportamento Organizacional e Recursos Humanos na Kelley School, e principal autor do estudo “This Job Is (Literally) Killing Me: A Moderated-Mediated Model Linking Work Characteristics to Mortality“, da Escola de Administração de Empresas da Universidade de Indiana, em Kelley, Estados Unidos. O estudo aparece na edição atual do Journal of Applied Psychology. A pesquisa faz parte de um acompanhamento de estudos anteriores dos autores publicado em 2017.

“Examinamos como o controle do trabalho, ou a quantidade de autonomia que os funcionários têm no trabalho, e a capacidade cognitiva, ou a capacidade das pessoas de aprender e resolver problemas, influenciam como estressores do trabalho, como pressão do tempo ou carga de trabalho, afetam a saúde física e mental e, finalmente, a morte”, disse ele. “Descobrimos que os estressores do trabalho têm maior probabilidade de causar depressão e morte como resultado de empregos em que os trabalhadores têm pouco controle ou para pessoas com menor capacidade cognitiva”, complementa.

Por outro lado, Gonzalez-Mulé e sua co-autora, Bethany Cockburn, Professora Assistente de Administração da Northern Illinois University, descobriram que as demandas de emprego resultam em melhor saúde física e menor probabilidade de morte quando combinadas com maior controle das responsabilidades do trabalho.

“Acreditamos que isso ocorre porque o controle do trabalho e a capacidade cognitiva agem como recursos que ajudam as pessoas a lidar com os estressores do trabalho”, disse Gonzalez-Mulé. “O controle do trabalho permite que as pessoas definam seus próprios horários e priorizem o trabalho de uma maneira que as ajude a atingir suas metas de trabalho, enquanto as pessoas mais inteligentes são mais capazes de se adaptar às demandas de um trabalho estressante e descobrir maneiras de lidar com o estresse”, adiciona.

Os pesquisadores usaram dados de 3.148 residentes de Wisconsin que participaram da pesquisa longitudinal representativa nacionalmente, da Midlife, nos Estados Unidos. Da amostra, 211 participantes morreram durante o estudo de 20 anos.

“Os gerentes devem fornecer aos funcionários que trabalham em empregos exigentes mais controle e, nos casos em que é inviável fazê-lo, uma redução proporcional nas demandas. Por exemplo, permitir que os funcionários definam suas próprias metas ou decidam como realizar seu trabalho ou a redução da jornada de trabalho dos funcionários pode melhorar a saúde”, disse Gonzalez-Mulé. “As organizações devem selecionar pessoas com alta capacidade cognitiva para trabalhos exigentes. Ao fazer isso, elas se beneficiarão do aumento do desempenho no trabalho associado a funcionários mais inteligentes, enquanto mantêm uma força de trabalho mais saudável.

“A Covid-19 pode estar causando mais problemas de saúde mental, por isso é particularmente importante que o trabalho não agrave esses problemas”, disse Gonzalez-Mulé. “Isso inclui gerenciar e talvez reduzir as demandas dos funcionários, estar ciente da capacidade cognitiva deles para lidar com as demandas e fornecer autonomia aos funcionários são ainda mais importantes do que antes do início da pandemia”.

Newsletter de tecnologia para você

Os melhores conteúdos do IT Forum na sua caixa de entrada.