O departamento de recursos humanos precisou se adaptar com as entrevistas realizadas à distância. Ao orientarem sobre como fazer a seleção de talentos a partir de aplicativos de videoconferência, especialistas afirmavam que mesmo através das câmeras seria possível analisar a linguagem corporal do candidato.
Ainda assim, um grande desafio aos profissionais habituados a conversas em uma sala com xícaras de café entre elas. Uma artista digital chinesa baseada em Nova York propõe uma experiência interativa on-line que vai muito além da realidade interativa que desafiou muitos profissionais durante o isolamento social.
Carrie Sijia Wang, leva as pessoas a experimentar um mundo distópico em que uma entrevista de emprego é conduzida inteiramente por um gerente de contratação de Inteligência Artificial (IA), segundo reportagem do Business Insider. Em “Uma entrevista com Alex”, o IA entrevistador analisa seu rosto e voz enquanto você responde a uma série de quebra-cabeças e perguntas bizarras para determinar se você conseguiria o emprego.
Ao longo de cerca de 12 minutos, Alex analisa suas expressões faciais, padrões de fala e respostas a quebra-cabeças abstratos e perguntas intrusivas do tipo “como você se sente sobre o seu relacionamento com sua mãe?”.
Wang disse ao Business Insider que a experiência se baseia em um famoso estudo que tentou criar para gerar intimidade entre as pessoas, fazendo com que elas fizessem 36 perguntas pessoais umas às outras.
O objetivo de Alex: determinar se você é a pessoa certa para a corporação fictícia “Open Mind”, que diz ser “a maior, e em breve a única, empresa de uso geral do mundo”. Alex diz que o Open Mind valoriza jogo, conexão, abertura e positividade e está procurando “mini jogadores” para ganhar pequenos jogos que ajudam a empresa de alguma maneira opaca – com a qual você não precisa se preocupar porque está “totalmente protegido das consequências de suas ações”.
“É meio que tirar sarro da cultura corporativa, onde a ênfase do otimismo no nível da superfície é fundamental”, disse Wang ao Business Insider.
Wang contou que, embora o projeto tenha começado como “ficção especulativa” e a narrativa possa parecer um pouco exagerada, ela percebeu durante sua pesquisa que “a realidade da contratação e da administração de funcionários já é bastante estranha e absurda”, citando exemplos como as queixas dos motoristas do Uber sobre serem gerenciados por um algoritmo, diz a reportagem.
À medida que a IA assume mais aspectos do local de trabalho, ela também levanta a questão de como – e para quem – essas ferramentas funcionam. “A IA assume o viés de seus criadores. E geralmente funciona como uma caixa preta.
Como resultado, a IA de recursos humanos se manifesta como uma ferramenta de controle e opressão no local de trabalho”, escreveu Wang em um post de blog que acompanha o projeto, que foi financiado pela Mozilla Foundation como parte de seu Creative Media Awards, de acordo com o Business Insider.
A disputa teórica sobre o uso de IA para contratação se baseia, em suma, em dois pontos opostos. Defensores acreditam que a seleção a partir da IA erradicaria a discriminação no processo seletivo, enquanto críticos alertam que as ferramentas de contratação orientadas pela IA são tão tendenciosas quanto os humanos que as treinam.
Amazon, Target, Hilton, Pepsi e Ikea são apenas algumas das empresas que testaram ou usaram algoritmos para determinar quem contratar, e a lista está crescendo, segundo a reportagem, tanto em setores como em empregos de baixo salário a cargos de colarinho branco.
Wang disse ao Business Insider que precisa haver mais transparência e educação sobre IA e machine learning, porque a tecnologia pode influenciar a maneira como as pessoas agem sem que elas saibam disso.
Segundo ela, o próximo passo para o projeto – reuniões pessoais sendo permitidas novamente – é uma exposição pessoal com uma entrevista em grupo onde os participantes competem entre si diretamente e discutem a experiência posteriormente, diz a reportagem.
“Eu sei que é bastante complexo, mas ainda acho que as pessoas devem ser educadas sobre como a IA funciona e como ela pode ser facilmente usada como uma ferramenta de controle contra indivíduos”, disse ela.
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