Entrevista com IA? Artista desenvolve software que simula processo seletivo

Em uma experiência que parece ter saído de um episódio de Black Mirror, Carrie Wang desenvolveu um experimento para questionar possíveis vieses

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10:00 am - 23 de junho de 2020

O departamento de recursos humanos precisou se adaptar com as entrevistas realizadas à distância. Ao orientarem sobre como fazer a seleção de talentos a partir de aplicativos de videoconferência, especialistas afirmavam que mesmo através das câmeras seria possível analisar a linguagem corporal do candidato.  

Ainda assim, um grande desafio aos profissionais habituados a conversas em uma sala com xícaras de café entre elas. Uma artista digital chinesa baseada em Nova York propõe uma experiência interativa on-line que vai muito além da realidade interativa que desafiou muitos profissionais durante o isolamento social. 

Carrie Sijia Wang, leva as pessoas a experimentar um mundo distópico em que uma entrevista de emprego é conduzida inteiramente por um gerente de contratação de Inteligência Artificial (IA), segundo reportagem do Business Insider. Em “Uma entrevista com Alex”, o IA entrevistador analisa seu rosto e voz enquanto você responde a uma série de quebra-cabeças e perguntas bizarras para determinar se você conseguiria o emprego.  

Como funciona 

Ao longo de cerca de 12 minutos, Alex analisa suas expressões faciais, padrões de fala e respostas a quebra-cabeças abstratos e perguntas intrusivas do tipo “como você se sente sobre o seu relacionamento com sua mãe?”. 

Wang disse ao Business Insider que a experiência se baseia em um famoso estudo que tentou criar para gerar intimidade entre as pessoas, fazendo com que elas fizessem 36 perguntas pessoais umas às outras. 

O objetivo de Alex: determinar se você é a pessoa certa para a corporação fictícia “Open Mind”, que diz ser “a maior, e em breve a única, empresa de uso geral do mundo”. Alex diz que o Open Mind valoriza jogo, conexão, abertura e positividade e está procurando “mini jogadores” para ganhar pequenos jogos que ajudam a empresa de alguma maneira opaca – com a qual você não precisa se preocupar porque está “totalmente protegido das consequências de suas ações”. 

“É meio que tirar sarro da cultura corporativa, onde a ênfase do otimismo no nível da superfície é fundamental”, disse Wang ao Business Insider

Wang contou que, embora o projeto tenha começado como “ficção especulativa” e a narrativa possa parecer um pouco exagerada, ela percebeu durante sua pesquisa que “a realidade da contratação e da administração de funcionários já é bastante estranha e absurda”, citando exemplos como as queixas dos motoristas do Uber sobre serem gerenciados por um algoritmo, diz a reportagem. 

À medida que a IA assume mais aspectos do local de trabalho, ela também levanta a questão de como – e para quem – essas ferramentas funcionam. “A IA assume o viés de seus criadores. E geralmente funciona como uma caixa preta.  

Revendo o processo real e virtual 

Como resultado, a IA de recursos humanos se manifesta como uma ferramenta de controle e opressão no local de trabalho”, escreveu Wang em um post de blog que acompanha o projeto, que foi financiado pela Mozilla Foundation como parte de seu Creative Media Awards, de acordo com o Business Insider

A disputa teórica sobre o uso de IA para contratação se baseia, em suma, em dois pontos opostos. Defensores acreditam que a seleção a partir da IA erradicaria a discriminação no processo seletivo, enquanto críticos alertam que as ferramentas de contratação orientadas pela IA são tão tendenciosas quanto os humanos que as treinam. 

Amazon, Target, Hilton, Pepsi e Ikea são apenas algumas das empresas que testaram ou usaram algoritmos para determinar quem contratar, e a lista está crescendo, segundo a reportagem, tanto em setores como em empregos de baixo salário a cargos de colarinho branco. 

Wang disse ao Business Insider que precisa haver mais transparência e educação sobre IA e machine learning, porque a tecnologia pode influenciar a maneira como as pessoas agem sem que elas saibam disso.

Segundo ela, o próximo passo para o projeto – reuniões pessoais sendo permitidas novamente – é uma exposição pessoal com uma entrevista em grupo onde os participantes competem entre si diretamente e discutem a experiência posteriormente, diz a reportagem. 

“Eu sei que é bastante complexo, mas ainda acho que as pessoas devem ser educadas sobre como a IA funciona e como ela pode ser facilmente usada como uma ferramenta de controle contra indivíduos”, disse ela. 

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