Empresas que investem em inovação e tecnologia são mais valorizadas

Organizações que apostam em vantagens competitivas por meio de inovação e tecnologia receberão melhores avaliações do mercado

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2:58 pm - 27 de dezembro de 2021
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A transformação digital não é apenas um diferencial competitivo, mas uma necessidade. Investir em inovação e tecnologia faz parte da estratégia de todas as companhias. No entanto, o que as difere são a maturidade e o grau de envolvimento com o tema. Empresas que reconhecidamente investem em suas marcas e na construção de vantagens competitivas, por meio de inovação e aplicação competente de tecnologia em seus negócios, naturalmente receberão melhores avaliações do mercado, obtendo maior valorização.

Números atuais mostram que, em média, 90% do valor de mercado das 500 maiores empresas americanas (S&P 500) é um valor intangível. Empresas como Apple e Amazon, por exemplo, apresentam valor patrimonial (tangível) menor do que 5% de seu valor de mercado. Isso também ocorre com empresas listadas na bolsa brasileira, como Magazine Luiza e Locaweb (dados de abril de 2021).

Claro que há variações nesse peso de valor intangível e no valor total de mercado, em função de seus verticais de atuação, mas a média é essa. Mas o que são esses valores intangíveis? São fatores como vantagens competitivas, marcas, patentes, copyrights (direitos autorais), liderança, execução, cultura da empresa, retenção de talentos e, principalmente, capacidade de inovação e a utilização da tecnologia como diferencial competitivo.

Uma forma prática de calcular o valor intangível de empresas de capital aberto é:

1) Calcular o valor total de mercado da companhia, multiplicando o valor de cada ação dela multiplicada pelo número de ações;

2) Desse valor total, subtrai-se seu patrimônio líquido (que é a soma de todos os seus bens tangíveis: imóveis, plantas industriais, veículos, equipamentos e outros bens).

A figura a seguir mostra a evolução da proporção do valor intangível no valor de mercado das maiores empresas de capital aberto americanas nos últimos 45 anos.

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Os valores intangíveis, que antes representavam menos de 20% do valor total das companhias de capital aberto, hoje representam 90%. Entretanto, a fórmula econômica usada para precificar uma companhia de capital aberto não mudou nesse período. De forma bastante simplificada, o valor da ação de uma companhia continua sendo a expectativa de ganhos futuros trazida a valor presente.

Inovação e tecnologia

A Magazine Luiza é um caso reconhecido de uma empresa de capital aberto, que investe fortemente em inovação e tecnologia, e que vem naturalmente recebendo ótimas avaliações de mercado, obtendo maior aceleração do valor das suas ações.

A empresa investiu tão forte em inovação e tecnologia, com a criação do Luiza Labs e a adoção de ferramentas tecnológicas como machine learning, big data, cloud computing e mobile, criando um marketplace e fortalecendo seu e-commerce, que já é comum analistas de mercado tratarem a companhia como uma empresa de tecnologia e não mais como uma varejista.

Estratégico x operacional

É no valor intangível que são computadas as avaliações do mercado para o alinhamento estratégico entre os diversos elementos não palpáveis de uma companhia, como sua cultura, que se reflete no comportamento e comprometimento de seu time de colaboradores, e na sua capacidade de execução da estratégia, mas também na própria formulação estratégica. Se estratégia, em última análise, é fazer escolhas – segmentação de mercado, formas de atuação, definição de ofertas e assim por diante – a diferenciação das empresas se dá por meio dela.

Claro que os fatores de eficiência operacional são importantíssimos e definem a capacidade da empresa de executar suas estratégias. Mas eficiência operacional não é estratégia, como já formulou com clareza Michael Porter, um dos maiores ehttps://itforum.com.br/wp-content/uploads/2018/07/shutterstock_528397474.webpsos de estratégia empresarial. Entretanto, em muitas organizações, ainda parece existir dificuldade em diferenciar valor estratégico de valor operacional.

Por exemplo, canalizar os investimentos de tecnologia na implantação de um novo sistema de gestão (ERP) é operacional, afinal, permitirá um melhor registro e acompanhamento das atividades da empresa, mas não será diferencial da empresa em relação a seu mercado. Diferente da ação estratégica de desenvolver um novo aplicativo mobile para melhorar o relacionamento da empresa com seus clientes – e também aí o exemplo da Magazine Luiza se destaca, pois, além de possuir um aplicativo mobile premiado pela qualidade, sendo um dos líderes de download do mercado nacional com dezenas de milhões de usuários, a empresa já declarou em reportes para investidores que está trabalhando para transformá-lo em um “super app”, para concorrer com empresas como iFood e Rappi.

Posto de outra forma, é necessário haver clareza entre buscar economia e racionalização nas ações de eficiência operacional e fomentar aspectos de diferenciação, que tem valor estratégico.

Tratar atividades de inovação tecnológica como commodities, analisando apenas preço e não sua qualidade e relação custo X benefício apenas, cristaliza o modelo de “business as usual”, e o resultado disso certamente se reflete nas análises de valor da empresa pelos analistas de mercado.

Recentemente, o CEO de uma empresa de meios eletrônicos de pagamento me contou que o conselho de administração do grupo do qual essa empresa faz parte havia requisitado a ele dois orçamentos distintos para 2021: um para a empresa gerar fluxo de caixa positivo e outro para manter a estratégia em vigor de incrementar seu valor de mercado, aumentando seus investimentos em tecnologia, investimento em reforço da marca e aumento agressivo da carteira de novos clientes para reforçar seu posicionamento de mercado. A escolha unânime dos membros do conselho foi pela manutenção da estratégia de crescimento, dada a conclusão clara de que ela traria o melhor retorno econômico a médio prazo.

Sendo essa empresa – e o grupo ao qual ela pertence – de capital fechado, isto é, não tendo ações negociadas na bolsa, confesso que fiquei agradavelmente surpreso, pois isso reflete uma mudança de mentalidade muito positiva.

É perceptível que o mercado está mudando e que o sucesso de um negócio não é mais medido somente por seus bens palpáveis e seu patrimônio. Empresas que pensam no futuro e investem em novos modelos ganham mais importância e se valorizam. Inovação, tecnologia e investimentos na marca são os responsáveis pelo futuro promissor dos negócios.

* Francisco Barguil é fundador e CEO da OPUS Software

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