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Em breve, a supremacia dos carros conectados

Os automóveis se converteram, no último século, em um componente essencial da sociedade humana, além de serem motores de diferentes fases do desenvolvimento industrial. Originalmente concebidos como soluções de transporte, representam hoje muito mais: status, objetos de desejo, autorrealização e cada vez mais aparecem como vilões das poluídas megacidades.

Agora, conjuntamente com a eletrônica e a internet, duas estrelas das últimas décadas, os automóveis originaram um novo conceito que impacta nossas vidas e altera a distribuição de lucro de diferentes Indústrias, incluindo os próprios fabricantes de automóveis.

Uma enorme transformação, gerada digitalmente, atinge em cheio essa tradicional indústria. Os carros conectados representam mudanças potenciais em toda cadeia de valor de OEMs e outras indústrias (fornecedores automotivos, seguros, telecom, entretenimento, provedores de digital, manutenção etc).

Em breve, tudo o que você precisará fazer para antecipar a revisão antes de algum problema sério, encontrar o pronto-socorro mais próximo, escolher uma música, enviar mensagens ou fazer ligações telefônicas, é pedir, ele responderá ao seu comando de voz. Seu novo carro conectado, com mais recursos do que muitas aeronaves como Boeing, permitirá, ainda, selecionar velocidades e trajetos quando seu filho for dirigir e anunciar, com alertas e sinais, se algo está fora de suas configurações. E, o mais importante, sem que você precise tirar os olhos da estrada.

Somente no ano passado, foram registradas 2,6 mortes para cada 10 mil veículos no Brasil. O acidente surge como a principal causa de morte na faixa de 15 a 49 anos no Brasil e a principal entre jovens norte-americanos. O excesso de velocidade é um fator que contribui em cerca de um terço dessas ocorrências.

A Hyundai lançou um sistema que permite aos pais monitorar e definir restrições sobre a velocidade do carro, horário de funcionamento e destino. Será possível, também, capturar grandes volumes de dados por meio de sensores em todos sistemas e equipamentos (motor, pneus, luzes, ar-condicionado etc) para fins de otimização e possibilitar aos centros de diagnóstico a manutenção preventiva do carro antes mesmo que o motorista reconheça que há algo errado.

E em uma questão de tempo, veremos carros sem motoristas.

Carro conectado pode ser definido como um veículo que usa mecatrônica, telemática e tecnologias de inteligência artificial para interagir com o ambiente e proporcionar maior segurança, conforto, entretenimento e, sobretudo, uma experiência de vida conectada (internet das coisas e big data são elementos-chave nesse jogo).

Estudo desenvolvido pela Telefónica estima que cerca de 10% dos carros já têm algum grau de conectividade, mas a projeção aumenta para 90% em 2020. Cerca de 80% dos consumidores esperam que seus carros ofereçam, no futuro, o mesmo nível de experiência de conexão utilizado em casa, no trabalho ou em movimento a partir do seu celular. Além disso, segundo pesquisa da Autrader.com, com compradores de carro, 56% dos proprietários de veículos afirmaram que mudariam para uma marca diferente de veículo para obter os recursos digitais desejados, para aumentar a segurança e contar com sistemas de alertas preditivos e de navegação mais inteligentes.

A Jaguar Land Rover, por exemplo, introduziu o justDrive, que transforma aplicativos e serviços a partir do seu smartphone em uma experiência ativada por voz. Como resultado, em vez de o motorista sofrer para acessar informações diferentes, o justDrive pode perfeitamente buscar, em seus dispositivos, o que você procura, como um posto de gasolina, enviar um texto ou tocar uma música específica.

Tudo que você tem de fazer é falar com o seu automóvel. O sistema de infotainment (informação, que também inclui conteúdo de entretenimento, adicionada a veículos a fim de melhorar a experiência do seu condutor ou passageiros) já está disponível no Jaguar F-TYPE e nos Land Rovers, e estará em todos os veículos da empresa no próximo ano. Carros que não são de luxo começam a incorporar algumas características de conexão, como o novo modelo Ford KA no Brasil.

Como os motoristas irão pagar para ter conectividade e serviços? Usuários em diferentes países vão adotar maneiras diferentes. A maioria dos motoristas espanhóis prefere um pagamento único (49%), enquanto os da América, Alemanha e Reino Unido favoreceriam a conectividade básica com a opção de escolher serviços adicionais. Os brasileiros estão divididos entre o básico e o modelo completo de remuneração, sugerindo um grau de flexibilidade não visto em outros países.

Pesquisa da consultoria McKinsey estima que as receitas anuais globais de conectividade para automóveis irão aumentar seis vezes, de 30 bilhões de euros em 2014, para cerca de 180 bilhões de euros em 2020. As receitas de hardware embarcado para conectividade deverão ser a maior fonte de lucro em escala mundial. No entanto, a conectividade crescente também irá desencadear uma mudança no sentido de receitas recorrentes baseadas no uso de software e serviços nos quais os motoristas gastam tempo e atenção – como atualizações de navegação ou de streaming de mídia, sendo responsável por um quarto das receitas da indústria em 2020.

Quem vai capturar essa expansão? Essa é uma questão relevante quando se considera que o gasto durante o ciclo de vida do carro tem sido constante em euros devido à lenta diminuição dos preços e o lento deslocamento de recursos para o equipamento básico. Portanto, a nova fronteira de lucro para as montadoras está fortemente comprometida com o futuro dos carros conectados.

Fabricantes de peças e equipamentos para as montadoras também desejam participar desse novo mercado, assim como as empresas de seguros, fornecedores digitais (Google, Apple etc), e de Telecomunicações. A Telefónica anunciou acordo com a Tesla, fabricante de veículo elétrico, para fornecer conectividade para o Tesla Model S na Europa. A McKinsey propõe que os vencedores serão as empresas que influenciam os pontos de controle em três áreas: dentro do carro, conexão na nuvem e a nuvem de dados.

Duas tendências irão colocar mais pimenta nesse jogo mundial. A primeira é a propriedade do carro. A pesquisa da Telefónica mostra que, em média, 35% dos motoristas não esperam possuir seu carro até 2034. Em vez disso, eles vão usar opções alternativas, como serviços de compartilhamento de carro.

A segunda, e amplamente divulgado, é o carro sem motoristas.

Entre outros, a Volvo lançou o desafio: até 2020, nenhuma pessoa deveria ser morta ou gravemente ferida em um novo Volvo. A empresa diz acreditar que os carros de autocondução, bem como autônomos, são parte da resposta, como eles podem evitar colisões.

Carros conectados estão aqui para ficar e evoluir. A corrida para aproveitar essa oportunidade está aberta e diferentes indústrias reivindicam sua participação. As montadoras estão em posição privilegiada para capturar a maior fatia. Como vimos, elas são expostas a enormes riscos de disrupção também. Portanto, terão de criar novos modelos de negócios, processos produtivos avançados e desenvolver talento digital para manter o ritmo nesse novo paradigma.

Quem ganhará? Quem viver, verá!

*Federico Tagliani é vice-presidente do Grupo Assa

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