Dinamismo do mercado de tecnologia revoluciona papel do evangelista de TI

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1:48 pm - 19 de dezembro de 2016
Dinamismo do mercado de tecnologia revoluciona papel do evangelista de TI

Julio Faerman esteve em Quixadá, cidade de 80 mil habitantes no sertão do Ceará, há cerca de um mês, para conversar com crianças e adolescentes que começam a entender o que é computação. No município, foi inaugurado recentemente um curso com mais de 600 vagas em TI. Na semana seguinte, Faerman já estava em Las Vegas, nos EUA, onde a Amazon Web Services (AWS) realizou seu evento anual (re:Invent) para clientes e parceiros, que conta com a participação de 30 mil pessoas – a maioria de nível técnico avançado.

Faerman é evangelista de TI da AWS desde 2013. Ou melhor, responsável pela relação com desenvolvedores – forma que a empresa prefere nomear o cargo, que ganhou novas responsabilidades recentemente. Os dois “extremos” que Faerman esteve mostram o dinamismo dessa função diante da missão de educar diversos públicos sobre as soluções oferecidas pela empresa – neste caso, a AWS. “Esse é nosso papel de educação, que vai muito além da função comercial. A pessoa tem de observar que temos serviços muito fáceis de entender. Todo mundo consegue entender que você pode pagar US$ 5 e ter um computador na internet, em um servidor virtual. Mas há coisas mais abstratas, até mesmo para quem é do setor”, explica.

O termo Evangelista de TI foi popularizado por Guy Kawasaki, quando trabalhava na Apple, para definir sua missão de doutrinar a comunidade de desenvolvedoras sobre as vantagens da plataforma. A função é levar o conhecimento sobre as soluções da empresa para comunidades, seja em eventos do setor ou universidades, para públicos de todos os níveis de conhecimento. 

“Tenho a liberdade de frequentar qualquer local que tenha um grupo de pessoas ligadas à tecnologia, pequeno ou grande, seja um curso de cinco pessoas ou um congresso internacional. Às vezes a pessoa é técnica em big data e, quando falamos de mobile, ele pode não entender 100%. Nosso papel é levar essa mensagem para todos os púbicos”, conta Faerman.

É um papel extremamente técnico. Na estrutura de vendas, por exemplo, normalmente, há a função do vendedor e do arquiteto de soluções. O vendedor trabalha abrindo oportunidades e o arquiteto explorando tecnicamente qual a solução correta para o cenário. “Meu papel é mais parecido com o do arquiteto. Mas não tenho nenhum vínculo com a área de vendas, não tenho cota, não tenho meta.“

Faerman diz que não há atividades predefinidas. Varia de acordo com cada tipo de profissional. No caso da AWS, ele é o único profissional desse setor na América Latina e sua função é diferente de colegas de outros países ou até mesmo de outras empresas no Brasil. Jeff Barr foi o primeiro evangelista da AWS, nos EUA, e seu foco é principalmente em textos no blog da empresa, enquanto Faerman é adepto a presença em eventos do setor.

Leva e traz
Mais do que evangelizar/doutrinar, ou seja, levar a palavra para outra comunidade, o papel desse profissional ganha o sentido inverso – trazer o que tem sido falado lá fora para dentro da empresa. Afinal, as novidades tecnológicas surgem de todos os lados. “Mais importante do que levar essa mensagem é escutar o que está sendo feito, como as tecnologias estão sendo usadas para trazer isso de volta para os times de serviços. É por isso que não adotamos o termo evangelista, mas, sim, relação com desenvolvedores. É uma troca, em vez de apenas ir lá e pregar a palavra”, completa Faerman.

Isso mostra o processo de mudança do cargo, observada também por Jairo Okret, senior partner da consultoria Korn Ferry. Para o executivo, a velocidade da transformação e evolução tecnológica está mudando o caráter dessa função – e é preciso gerar resultados concretos para a companhia. “Empresas estão procurando algo diferente desse evangelista, alguém que vai fazer um trabalho mais do que levar a tecnologia ao mercado, entender necessidade e como a tecnologia pode alavancar. Encontrar e preencher essa necessidade”, comenta Okret.

Okret define a nova função como o “neo evangelista”, que deixa para trás o papel tradicional técnico e se direciona para um foco de negócios e resultados na velocidade das transformações digital. “Não é só Bits and Bytes”, brinca.

Por isso, o executivo afirma que apenas participação acadêmicas (como eventos) não são suficientes e não trazem os resultados concretos na velocidade que as empresas demandam. “Veja como a academia se aproximou das empresas na área de tecnologia. Geralmente formação técnica e migrou para negócios. Pessoa que não fala tanto a parte técnica, mas fala qual a diferença, onde está a vantagem, o que vai fazer, agora ou quando.”

Mercado
Na AWS, Faerman diz que há pelo menos o dobro de vagas abertas para evangelistas do que profissionais ocupando cargos nessa área. São vagas abertas há meses, no mundo todo. “É um papel que precisa ser extremamente competente tecnicamente, tem é preciso ter credibilidade na comunidade e ser capaz de conversar com ser humano.”

Mas é preciso muito critério. “Também não é interessante ser larga escala, porque temos infraestrutura comercial, outros porta-vozes, muita gente que representa a empresa. A gente tem um tanto que conseguimos atender. Poderíamos usar mais evangelista, mas tem funcionado bem assim.”

Na visão de Okret, quem vai se dar bem na profissão precisa entender tecnologia do ponto de vista técnico e pensar o que alguém vai fazer com isso. “Quais vantagens que a pessoa e a empresa terão?  É preciso pensar com a cabeça de quem vai adotar a tecnologia e qual será sua experiência”, complementa.

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