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Desequilíbrio entre demanda e oferta de mão de obra na área de dados

No meio empresarial, o período pandêmico trouxe mudanças expressivas, principalmente ao formato de trabalho adotado pelas companhias. Mesmo com o término do isolamento social cada vez mais próximo, considerando os avanços significativos da vacinação em massa, o home office é uma realidade que, certamente, permanecerá. Seja por meio do modelo híbrido ou 100% remoto, diversos ganhos puderam ser encontrados, como a otimização de tempo, locomoção e organização de tarefas diárias. Porém, este cenário apresenta vertentes problemáticas que devem ser discutidas.

A retenção de talentos espalhados por todas as partes do mundo se tornou mais fácil com o home office, levando em conta as operações que não apresentam a necessidade de encontros presenciais com os colaboradores. Entretanto, no segmento de Tecnologia da Informação (TI), a situação ainda é complexa, tendo em vista a falta de mão de obra, sobretudo ao fazer um recorte na área de dados.

Um relatório produzido pela Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom) apontou que, até 2024, o setor de TI demandará cerca de 420 mil profissionais. Por outro lado, a quantidade de formação de mão de obra anual ainda é baixa em comparação à essa demanda.

Leia também: Antifragilidade e IA: bússola para tempos imprevisíveis

Tendo em vista este contexto, outra complicação surgiu: profissionais estão conciliando mais de uma atividade remunerada sem que haja a comunicação prévia ao empregador.

Um, dois e até mesmo três empregos simultâneos

Com a consolidação do home office e a facilidade de trabalho que o modelo apresenta às pessoas, um empecilho vem sendo cada vez mais notado, consistindo nas múltiplas posições conquistas pelos contratados. Tornou-se uma prática relativamente comum encontrar profissionais de TI que aceitam mais de um emprego fixo na área de dados, exercendo a atividade remunerada em algumas empresas.

Embora não seja ilegal, a postura certamente não é ética, ainda mais quando não há a comunicação prévia com os empregadores. Em um país com um cenário do mercado de trabalho tão complexo, essa prática com certeza não é adequada, levando em consideração que há outras pessoas em busca de oportunidades ou até mesmo recolocação (aqui, ainda se tem o outro problema citado acima, sobre a escassez de mão de obra, o que torna muito mais difícil as contratações).

Essa adversidade se mostra ainda complicada ao notar que estes profissionais que adotam tal postura reconhecem o erro e, mesmo assim, escolhem seguir neste caminho. Para se ter uma ideia, há casos em que ao aceitar um, dois, ou até mesmo três empregos, é perceptível que a pessoa opta por não atualizar as redes sociais profissionais com o cargo atual, justamente para que os demais empregadores não descubram as atividades realizadas paralelamente.

A questão dos trabalhos simultâneos é algo recorrente e que tem acontecido com os profissionais contratados no regime de Pessoa Jurídica. Dessa forma, apesar de não apresentar as mesmas restrições de um contrato CLT, essas pessoas são geralmente contratadas para dedicação exclusiva, por prazos determinados.

Consequências deste ambiente de desequilíbrio

Analisando o panorama citado anteriormente, de alto desequilibro entre a demanda e oferta de mão de obra, principalmente na área de dados, somando, ainda, ao mal uso do home office, outra questão que deve ser debatida é a demanda de salários exorbitantes por parte dos contratados. Aqueles que possuem especialização em dados, entre outras áreas que estão em constante busca por verdadeiros especialistas, costumam pedir remunerações desconexas à realidade do mercado, muito acima do piso salarial.

Nesse sentido, vale relembrar, também, as dificuldades de empreender no Brasil, país em que as pequenas e médias empresas geram a grande maioria dos empregos (em fevereiro de 2021, segundo um levantamento do Sebrae baseado em dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, as PMEs conceberam 68,5% dos empregos criados no Brasil, cerca de 275 mil vagas).

Com a alta carga tributária, baixos incentivos financeiros e ambiente de grande burocracia, empreendedores podem sentir dificuldades ao se depararem com profissionais que pedem um salário muito acima do que é previsto pelo piso da profissão. Há casos em que a experiência categorizada como júnior exige salários de uma posição pleno e assim por diante.

Todo esse cenário cria um ambiente dificultoso para as empresas deslancharem os seus projetos de transformação.

Cenário prejudicial às empresas e pessoas

Para finalizar, é válido lembrar que a escassez no setor de TI é uma realidade antiga, mas que teve avanços significativos nos últimos meses, especialmente com a digitalização dos processos e a difusão da Transformação Digital. Os projetos de dados vêm se mostrando cada vez mais estratégicos para as empresas e, em muitos casos, indispensáveis para que resultados positivos sejam obtidos, impactando, também, na lucratividade.

O home office é extremamente funcional e benéfico, mas situações de empregabilidade em diversas companhias são prejudiciais tanto para o desenvolvimento do colaborador quanto ao crescimento empresarial.

*Marcos Palmeiro é fundador da DataStrategy

 

** Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da IT Mídia

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