Da arquitetura à saúde: como a impressão 3D moldará o futuro

Há quem diga que a revolução dessa tecnologia ainda não chegou. Mas novas aplicações têm surgido, assim como tecnologias que a tornam mais acessível

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10:03 am - 16 de julho de 2020

Depois de ganhar popularidade nos idos de 2010, as impressões 3D, que já acumulavam décadas de história àquela altura, vêm se consolidando. Há quem diga que a revolução dessa tecnologia ainda não chegou – e aí sou obrigado a concordar. Mas novas aplicações têm surgido, assim como novas tecnologias para torná-la mais acessível. Ou seja, revolucionando ou não o dia a dia, ela está acelerando a transformação de várias indústrias e isso é fascinante.

Muita gente insiste em associar impressão 3D àquela ‘impressorinha’ doméstica, que demora ‘horas’ para imprimir um chaveiro. Não é sobre isso a discussão que eu trago hoje. A aplicação desse conceito já está em outro nível. E aí eu tenho uma infinidade de histórias de sucesso para contar a vocês, tanto no campo da manufatura quanto no setor de AEC (Arquitetura, Engenharia & Construção); tanto para viabilizar novos produtos e materializar ideias quanto para criar produtos totalmente personalizados. Afinal, são essas boas histórias que nos permitem entender a transformação.

Você já pensou em imprimir uma casa? Parece algo saído do filme dos Jetsons, não é? Graças à impressão 3D, estamos quase lá. É claro que não em uma escala industrial ainda, longe disso. Nos Estados Unidos e na China, já existem empresas imprimindo estruturas residenciais. No Brasil, me chamou a atenção o caso de uma startup que está desenvolvendo uma impressora para produzir tanto construções complexas, como paredes para residências, por exemplo, quanto projetos menores, além de materiais apropriados para isso. Usando softwares específicos, os engenheiros dessa jovem construtech conseguirão não apenas criar projetos de edificações, mas também melhorar a qualidade dos produtos que já estão sendo impressos em 3D, em menor escala, nos equipamentos que operam no momento, até que a sua própria máquina seja criada. Atualmente, ela já está na terceira versão deste equipamento.

No campo da saúde, eu começaria destacando os projetos que surgiram nos últimos meses para a produção de equipamentos médicos, auxiliando os profissionais de saúde que estão no “front”, empenhados no combate à pandemia. Há desde válvulas de respiradores até máscaras de proteção, produzidas do zero ou restauradas, todas a partir da impressão 3D. Em maio acompanhamos uma iniciativa muito nobre de dois engenheiros que se basearam em um modelo de máscara produzido no Reino Unido para criar uma nova, com ajustes em aspectos como espessura, aumento do encosto da testa, ângulo de curvatura do acetato etc. Para realizar esse feito, os engenheiros usaram um software de projetos 3D que possibilita modelar o produto por meio da nuvem. As máscaras, que estão sendo entregues no Hospital São Paulo e no Instituto do Coração – Incor, são produzidas em cerca de 45 minutos, incluindo impressão e montagem, além de permitir a redução de 30% no material utilizado em cada unidade.

Ainda, não são poucas as histórias de como a impressão 3D está ajudando a confeccionar próteses ortopédicas. Nesse sentido, eu gostaria de citar um projeto liderado por pesquisadores, que têm trabalhado para democratizar o acesso às próteses para pessoas com deficiência Atualmente, uma prótese (seja ela de quadril, joelho ou de algum outro membro) que ofereça conforto a um paciente com mobilidade reduzida, dificilmente custará menos do que R$ 300 mil. Combinando tecnologias como modelagem 3D, realidade virtual e impressão 3D – que é o caso desse projeto – o custo pode ser reduzido para algo em torno de R$ 5 mil.

Um outro caso com esse mesmo espírito: na última Paralimpíada no Rio de Janeiro, a atleta alemã de paraciclismo Denise Schindler usou uma perna protética projetada e impressa em 3D para competir. Mais um exemplo de como essa tecnologia pode melhorar além da acessibilidade, a performance de próteses.

A impressão 3D permite criar uma infinidade de objetos, inclusive brinquedos inclusivos, algo que dificilmente você parou para pensar. Foi o que os jovens universitários fizeram: um brinquedo que traz elementos sensoriais e estimulam a criatividade para integrar crianças com deficiência visual. Nesse caso, foram utilizadas tanto a modelagem 3D quanto a manufatura aditiva.

Resumindo: aquela tecnologia que no início era utilizada pela indústria apenas para criar protótipos, maquetes de montagem e modelos de apresentação, agora torna possível viabilizar uma infinidade de coisas, de próteses médicas e dentárias personalizadas até peças automotivas e aeroespaciais complexas, a baixo custo e tempo recorde. Também conhecida como manufatura aditiva, a impressão 3D foi ganhando cada vez mais novos espaços e aplicações, salvando vidas e ajudando a economizar tempo e recursos financeiros. E mais: A produção via impressão 3D quase não gera resíduos, o que torna o processo MUITO mais sustentável.

A impressão 3D não é – nem pretende ser – uma substituta da mão de obra especializada. Antes disso, uma competência a ser agregada a esta. Ela vem avançando a passos largos, acelerando o ritmo das inovações em diversas áreas. Talvez a revolução já esteja acontecendo, talvez seja o início dessa virada. Seja como for, vamos continuar trabalhando para que ela molde cada vez mais o nosso futuro.

*Sylvio Mode é presidente da Autodesk Brasil

 

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