Crise dos semicondutores acelera investimentos em TI por empresas

Segundo Ricardo Emmerich, diretor da HPE no Brasil, empresas temem atrasos caso deixem para investir em 2022

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3:49 pm - 06 de dezembro de 2021
Ricardo Emmerich, HPE Foto: Alexandre Carvalho / Divulgação

Não há empresa de tecnologia – ou de qualquer setor – que não tenha sido (ou esteja sendo) afetada pela falta de semicondutores no mundo. E, diante do otimismo com a retomada econômica pós-pandêmica, os clientes da HPE estão acelerando investimentos para evitar que projetos sejam afetados por eventuais faltas de componentes, muito embora a fabricante assegure que a linha de montagem brasileira está abastecida.

É o que revela Ricardo Emmerich, diretor-gerente da HPE do Brasil, em entrevista exclusiva ao IT Forum. Segundo ele, a estrutura da empresa está preparada para atender a demanda brasileira, mas que a crise de componentes pode demorar a ser resolvida porque o tempo para construir fábricas de semicondutores é “muito extenso, um investimento muito alto”.

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Durante a entrevista, o executivo – que assumiu a operação brasileira da HPE há pouco mais de um ano após quase 30 como funcionário – também detalhou a estratégia da companhia no país, bastante centrada em edge computing e serviços. Desde 2019 a HPE busca se transformar para entregar todo o portfólio como serviço. Também falou de expectativas pós-leilão do 5G e as expectativas para o ano de 2022.

 

IT Forum: Você acabou de completar um ano à frente da HPE no Brasil. Que balanço você faz do período?

Ricardo Emmerich: Eu tenho mais de 30 anos de HPE. Eu não consigo nem dizer que é a mesma empresa. Eu trabalhei com equipamentos médicos, calculadoras, depois impressoras etc. Mas sempre fui muito mais ligado a essa parte computacional do mundo corporativo. Passei um tempo na região da América Latina. Voltei para ter foco no país em novembro [de 2020]. Confesso que para mim é um grande prazer, um grande orgulho, e esse ano foi muito bom. De forma geral para todas as empresas de tecnologia. Por mais que tenham tido impactos no primeiro momento, perto do primeiro isolamento, logo em seguida todas tiveram uma resposta muito boa do mercado. Até pela própria necessidade. Não foi diferente em 2021. Foi um ano de crescimento em vários aspectos, em especial serviços. Que é onde a empresa viu que poderíamos crescer. Em boa parte desses anos estive na área de serviços. Da segunda metade [de 2021] para cá, houve o desafio do shortage de componentes. Mesmo com isso temos conseguido executar compromissos com os clientes.

 

IT Forum: Aproveitando que você mencionou a crise dos componentes eletrônicos, o problema afetou a HPE no Brasil? Se sim, como vocês lidaram com isso?

Emmerich: Afetou todo mundo. Ninguém pode dizer que não foi afetado. Até pelo tempo de reação para estabelecer uma fábrica de chips, que é muito extenso, um investimento muito alto. A recuperação não é tão simples quanto se deve imaginar. Não estamos livres disso. Temos uma fábrica local conectada com linhas de suprimento fora do país. Dizemos que tivemos dois cenários claros. Quando não tínhamos os componentes no país e surge uma concorrência de todo o mercado. E o segundo momento de tranquilidade que é quando já temos os componentes com fábrica exclusiva para o mercado brasileiro. E nossa taxa de conversão [da HPE Brasil] é uma das mais altas da América Latina. Exatamente por essa capacidade de fabricação com foco exclusivo.

 

IT Forum: Ter uma estrutura só para atender o mercado brasileiro tornou a crise de componentes mais fácil de superar?

Emmerich: Quando se tem uma fábrica que atende múltiplos países, o planejamento tem que ser mais amplo. Até pela diversidade e variação dos países. No caso do Brasil, temos que gerenciar um histórico de demanda do país. Com isso conseguimos fazer um planeamento muito melhor, e na hora de alocar materiais de fora conseguimos ter uma precisão maior para cumprir prazos.

 

IT Forum: Você viu muitas mudanças na HPE ao longo dos anos. O próprio nome uma delas. Qual o cerne da estratégia da companhia atualmente, pensando particularmente no Brasil?

Emmerich: Se a gente olha a HPE desde o primeiro momento, ela sempre teve esse foco empresarial, apesar de em alguns momentos ser conhecida pelo que toca no consumidor final. Passamos de um momento em que fazíamos um atendimento de começo a fim para uma transformação alinhada à expectativa do cliente. Ele não quer mais um provedor que atenda fim a fim com soluções exclusivas, ele quer um conjunto de soluções mais apropriadas para a necessidade dele. Por isso essa evolução da HPE desmembrando algumas áreas. Primeiro a [separação da] área de impressoras e laptops da área empresarial. O segundo movimento foi desmembrar os prestadores de serviço. Também a camada de software. Essa mudança demonstra a capacidade de fazer desmembramento e atender o cliente de acordo com o que está disponível no mercado.

 

IT Forum: Você mencionou anteriormente que assumiu a HPE no Brasil com foco nas oportunidades em serviços. O que isso significa exatamente?

Emmerich: O primeiro ponto é que a HPE se posiciona como empresa da borda até a nuvem. O que é borda? A descrição que fazemos é “toda parte em que redefinimos a experiência do usuário”. Tem a ver com conectividade, segurança, rede por contexto. Eu faço com que a tecnologia perceba o contexto. Em uma fábrica é compreendido de uma forma, em um estádio outra. E vemos como mega tendência que a borda acabe sendo a grande geradora de dados, dos celulares, carros autônomos, até conjuntos de internet das coisas que vão acelerar com 5G. Temos a capacidade de fazer muita coisa na nuvem, sim, mas também temos de tomar decisões na borda sem latência. E quando falamos de nuvem, é habilitar essa experiência ao invés de concorrer com Amazon, Microsoft, Google. Consigo levar a nuvem para a casa do cliente, que consome nossa tecnologia por assinatura. E quando se toma a decisão de ir para a nuvem, qualquer empresa se pergunta como adaptar o legado. Mas o legado é exatamente onde não o cliente não queria investir, mas agora tem que adaptar e fazer caber na nuvem? E pior, sem os benefícios da nuvem? Quando faço essa abordagem de habilitar o conceito de nuvem com uma experiencia de provisionamento ao invés de investir em legado, esse conceito de levar opção também faz com que o cliente possa ver a diferenciação.

 

IT Forum: Aproveitando que você mencionou o 5G, cujas frequências foram finalmente leiloadas pela Agência Nacional de Telecomunicações, a Anatel. Qual a expectativa de negócios com o 5G?

Emmerich: Hoje temos um primeiro trabalho externo. Laboratórios com vários dos provedores [operadoras]. Não vou citar porque posso esquecer algum, mas os mais reconhecidos. Em ao menos duas camadas trabalhamos muito forte com eles. Uma computacional, de levar soluções de hardware e e conectividade para criar edge data centers. Assim como temos soluções de software, que trabalhamos com as operadoras para poder fornecer níveis de protocolos em plataforma aberta. E aí tem o segundo trabalho que temos feito com a Anatel, de Open RAN. Participamos desses fóruns para apresentar não só hardware, mas frameworks de desenvolvimento. Vemos isso como um dos negócios de maior crescimento. O 5G traz uma grande quebra de paradigmas, de sair de uma infraestrutura muito fechada, e agora temos várias camadas que vão gerar uma capacidade para que pequenas empresas comecem a tomar espaço.

 

IT Forum: E quais as expectativas da HPE para 2022 no Brasil?

Emmerich: A tecnologia vai seguir por muito tempo sendo uma área de investimento. Em 2020, próximo ao meio [do ano], tivemos um momento de grande instabilidade. As empresas ainda buscando onde iam fazer investimentos. E depois em um segundo momento houve um investimento alto e alta expectativa para 2021. A expectativa foi mais alta que os resultados da economia. Algumas coisas não se consolidaram na parte econômica. Houve investimentos muito grandes entre dezembro [de 2020] e fevereiro [de 2021]. No final do ciclo desse ano, a partir de agosto, começamos a ver uma retomada de investimentos. Isso se dá pelo próprio ciclo da tecnologia, que tem que ser embarcada para depois ser implementada. Temos altas expectativas para 2022 novamente, e uma aceleração de investimentos por causa da falta de componentes. Os clientes querem adiantar compras porque tem receio de como vai ficar. Isso demonstra um otimismo. E o 5G, o IoT, vai criar capacidade nos data centers de borda.

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