Crescimento da IA generativa gera implicações ambientais

Localização estratégica de data centers e o uso de energias renováveis são chave para solucionar equação da IA generativa

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11:50 am - 27 de junho de 2024
Da direita para a esquerda: Prasad Kalyanaraman, VP de Infraestrutura, AWS Neil Thompson, Diretor do projeto de pesquisa FutureTech do MIT. Foto: divulgação.

A IA generativa está no topo das intenções de investimentos das empresas. Segundo o estudo Antes da TI, a Estratégia 2024, do IT Forum Inteligência, apenas 8% dos CIOs usam a tecnologia em processos de negócios, gerando uma esteira gigantesca de implementação nos próximos meses.

Durante o AWS Summit, que acontece em Washington DC*, nos Estados Unidos, líderes do setor de tecnologia se reuniram para discutir o futuro da inteligência artificial e revelaram que o avanço da IA generativa é eminente, mas traz implicações ambientais. Com a necessidade de grande quantidade de energia para treinar modelos avançados, a localização estratégica de data centers e o uso de energias renováveis, portanto, tornam-se cruciais nessa jornada.

Prasad Kalyanaraman, vice-presidente de Infraestrutura da Amazon Web Services (AWS), explicou as três camadas fundamentais para a IA generativa: a de infraestrutura, a de frameworks e a de aplicação, e porque isso é relevante no contexto.

“A infraestrutura subjacente é essencial para executar as operações de IA. Começa com a identificação de containers importantes e data centers. Não se trata apenas de GPUs; é necessário muito mais em termos de rede e armazenamento para comunicação”, sinalizou Prasad. Ele enfatizou que os modelos de treinamento de IA demandam grandes clusters, com bilhões de parâmetros, para aprender e associar dados complexos.

Diante desse cenário, Sanjay Podder, líder global de Tecnologia, Sustentabilidade e Inovação da Accenture, trouxe à tona a questão da energia nos data centers, crucial para a sustentabilidade.

“Precisamos considerar a intensidade de carbono da eletricidade utilizada. Por exemplo, na América do Norte e no Canadá, onde os climas são mais frios, a eficácia do uso de energia (PUE) – métrica de eficiência padrão para o consumo energético em data centers – é melhor. Já em regiões mais quentes, como na Ásia, é necessária mais energia para resfriar os data centers”, explicou. Ele ressaltou, então, a importância de localizar data centers em áreas com maior uso de energias renováveis.

Neil Thompson, diretor do Projeto FutureTech do MIT, falou sobre a eficiência energética na execução de modelos de IA mencionando a necessidade de avaliar o custo energético antes de executar tarefas de inteligência artificial.

“Não precisamos leva tudo para um data center. Modelos menores que podem ser executados em dispositivos pessoais, como smartphones, são uma alternativa. Embora ainda haja consumo de energia para recarregar esses dispositivos, não é tão desproporcional quanto treinar modelos que exigem dezenas de milhares de GPUs funcionando por meses”, observou.

Thompson também destacou a corrida pela ampliação dos modelos de IA, que, apesar de aumentar significativamente o desempenho de times e empresas, levanta preocupações sobre o consumo de recursos, uma equação que ainda precisa ser resolvida.

IA generativa: eficiência energética vem à tona

Chris Walker, diretor de Sustentabilidade da AWS, trouxe à tona dados sobre a eficiência energética no Brasil. Segundo ele, os workloads executados na AWS no Brasil são até 4,1 vezes mais eficientes em termos de energia do que em instalações on-premises, reduzindo a pegada de carbono associada em até 99% quando otimizados. “No Brasil, vimos uma redução de 81% nas emissões de carbono e, uma vez otimizado com nossos chips AWS, essa redução chegou a 96%”, destacou.

Walker explicou que a AWS tem focado não apenas na eficiência energética de seus data centers, mas também na sustentabilidade em toda a cadeia de suprimentos. “Nossa maior alavanca de progresso futuro será trabalhar com nossa cadeia de suprimentos. Estamos dedicados a ajudar nossos fornecedores de semicondutores e de serviços a reduzir suas emissões de carbono ou a utilizar mais energia renovável”, afirmou.

Ele mencionou a importância da economia circular, enfatizando a reciclagem e a reutilização de equipamentos de data centers para evitar a criação de mais resíduos. “Estamos vendo mais equipamentos sendo descomissionados, e queremos garantir que estamos reciclando e reutilizando o máximo possível”, concluiu.

Importância dos semicondutores na cadeia

David Isaacs, vice-presidente de Assuntos Governamentais da Semiconductor Industry Association, acrescentou uma perspectiva sobre a diversificação da cadeia de suprimentos de semicondutores, fundamental para promover a otimização da IA generativa.

“Assim como um portfólio de investimentos deve ser diversificado, precisamos de uma cadeia de suprimentos diversificada para semicondutores. Atualmente, o mundo depende 92% dos chips produzidos em Taiwan e os 8% restantes da Coreia do Sul. Não é necessário ser um gênio geopolítico para reconhecer que isso é perigoso e um problema prestes a acontecer. Com os investimentos que estamos vendo sob o Chips Act, projetamos que os EUA alcançarão 20% da produção de chips de ponta até 2032. Isso é bom para os EUA e para o mundo”, explicou Isaacs.

Ele destacou a já conhecida corrida global para atrair esses investimentos. “Existem contrapartes ao Chips Act sendo implementadas em outros países. Os governos ao redor do mundo veem essa indústria com importância estratégica, não apenas para IA, mas também para energia limpa, defesa nacional, telecomunicações etc. Estamos satisfeitos em ver que os EUA estão tomando medidas políticas para atrair esses investimentos.”

Podder, da Accenture, complementou as discussões mencionando os aspectos a serem considerados na escolha dos locais ideais para construir novas infraestruturas para suportar o crescimento da IA generativa. “Precisamos olhar além do terreno e identificar as áreas mais adequadas ao redor do mundo para construir essa nova infraestrutura. Isso inclui considerar a disponibilidade de energia renovável, a eficiência no uso da água e a colaboração com as comunidades locais”, finalizou.

*A jornalista viajou a convite da AWS

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Déborah Oliveira

Editora-chefe e diretora de Conteúdo do IT Forum, Déborah Oliveira é jornalista com mais de 17 anos de experiência na área de TI. Tem passagens pelas redações da Computerworld, CIO e IDG Now!. Bacharel em Jornalismo, com graduação executiva em Marketing, e MBA em Marketing. Em 2018, foi vencedora do prêmio de melhor Jornalista de TI no Brasil, do Cecom. Em 2019 e 2020, foi destaque do mesmo prêmio na categoria Telecom. É uma das autoras do livro “Da Informática à Tecnologia da Informação – Jornalistas Contam Suas Histórias”, pela editora Reality Books, lançado em 2020.

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