Cortella: crise da covid-19 não é permissão para deixar ética de lado

Papo do filósofo com Alexandre Schwartsman e Sidney Klajner encerra IT Forum@Home

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7:58 pm - 13 de junho de 2020
cortella

A pandemia do novo coronavírus trouxe um falso dilema. Os três meses de luta contra a doença no Brasil ajudaram a provar que a oposição economia e sociedade não existe. No entanto, derrubar esse mito ainda é difícil. O tópico foi central na plenária “Ética, saúde e economia: paradigmas dos tempos atuais” que fechou a programação de conteúdo do IT Forum@Home neste sábado (13).

O encontro digital teve a participação do filósofo Mario Sergio Cortella, do economista Alexandre Schwartsman e do presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein Sidney Klajner. A plenária teve ainda a mediação do sócio-diretor da IT Mídia Vitor Cavalcanti.

Para o economista Alexandre Schwartsman, a questão sanitária nos pegou de surpresa. Mesmo assim, a ideia de que achatar a curva na saúde implica aprofundar a recessão é falsa. “Não existe essa oposição entre cuidar da saúde e da economia, não existe essa troca entre o já e o logo. O que atrapalha a economia não é o distanciamento social. É, obviamente, a doença”, explica.

 

Sobrevivência: pessoas primeiro

Schwartsman usou como exemplo os impactos da gripe espanhola nos EUA, quando as medidas de diferentes cidades foram comparadas por pesquisadores de economia. “O achado desses economistas foi de que quanto mais profundas as intervenções não farmacêuticas – quarentenas e afastamento social – no momento de recuperação, quem foi mais duro nas intervenções, saiu antes da recessão”, conta.

Relembrando o aspecto ético envolvido num momento de crise, Cortella refletiu sobre como as decisões de líderes durante a pandemia serão vistas pelas gerações futuras.

“Todas as vezes que se fala em escolha, se fala em ética. Ética não é algo de fachada, que se exibe. Nós chegaremos do lado de lá dessa tempestade com a satisfação de termos feitos o necessário ou com alguma vergonha ao olharmos para trás?”, questiona o filósofo – e adiciona o seguinte alerta: “em um tempo de turbulência exagerada é preciso que a gente lembre que isso não é uma permissão para que a ética seja deixada de lado”.

Sobre o aspecto social, o Albert Einstein faz um paralelo entre as dimensões de problemas de saúde e economia pré-Covid 19. “Se as reformas já eram prementes antes da pandemia, existia um sistema de saúde no Brasil antes da pandemia que exigia melhorias também prementes”, aponta Klajner.

Para o especialista na área médica, os problemas no campo vão desde a falta de gestão do sistema único de saúde até o baixo investimento em pesquisa. Todos problemas que já existiam e só foram ressaltados no contexto atual.

 

Economia e saúde: futuros conectados

Segundo o economista, é razoável fazer um paralelo entre a pandemia e uma guerra. Ou seja, não é hora de medir esforços para controlar a situação. Ainda assim, é necessário ter um planejamento de futuro. “A gente precisa de um plano para lidar com o dia seguinte. O que vamos fazer para a frente, acho que essa é a questão. Todas as reformas que eram importantes pré-crise ficaram ainda mais importantes”, afirma Schwartsman.

A necessidade de uma rede de assistência social para lidar com o grande número de desempregados precisa ser a prioridade no aspecto econômico, segundo o ex-diretor de assuntos internacionais do Banco Central do Brasil. Por sua vez, o presidente do Albert Einstein acredita que a “medicina vai mudar completamente”. Klajner conta que o pronto atendimento do hospital teve uma queda em casos não tão graves. “O atendimento domiciliar talvez tenha um papel bem diferente”, sugere o médico.

É dele também um exemplo de como a tecnologia está sendo usada para lidar com a assistência dos doentes durante a pandemia. Atualmente, o hospital trabalha com uma série de startups para adaptar seus serviços e processa altos volumes de dados para entender e projetar as chances de expansão da doença. “Hoje existe o uso da tecnologia [empregada para] o bem da assistência social. Isso, em outra época, a gente não teria”, aponta Klajner.

Citando o ator Pierre Dac, Cortella resume a questão da seguinte forma: “O futuro é o passado em preparação. Em 2050 nós teremos edificado qual passado?”

 

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