Consumo sim. Desperdício não

Eu vivo um dilema pessoal que quero compartilhar com vocês. Como resolução de vida, decidi ser menos consumista. Todos os dias faço o exercício de me perguntar se realmente preciso daquilo, antes de comprar um novo vestido, um novo sapato, um batom de outra cor ou a bolsa que piscou para mim na vitrine. O mesmo vale antes de trocar o sofá, adquirir a nova TV com funcionalidades que não saberia usar ou o aparelho celular de última geração para substituir o atual que ainda funciona perfeitamente.

Também faço um esforço para comprar somente os alimentos que vou consumir. Nada de estocar itens ou levar três pelo preço de dois, pois se a validade vencer, a unidade adicional vai para o lixo da mesma maneira.

E o mercado de luxo me parece ainda mais absurdo. Não posso achar razoável que um carro custe o mesmo que dez casas populares e que uma caneta ou bolsa custe o equivalente à cesta básica de um ano todo. Ainda mais em um país pobre como o nosso. Mas muita gente não compartilha da minha opinião, haja vista que o mercado de luxo não se abalou com a crise.

Quem me conheceu como consumidora voraz nem iria me reconhecer. Ainda tenho meus ataques de shopping-terapia, mas são bem menos frequentes.

Mas essa resolução não combina com a minha profissão. Publicitária e marqueteira por formação, minha função principal é despertar o desejo nos consumidores pelos produtos da empresa que represento. Sempre tive como convicção que não aceitaria trabalhar em organizações que não fossem condizentes com minha filosofia de vida, como, por exemplo, a indústria de cigarros. Mas vim cair na área de tecnologia e aqui estou por mais de duas décadas, levando a bandeira da evolução e em um setor que se reinventa diariamente.

Enfim, vivo na cartilha do capitalismo, a qual exige que as empresas tenham metas de vendas cada vez mais agressiva, ganhem mercado e ultrapassem o concorrente. Esse é o mote e não há nada de errado com isso.

O dilema maior é que, em tempos de crise, como o que vivemos, o consumo reduz naturalmente e as pessoas só compram o essencial. Ótimo! Mas não é tão simples assim. O consumo cai, as lojas deixam de vender, os fabricantes reduzem a produção, os fornecedores de matérias-primas também vendem menos, os lojistas diminuem o quadro de vendedores, as indústrias reduzem o número de empregados, a taxa de desemprego sobe e o consumo cai ainda mais. E o meu dilema só aumenta. Não é nenhuma novidade o fato do consumo ser necessário para garantir que a engrenagem gire.

Comemoro os sinais de retomada da economia por que isso traz a esperança da geração de novos empregos, da saída do buraco para muitas empresas e pessoas.

Mas pelo visto meu dilema não tem solução. Vou continuar com a minha resolução de ser menos consumista, e também seguirei com a profissão que escolhi e me faz feliz. Conclusão? Consumo sim, desperdício não.

*Cristina Blanco é diretora de marketing Dell EMC Brasil

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