Como profissionais de TI podem lidar com o Burnout acelerado na pandemia?

Em entrevista ao podcast Entre Tech, especialistas em tecnologia e Recursos Humanos indicam melhores práticas para evitar o burnout

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12:38 pm - 14 de agosto de 2020

Os profissionais de Tecnologia da Informação se viram mais estressados durante a pandemia, segundo uma pesquisa conduzida pela plataforma Blind. De acordo com a The Evolution of Burnout, que obteve respostas de funcionários de grandes empresas de tecnologia como Cisco, Oracle, LinkedIn, Salesforce, Apple, Uber, entre outras, os profissionais estão em um ritmo de trabalho que consideram mais estressante como consequência da pandemia de covid-19.

Se em fevereiro deste ano, a pesquisa da Blind concluía que quase 61% dos profissionais estavam esgotados, em abril e maio, o percentual subia para 73%. O relatório foi feito com 6.789 usuários da plataforma.

Por que eles(as) se sentem esgotados(as)?

De acordo com o levantamento, um em cada cinco profissionais disse estar esgotado pelo medo referente à segurança no emprego (19%); 20,5% sentem que têm uma carga de trabalho incontrolável; e mais de 10% dos profissionais sentem que não têm controle sobre seu trabalho.

Grafico Burnout Interna ITF

Crédito: Yuca Estúdio Criativo

Em 2019, a Organização Mundial da Saúde definiu como Síndrome de Burnout aquela resultante do estresse crônico no local de trabalho e que não foi gerenciada com sucesso. Em entrevista para o podcast Entre Tech, Ítalo Flammia, fundador da consultoria de tecnologia IT Flammia, conta que trabalhar com tecnologia sempre foi estressante, o que não significa, necessariamente, algo ruim. Antes de empreender em uma consultoria própria, Flammia liderou as áreas de tecnologia da Natura e Porto Seguro. “A tecnologia é fundamental, pois faz parte do produto e negócio. Por estar em tudo, então a TI está na UTI o tempo todo”, comparou.

Para Ítalo, o contexto acelerado da transformação digital vem também para contribuir com processos de burnout nas organizações. “Quando você coloca nesse contexto, a TI no core das empresas, o mercado super agressivo, concorrência, Big Techs, as ameaças, coloca mais estresse sobre o mercado. Por outro lado, a TI olha para fora e vê o tempo todo novas tecnologias surgindo e precisa aplicar essas novas tecnologias ou por que eu sou cobrado pelas áreas de negócio ou porque eu quero implementar. Há ainda uma escassez de talentos de tecnologia […] E nas empresas demanda por velocidade, eficiência, controles, compliance, segurança da informação, inúmeros projetos, novos métodos agéis, todo esse contexto turbulento e aí você coloca uma pitada de coronavírus, coloca-se uma complexidade muito maior”, reflete Flammia.

Luis Motta, sócio-líder de tecnologia, mídia e telecomunicações da KPMG na América do Sul, também vê um contexto desafiador para os profissionais de TIC. “Essas empresas foram desafiadas a terem protagonismo no setor, a prover tecnologia e infraestrutura, o que sobrecarrega pessoas ainda dentro de um contexto de indefinição e de mudança”, pontuou em entrevista ao podcast. “Isso trouxe uma pressão maior, resultante da indefinição”, acrescentou.

O papel da liderança na prevenção do Burnout

Para Luciene Magalhães, sócia líder de capital humano da KPMG, a preocupação com o bem-estar dos colaboradores deve estar pulverizada em toda a cultura corporativa das companhias, “Na KMPG, o RH está distribuído entre todos. Cada um tem seu avo relativo ao RH”, contou ao Entre Tech.

“Paradigmas despencaram. Antes, você não tinha acesso a todos os níveis, hoje a gente tem reuniões com todo mundo, com capacidade tecnológica muito mais diferenciada. Isso abre um leque para estar muito mais perto. Uma liderança que se conscientizar em uma administração mais humanizada, ela será uma marca muito mais aderente a aquilo que os jovens buscam”, indicou Luciene.

Promover a colaboração e um ambiente de bem-estar psicológico é também dever das lideranças, lembrou Flammia. “A liderança tem papel fundamental na detecção, entendendo primeiro os limites e o contexto de cada colaborador seu”, pontuou. Para ele, no atual momento que exige o distanciamento social e que grande parte dos profissionais ainda se encontra em home office, é preciso que as lideranças promovam – ainda mais – a colaboração. “A colaboração sempre foi muito importante para gerar inovação e polinização cruzada de ideias. Então, o líder tem de promover essas interações com o time mais frequentemente. Isso vai gerar mais criatividade e tornar as pessoas mais protagonistas”, aconselhou.

Comunicação transparente é chave para afastar o Burnout

Um ambiente de trabalho onde a comunicação é unilateral entre os profissionais tende a criar espaço para se gerar maiores cargas de estresse. Isso porque, a falta de comunicação e também de transparência das lideranças dá margem para aumentar a insegurança entre os colaboradores. “Trabalhar a transparência, a questão da confiança, com feedback, para que os funcionários não fiquem criando paranóias”, sugeriu Flammia.

“O líder também pode contribuir passando uma visão positiva. Um certo positivismo da situação, sendo o farol. Temos um plano e ele é esse. A gente vai errar, pois nunca ninguém viveu uma situação como essa”, concluiu Flammia.

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