Como o Dell Digital Way entrega a própria transformação digital da Dell?

Em entrevista exclusiva, CTO da Dell Digital repassa as estratégias da companhia para acelerar a entrega da transformação para a companhia e clientes

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8:00 am - 21 de outubro de 2019

Conduzir projetos de transformação digital não é uma tarefa trivial. Para empresas que já contam com um legado histórico, fazer a transição para adotar tecnologias como cloud, analytics e inteligência artificial, a missão ganha mais peso e, ao mesmo tempo, urgência. Afinal, companhias que não conseguem se reinventar para atender demandas digitais sabem que o horizonte tende a ser nebuloso. No caso da Dell Technologies, uma companhia que nasceu com base tecnológica, falar de transformação digital pode soar algo intrínseco. Mas a própria companhia tem passado por uma série de transformações para não sucumbir à concorrência. Olhe para a trajetória da Dell, que completou 35 anos em 2019, e você verá uma empresa que passou da venda de PCs para vender servidores e, mais recentemente, para também entregar soluções de infraestrutura na nuvem para o mercado corporativo. É ainda recente a aquisição da EMC – a mais cara da história da tecnologia (US$ 67 bilhões) pela Dell em 2015.

Lidar com esse histórico e com uma operação global, cujo número de colaboradores ultrapassam os 145 mil, tem feito a Dell repensar a forma como trabalha com funcionários, clientes e, claro, com a própria a tecnologia. Muito dessa missão é assumida pelo CTO da divisão Dell Digital, Greg Bowen. O executivo, que atende também como Senior Vice-presidente de Digital Acceleration da Dell Technologies, esteve recentemente no Brasil e concedeu uma entrevista exclusiva à CIO Brasil. Bowen, que antes de ir para a Dell Technologies, ficou cerca de 16 anos na Amazon, explica que a Dell Digital nasceu como sinal da companhia para atender as urgências de um consumidor digital, que compreende desde o funcionário Dell, o cliente corporativo até o consumidor final na ponta.

Dell Digital Way: fazendo da Dell seu próprio cliente

Em 2016, a companhia começou a implementar o Dell Digital Way, o nome que a Dell define para falar sobre a própria mudança cultural. Trata-se de uma mudança em como as equipes firmam parcerias com o negócio usando uma abordagem que Bowen diz ser direta e simplificada para desenhar, desenvolver, iterar e entregar mais rapidamente novos produtos e capacidades, incluindo aí práticas DevOps e adoção de tecnologias como inteligência artificial e machine learning. “Nós decidimos mudar de uma organização de TI para uma organização digital”, resume o CTO. “Somos responsáveis por toda a tecnologia que sustenta o nosso negócio. Sistemas de ERP, Recursos Humanos, o sistema de vendas, financeiro. E nós temos clientes externos do dell.com e isso vai desde alguém que está comprando um laptop a alguém que precisa comprar uma solução completa de data center”.

No final do dia, o Dell Digital Way diz muito sobre trabalho colaborativo. Bowen conta que a transformação da Dell começa há cerca de 16 anos, quando a companhia passou por uma transformação ágil. “Trouxemos coaches de Agile”, lembra. “Mas o que nós vimos é que uma vez que não mudamos a cultura por baixo, o Agile não funciona. Nós ainda estávamos fazendo o método waterfall (cascata) do Scrum, levando duas semanas para atingir o resultado. Nós tínhamos grandes times funcionais, desenvolvedores, gerentes de projetos, designers, programadores, e o que descobrimos era que a forma que fazíamos era lenta e entediante. A forma tradicional do waterfall demora muito e a qualidade de entrega não é muito alta. E quando se entrega para o usuário, ele pode ficar desapontado”.

Segundo Bowen, o Dell Digital Way surgiu, então, para endereçar todas essas frentes e garantir entregas mais rápidas e com feedback em tempo real. “O Dell Digital Way é sobre pessoas que saem dos silos e são colocadas em times pequenos de produtividade. Nós temos desenvolvedores, gerente de produto e designer de produto trabalhando juntos”, conta. Aqui, Bowen destaca a influência do Pivotal Labs na metodologia de trabalho para deixar o waterfall de lado. No mês passado, a VMWare, empresa sob o guarda-chuva Dell EMC, anunciou a aquisição da Pivotal por um valor de US$ 2,7 bilhões. Com a compra, a VMware adquire uma plataforma que facilita o trabalho de desenvolvedores para escreverem, testarem e implementarem suas aplicações.

“Nossos desenvolvedores trabalham em pares. Se você tem um copiloto, você navega melhor e mais rápido”, compara Bowen. Seguindo a mesma metodologia, o designer é responsável por falar com o usuário, dar feedback ao time e também direcioná-lo para que o ‘Agile Way’ seja entregue em uma base diária, ao invés de uma entrega mensal ou trimestral. “Quando você combina pessoas, processos e tecnologia, as coisas mudam”, pontua Bowen.

GregBowen Dell CIO

Transformação digital cobra liderança

Somente a Dell Digital conta com 9 mil pessoas sob a liderança de Bowen. E entregar a transformação digital que a própria Dell exige também significa que Bowen precisa lidar com pessoas de diferentes históricos, gerações e competências. “Dirigir a transformação digital é realmente muito difícil”, desabafa o executivo aos risos.

“Nós temos mais de 30 anos como empresa e funcionários que trabalham da mesma forma há mais de 15 anos e que nos têm servido muito bem, pois nos tornamos muito bem-sucedidos no que fazemos. Mas sabemos que o mundo ao nosso redor está mudando e a expectativa dos nossos clientes está mudando e nós temos de mudar também. Mas as pessoas se sentem mais confortáveis fazendo da forma como elas já faziam antes. Então, quando você me pergunta onde eu priorizo mais meu tempo e os meus esforços, é ao redor de pessoas. Na parte de pessoas em meio à transformação digital. Como nós trabalhamos de forma diferente, como nós mudaremos a própria cultura”, reflete.

Para Bowen, líderes que assumem o papel de conduzir a transformação digital de qualquer organização precisam desenvolver quatro características: coragem, empatia, humildade e otimismo.

“Mudar uma organização de qualquer tamanho é difícil e uma que tem mais de 9 mil colaboradores exige paixão e perseverança para atingir o longo prazo. Nós focamos nessa coragem, mas também em empatia, porque se você só vir uma linha reta e ignorar as outras pessoas, você não vai conseguir que elas sigam você e mude a forma como você trabalha. Você precisa ser empático, precisa entender que a pessoa que está trabalhando do outro lado da mesa do time, talvez nunca tenha trabalhado dessa forma antes e elas estão com medo de que se não mudarem o emprego delas não existirá mais. Você precisa abordar o problema e a mudança da perspectiva deles também”, ensina Bowen.

“O terceiro é a humildade, pois o que nós estamos aprendendo é que não há uma única abordagem para isso e se você não for humilde e se você acreditar que o seu jeito é o único, você vai errar. E o quarto que o meu time e eu nós focamos é o otimismo. Não é sobre pensamento positivo, pensar que tudo vai dar certo. Mas otimismo no sentido de acreditar que você vai encontrar um caminho, você vai entender o problema e você conseguirá trabalhar e entregar”, conclui.

 

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