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Como o coronavírus impactará as startups e como elas devem reagir?

A pandemia causada pelo novo coronavírus tem feito as startups brasileiras e do mundo afora repensarem seus modelos de negócios e estratégias para conseguir sobreviver à crise. Um relatório recente divulgado pela CBInsights indica que o mercado de Venture Capital nas jovens empresas de base tecnológica deve recuar.

Segundo a consultoria, o financiamento no mercado de investimentos privado no primeiro trimestre de 2020 está chegando a US$ 77 bilhões, uma queda de mais de 16% em comparação ao quarto trimestre de 2019 e quase 12% em relação ao primeiro trimestre do mesmo ano. Ainda de acordo com a CBInsights, o declínio projetado neste primeiro trimestre será o segundo maior declínio trimestral nos últimos dez anos, perdendo apenas para uma queda de 36% no terceiro trimestre 2012.

A Sequoia Capital, gestora de venture capital referência no Vale do Silício, com aportes na Apple, Google e Airbnb, não mediu o pessimismo ao, no início de março, enviar comunicado às startups de seu portfólio: “Aqueles que sobrevivem não são os mais fortes nem os mais inteligentes, mas aqueles mais adaptáveis à mudança”, escreveu.

A gestora, que tem tratado a covid-19 como o “cisne negro de 2020”, ainda recomenda algumas ações aos CEOs e fundadores das startups, lembrando de outras crises que superou. “Ninguém se arrepende de fazer ajustes rápidos e decisivos quando as circunstâncias mudam. Em tempos de crise, a receita e o fluxo de caixa sempre caem mais rápido que as despesas”, ressaltou.

João Kepler, investidor-anjo e diretor da Bossa Nova Investimentos, reconhece os tempos de incerteza para as startups, entretanto, afirma que não se trata de um momento para desanimar. Segundo Kepler, as startups têm a vantagem em si sua própria natureza: operam com modelos enxutos e escaláveis, “fazendo muito, com muito pouco” e tendo as condições de incertezas como uma constante no radar.

Embora as startups comecem a sofrer com os reflexos da pandemia em suas operações e fluxo de caixa, Kepler mantém o otimismo. “As startups, por terem estruturas mais enxutas e processos ágeis, possivelmente sofrerão apenas no curto prazo. Com a retomada do mercado, possuem vantagem competitiva e agilidade frente a grandes empresas do mercado tradicional para operar no mercado pós-Covid-19”, destaca. Como exemplo, ele afirma que a Bossa Nova não freou os investimentos em março. “Já investimos em seis e pretendemos terminar o mês com nove investimentos. Não é momento de pânico, é momento de cautela, prevenção”, complementa.

Para Amure Pinho, presidente da ABStartups – Associação Brasileira das Startups, a crise causada pelo novo coronavírus obriga as startups a saírem mais enxutas na outra ponta. “É hora de reter caixa e o maior número de clientes possível”, recomenda.

Ele estima que a receita das startups deva sofrer com uma queda de 25% neste ano. “O cenário afeta, principalmente, as startups que já precisavam de dinheiro. A não ser que uma startup tenha captado round para 12 meses, ela terá dificuldades. Então, elas devem ter cautela, pois as vendas podem parar a qualquer momento”, diz. “Segurem ao máximo”, aconselha.

Bruno Rondani, CEO da 100 Open Startups, recomenda que as startups se debrucem sobre planejamentos de curto prazo. “Se o planejamento era de um ano, ou três meses, eu diria que hoje, a gente vai trabalhar semana a semana”, pontua.

Rondani destaca que é hora também de “pivotar”, termo que o mercado utiliza para girar a orientação do produto, cliente ou do negócio. “É hora também de montar MVPs [sigla para Produto Mínimo Viável, em inglês] para esta situação nova, antes de decidir se terá de cortar, demitir. Primeiro, reaja e permita testar”.

Imunidade em risco

Há startups que devem sair mais prejudicadas com a pandemia da covid-19. Aquelas do setor de serviços, por exemplo, que dependem do fluxo de pessoas ou oferecem soluções para indústrias afetadas como a de Turismo ou Aviação, estarão mais vulneráveis. O Airbnb pretendia lançar seu IPO neste ano.

Entretanto, os planos estão, agora, ameaçados. Afinal, o modelo de negócios da plataforma de hospedagem alternativa cobra visitantes no mundo inteiro. As startups de mobilidade urbana e aquelas de escritórios compartilhados também tendem a sofrer.

O mesmo não pode ser dito sobre empresas que contam com soluções para streaming e videoconferência. A Zoom, empresa que oferece plataforma de videochamadas, viu um salto no valor de seus papéis quando o mundo todo passou a trabalhar em home office. Hoje, seu valor de mercado supera os US$ 38 bilhões.

Para Amure Pinho, da ABStartups, aquelas startups que estavam no início das operações e já não estavam indo muito bem, a crise causada pelo coronavírus, pode vir a ser o fim. “As startups que estavam indo muito bem, com receita, sabem enxugar de maneira rápida. Aquelas que vivem do offline vão sofrer muito, pois se a economia trava, elas travam”, avalia. “Preparem-se para o impacto”, indica Amure.

A Bossa Nova Investimentos, que conta com mais de 600 investimentos em seu portólio, tem orientado prudência e ao mesmo tempo agilidade as suas startups. “O desafio será remar para chegar do outro lado do rio com zero vendas”, destaca Kepler.

“As startups no nosso portfólio que não têm caixa, nossa orientação é zerar o burnrate e voltar ao breakeven. As mais vulneráveis são aquelas com modelos de negócios diretamente afetados pelo afastamento do convívio social como eventos presenciais, de vendas porta a porta e correlatos, essas precisam pivotar, mesmo que provisoriamente”. Ainda segundo o investidor, é hora de reavaliar planos e baixar as expectativas. “Mantenha relacionamentos com o mercado, ajuste as expectativas, replaneje o negócio e estude. Novos projetos, novas contratações e qualquer mudanças radicais, devem aguardar o timing correto e o mercado se restabelecer”, aconselha.

Amure também recomenda as startups alguns ajustes: “Salvem o caixa economizando o máximo que puderem; reveja ações de marketing e o custo de aquisição de usuários, é melhor agora reter o que se tem; Seja empático com seu time, mude imediatamente as condições de trabalho para remoto; fique atento ao movimento de isenção de impostos e financiamento e, por fim, não pegue carona no coronavírus. Se você quiser oferecer à sociedade, faça isso sem esperar exposição da sua marca”, finaliza.

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