Como cuidar bem de dados? Governança digital é tema de debate com especialistas de três setores

Implementação, segurança e legislação são temas quentes para os negócios

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8:22 am - 23 de maio de 2018

O uso de dados move o marketing digital, inspira novos produtos e serviços e baliza o feedback daqueles que já existem. Tão importante quando usar dados é cuidar deles da maneira mais adequada. Uma recente pesquisa da IBM revela que a maioria das empresas vê a atual necessidade de rever políticas de dados como um momento de oportunidade para fazer ajustes importantes e transformar essas demandas em diferenciais competitivos.

O tema foi assunto para uma mesa no .Futuro Rio com especialistas de marketing digital, segurança da informação e direito que abordaram como essas preocupações devem fazer parte da sua estratégia corporativa. Ao IT Forum 365, eles aprofundaram suas críticas e sugestões expostas na mesa redonda “Como cuidar bem dos dados?”, mediada por Melissa Cruz Cossetti.

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Implementação

O professor universitário de marketing digital, Álvaro Barros (Ibmec/Infnet), aponta que, para cuidarmos bem dos dados, primeiro precisamos extraí-los. Parece óbvio, mas muitas empresas ainda não tem total consciência do volume de informação que guardam e como podem se beneficiar disso.

“A todo momento nossa empresa está gerando dados: quantidade de clientes, quantidade de vendas, produtos vendidos e etc. Porém, somente armazená-los, não surte nenhum efeito prático, é preciso analisá-los”, explicou o professor.

Barros sugere que começar com uma simples ordenação de informações em planilhas do Excel, por exemplo, já é um primeiro passo. “Atualmente contamos com diversas ferramentas gratuitas que podemos usar para consolidarmos e exibirmos informações preciosas para um negócio, como a suíte do Google, com Spreadsheet, Forms e o Data Studio, que auxiliam muito a tirar uma empresa da escuridão da análise de dados”, recomendou.

Segurança

Contudo, se para analisar dados é preciso guardá-los, Eduardo Batista, sócio de cybersecurity & privacy da PwC Brasil, lembra que o mal uso e a falta de cuidado com informações de clientes podem afetar diretamente a confiança nos negócios e impactar negativamente sua posição no mercado.

Batista pontua que, para a viabilizar o uso de dados com velocidade, muitas vezes, as empresas se veem adotando novos métodos e tecnologias inovadoras que podem estar vulneráveis a ameaças desconhecidas, por ainda não terem sido alvo de exaustivos testes de segurança.

“Isso pode representar ameaças ao sigilo e controle de acesso às informações, podendo levar até a um vazamento de dados, que irá expor a credibilidade e imagem da solução perante aos seus clientes e parceiros de negócio”, alertou o especialista.

Uma pesquisa recente da PwC feita em 2018, aponta que 85% dos consumidores não farão negócios com empresas que não se preocupam com boas práticas de segurança para proteção de dados de usuários.

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Legislação

Diante de preocupações com o uso correto dos dados, Guilherme Carboni, da CQS advogados, lembrou que, diferente da Europa, que vive atualmente uma adaptação à nova legislação da GDPR (General Data Protection Regulation), o Brasil ainda carece de uma lei dedicada a proteção de dados.

“O governo [brasileiro] está articulando uma vaga na OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico], mas uma das requisições que apareceram é a necessidade de que o país tenha uma lei sobre proteção de dados pessoais, que ainda não temos”, lembrou o advogado, citando que alguns PLs tramitam na Câmara dos Deputados.

Um exemplo dado pelo especialista em direito sobre os impactos da ausência de uma lei de proteção de dados, é a Lei do Cadastro Positivo (PLP 441/2017). A ideia por trás da iniciativa é a redução do spread bancário (diminuir risco de inadimplência para os bancos). Mas, na ausência de uma lei de proteção dessas informações, pouco impede que elas sejam usadas para outros fins ou sejam utilizadas de forma indevida em outros mercados.

“O chamado cadastro dos bons pagadores não prevê necessidade de autorização para inclusão de dados pessoais nesse grande banco de dados. Há chance desse PL ser votado antes dos PLs sobre proteção de dados pessoais, inclusive. O que gera desconforto”, destacou.

A exemplo do GDPR, em que empresas afetadas por vazamentos de dados dos clientes têm a obrigação de avisar autoridades em até 72 horas sobre o incidente e, dependendo da gravidade, notificações também aos usuários, o Brasil ainda engatinha nas obrigações jurídicas relacionadas a proteção de dados pessoais. O especialista recomendou como boas práticas, total cuidado na redação de contratos e termos de uso e do compliance.

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Inovação responsável

Neste cenário, os consumidores e contratantes de serviços ainda têm baixa confiança de que as empresas usarão dados seus pessoais de forma responsável. Um levantamento da Consumer Intelligence da PwC de 2017 aponta que apenas 25% dos consumidores acreditam que a maioria das empresas lida com seus dados pessoais de forma responsável.

“O risco de uso indevido de dados pessoais e vazamento, vem tornando-se a maior preocupação das empresas e sociedade. Tudo isso reafirma a necessidade da adoção de modelos e padrões para o controle do risco digital, governança corporativa sobre a gestão, proteção e uso de dados”, afirmou Batista. O especialista em segurança deixou cinco recomendações.

  1. Garantir o envolvimento do conselho como um todo, não apenas diretores, que devem continuamente se munir de um melhor conhecimento sobre os planospara abordar os riscos da proteção de dados e da privacidade.
  2. Priorizar a governança do uso de dados, já que a adoção de inovações pode abrir portas para mais oportunidades e também mais riscos, equilibrando o uso de dados com proteção e controles de detecção.
  3. Aderir a regulação de privacidade como uma oportunidade de alinhar suas organizações para o sucesso, não apenas para conformidade, mas para gerenciamento de riscos e transparência a acionistas e mercado.
  4. Estabelecer modelos de resposta implementando processos e tecnologias, tornando as empresas mais preparadas para reduzir sua exposição e aumentar a resiliência contra incidentes de privacidade.
  5. Defender a inovação responsável incorporando o gerenciamento de riscos nos esforços de transformação digital, os líderes corporativos podem alinhar melhor suas organizações para resistir a ameaças, manter operações, reforçar a marca e os negócios, criar confiança com os consumidores e obtendo vantagem competitiva.

“As empresas que aproveitarem a oportunidade para gerenciar a proteção de dados e os riscos à privacidade estarão melhor posicionadas para prosperar na economia baseada em dados e construir resiliência na sociedade digital”, concluiu.

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