Como criar uma cultura de inovação

Muita coisa mudou desde os primeiros dias de 2020, quando a pandemia de Covid-19 forçou as organizações a repensar onde e como as pessoas trabalham. O que não mudou foi a necessidade de as organizações continuarem avançando com iniciativas digitais. Para CIOs e líderes de TI, isso significava adotar uma mentalidade de afundar ou nadar e acelerar as iniciativas mesmo quando faziam a transição para o trabalho remoto.

Avanço rápido para 2022. Ocorreu uma mudança e a TI agora é vista como um parceiro igual para impulsionar o crescimento dos negócios com CIOs reconhecidos como líderes, de fato, em inovação. Aqui, eles e outros compartilham sete maneiras de criar e nutrir uma cultura de inovação.

Priorize o tempo de experimentação

Uma fórmula infalível para impulsionar o crescimento inovador é “experimentar algo novo, aprender rápido, dinamizar conforme necessário e escalar o sucesso”, diz Mike Crowe, CIO da Colgate-Palmolive. Na Colgate, isso levou a capacitar as equipes para experimentar um hackathon global chamado Tech Challenge.

A liderança da empresa também cria espaço e tempo para os funcionários inovarem, dedicando uma equipe de pessoas para explorar tecnologias emergentes, realizar experimentos e identificar a aplicabilidade de negócios, diz Crowe.

“Esta equipe tem protótipos de aplicativos envolvendo vários componentes de inteligência artificial, blockchain, desenvolvimento low-code/no-code e até computação quântica”, diz o CIO.

Um exemplo de como essa exploração levou a benefícios reais de negócios foi com a aplicação de machine learning para prever a formulação ideal de produtos usando um conjunto de benefícios desejados para o consumidor. “A equipe teve tempo para coletar e limpar dados e experimentar modelos de machine learning”, diz Crowe. Agora, a capacidade está incorporada no processo de desenvolvimento do produto.

A maior barreira para a inovação são as prioridades concorrentes e a falta de tempo para inovar, observa Santhosh Keshavan, Vice-Presidente Executivo e CIO da empresa de serviços financeiros e de seguros Voya. “As tecnologias avançam em um ritmo exponencial, então sempre há mais maneiras de alavancar e aprimorar os recursos tecnológicos para melhor atender nossos clientes”, diz ele. “É responsabilidade do CIO influenciar e priorizar o tempo para o pensamento estratégico e inovador”.

Abrace o fracasso

A inovação é uma faca de dois gumes: é fundamental para o crescimento – mas também é isso que a torna arriscada. “Exige apostas ousadas e disposição para perseverar, apesar dos contratempos, críticas e incertezas”, escreveram os sócios seniores da McKinsey, Laura Furstenthal e Erik Roth, em um post recente no blog. “Ao fornecer aos seus funcionários segurança psicológica, um propósito centrado na inovação e encorajamento – você pode ajudá-los a encontrar coragem para arriscar o fracasso em busca de ambição criativa”.

As pessoas não devem ter medo de falhar, concorda Jason Moersch, Vice-Presidente de Serviços de Tecnologia da Transwestern, uma empresa imobiliária comercial com sede em Houston. “Para ideias que não decolam imediatamente, aprenda com os erros e revisite ocasionalmente. Às vezes, a empresa não está pronta para uma ideia agora, mas estará mais tarde”.

Incutir uma cultura inovadora se resume a criar um ambiente baseado na confiança, que derruba barreiras e inspira as pessoas a ter uma mentalidade mais aberta, diz Keshavan. “Sua equipe precisa saber que pode confiar em você e uns nos outros para debater abertamente, sugerir ideias, experimentar e assumir riscos – e até mesmo falhar, sem consequências.

“Prefiro falar sobre mudanças de direção ou estratégias que não funcionam”, em vez de pensar que um experimento ou projeto falhou se não funcionar do jeito que você esperava, diz Lorraine Marchand, autora do novo livro, The Innovation Mindset: Eight Essential Steps To Transform Any Industry. Olhe para isso como uma oportunidade para aprender e mudar de direção. “Não há problema em seguir um caminho diferente”, acrescenta Marchand, que também é Diretora Executiva da Merative, antiga IBM Watson Health.

Reconheça que a inovação começa e termina com as pessoas

A TI está posicionada de forma única para ver o panorama geral do que está ocorrendo em toda a empresa e identificar oportunidades de inovação. Mas isso só funciona se os líderes de TI saírem de trás das “coisas tecnológicas” e tiverem conversas francas com as partes interessadas em toda a organização, diz Moersch.

“Eles devem entender onde as pessoas lutam, definir os desafios de uma maneira que faça sentido para todos e, em seguida, dividi-los em pequenos pedaços que podem ser melhorados por meio de soluções tecnológicas”, diz ele. “Esse processo pode ajudar bastante na construção da confiança”.

Também é importante abraçar aqueles na organização que exploraram soluções de TI – mesmo que trabalhem fora da TI, diz ele. “Historicamente, teríamos considerado isso como iniciativas de ‘shadow IT’, mas a realidade é que a TI não pode examinar todas as soluções em um vácuo, especialmente no ritmo em que devemos nos adaptar”.

As pessoas que estão dispostas a explorar e se envolver com a TI devem ser vistas como um ativo, não apenas porque estão dispostas a investir tempo fora de sua função de trabalho tradicional, mas também porque podem atuar como campeões que ajudarão a impulsionar a compreensão e a adoção em todo o negócios, diz Moersch.

A Voya promoveu uma cultura que incentiva o pensamento livre e a criatividade, diz Keshavan. Quando você reúne pessoas de diversas origens, experiências e disciplinas para oferecer perspectivas únicas, isso naturalmente promoverá a inovação, diz ele.

“Em 2019, isso pode ter parecido um grupo de indivíduos se reunindo em uma sala de reuniões, fazendo um whiteboard sobre as necessidades dos clientes, debatendo ideias, compartilhando experiências passadas e criando soluções. Post-it com imagens pontilhando as paredes e flipcharts em todas as mesas”, diz ele. “Hoje, nos reunimos no Microsoft Teams ou no Zoom e usamos ferramentas como Miro e OneNote, mas os princípios fundamentais de colaboração aberta, livre expressão de ideias e experimentação permanecem no centro da cultura de inovação da Voya”.

Quando as pessoas são treinadas para ter uma mentalidade inovadora, o processo de inovação pode gerar resultados positivos, diz Marchand. Ela compara isso a “inovações fortuitas”.

Enfatize a inovação, não a tecnologia

Novas tecnologias não são inovação – são apenas negócios como sempre, diz Iliya Rybchin, Sócio da empresa de consultoria de gestão global Elixirr Consulting. Todas as empresas precisam implantar constantemente novas tecnologias para manter a competitividade, diz ele.

“Um sistema telefônico atualizado pode ser uma nova tecnologia, mas não é inovação. A palavra “inovação” foi diluída e, como resultado, os executivos lutam para criar uma cultura de inovação porque a tentativa é muitas vezes recebida com ceticismo e muita reviravolta dos funcionários”, diz Rybchin.

Isso tornou os funcionários “imunes a muitas iniciativas de inovação porque a palavra se tornou um chavão banal e clichê”, acrescenta.

Como resultado, fomentar uma cultura de inovação não está atrelado à implementação de novas tecnologias ou à mais recente solução digital, diz ele. Em vez disso, está vinculado à implementação de resultados de negócios tangíveis que impulsionam a empresa. “Os funcionários se reunirão em torno de um novo modelo de negócios, uma nova oportunidade de mercado, uma nova oferta de produtos”, diz Rybchin. “Eles não vão se unir ao lançamento de um novo aplicativo”.

Keshavan diz que tenta constantemente incutir o conceito de inovação como solução básica de problemas, observando a necessidade do cliente e, em seguida, encontrando maneiras criativas de atender a essa necessidade. “Os CIOs inovadores colocam as pessoas – seu conhecimento, imaginação e criatividade humana – na vanguarda da solução de problemas e criam um espaço seguro para que elas possam idealizar soluções abertamente”, diz ele.

Só então a discussão sobre ferramentas e capacidades tecnológicas deve entrar em cena. “Na maioria das vezes, a inovação não é criar uma nova ferramenta ou recursos tecnológicos, é mais frequentemente reunir tecnologias existentes de uma maneira diferente para resolver um problema ou atender a uma necessidade”, diz Keshavan. “CIOs que reconhecem que as pessoas inovam e que a tecnologia é simplesmente um meio de dar vida a essa inovação terão mais sucesso”.

Os CIOs devem incentivar as pessoas dentro da empresa a serem apaixonadas pela solução de problemas, que está no centro da inovação, ecoa Marchand. “E eles têm que estimular as pessoas a terem curiosidade desenfreada. É assim que eles fazem a inovação florescer”.

Traga o foco no cliente para a conversa

Prianka Nandy, Diretora de Informação e Tecnologia da Special Olympics International, não teve escolha a não ser repensar como inovar depois que os eventos presenciais foram cancelados durante a pandemia. A organização perdeu muitos atletas e voluntários e isso acabou tornando o momento perfeito para introduzir plataformas digitais e oportunidades para recuperá-los, diz Nandy.

A centralidade no cliente precisa ser o foco, mas Nandy sabia que a TI precisava de dados melhores para tomar decisões para que a organização continuasse a crescer.

A TI está prestes a lançar alguns aplicativos móveis. Uma é para os cuidadores de atletas, para que possam aprender sobre os marcos de desenvolvimento de seus filhos e como seus filhos podem se exercitar mais se isso for um desafio, diz ela. O aplicativo também permite que as famílias se conectem e forneçam suporte.

Outro aplicativo foi desenvolvido para ensinar socialização e conceitos de inclusão para que os atletas possam se engajar e competir por meio do aplicativo. “Pedimos que eles façam algo gentil com um professor ou mostrem apreço a um colega atleta”, diz Nandy. “Através disso, [os olímpicos] podem praticar atividades esportivas e competir contra outras escolas de ensino médio. Portanto, é muito envolvente e é uma ótima ferramenta de recrutamento para conseguirmos voluntários, futuros doadores e futuros participantes”.

Você não sabe onde está a inovação, observa Nandy. “A maior parte da minha liderança estava muito pronta e aberta para mudanças. Leva tempo para ter essas conversas de uma maneira diferente do que fizemos antes”. Isso inclui discussões sobre pensamento de produto, entrega ágil de produtos e educação das pessoas sobre segurança cibernética.

Promova ganhos rápidos

Embora seja importante pensar a longo prazo e resolver problemas maiores, você também precisa incutir a mentalidade de uma vitória rápida, diz Laura Merling, Diretora de Transformação e Operações do Arvest Bank, um banco comunitário com sede em Bentonville, Arkansas. Isso requer encontrar um equilíbrio entre os dois, diz ela.

“As pessoas precisam ver o progresso para entender que a inovação pode acontecer, então você não pode tornar a inovação tão complicada que não possa ser executada”, diz Merling. “Tem que ser dividido em pedaços menores. Isso começa a familiarizar as pessoas com o modelo ágil”.

Antes de ingressar na Arvest, o CEO do banco liderou uma pesquisa para descobrir se os funcionários estavam prontos para a mudança. Entre as informações que a liderança coletou estava que havia pessoas que diziam ter habilidades que não estavam sendo totalmente utilizadas. Isso levou o banco a iniciar um programa de requalificação e qualificação vinculado ao crescimento.

“Coisas assim abrem caminho para a inovação” e ganhos rápidos, diz Merlin.

Moersch, da Transwestern, está trabalhando na abordagem “medir duas vezes, cortar uma vez”, mas diz que você precisa ser capaz de apresentar uma prova de conceito em tempo hábil. “A partir daí, você pode iterar as ideias”, diz ele. “Mas se você esperar demais, seu cliente irá considerá-lo um obstáculo ao invés de um ativo e seguir em frente”.

Amplie o escopo do seu parceiro

A Colgate continua a ter parcerias estratégicas com grandes empresas de tecnologia corporativa, mas Crowe diz que “elas não são suficientes por si só. Agora também precisamos gastar tempo com empresas de capital de risco e startups inovadoras”.

Isso levou ao desenvolvimento de tecnologias de saúde conectadas, como a escova de dentes elétrica inteligente da empresa, Colgate Hum, que promove uma melhor escovação rastreando a frequência, duração e cobertura com um aplicativo proprietário Colgate Connect.

A Colgate fez parceria com uma empresa iniciante na plataforma de saúde conectada, trabalhou com uma empresa de segurança especializada na proteção de firmware e utilizou novos softwares e habilidades de experiência do usuário para desenvolver o aplicativo voltado para o consumidor, diz Crowe. “Esses tipos de colaborações e parcerias multifuncionais são fundamentais para impulsionar a inovação”.

Isso exige que os CIOs busquem e ofereçam perspectivas externas e Crowe acredita que é importante passar tempo com VCs e seu portfólio de startups, pois é onde os investimentos em tecnologia estão acontecendo. Isso permite que ele estude tecnologia avançada e determine sua aplicabilidade.

“Isso não apenas traz novos recursos para a organização, mas ajuda a moldar novas formas de pensar – e trabalhar – dentro da organização de TI e facilita um espírito de inovação”, diz ele.