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Como CIOs e líderes em cibersegurança no Brasil estão reagindo ao coronavírus?

A pandemia do coronavírus tem obrigado companhias e suas equipes a repensarem as formas de trabalho para se manterem produtivas em meio ao forçado distanciamento social – atitude recomendada pela Organização Mundial da Saúde como forma de evitar a escala da doença. Em cenários como esse, os líderes de tecnologia são mais exigidos do que nunca para garantir o fluxo das operações, da mesma forma que mantêm a segurança dos dados para além do perímetro dos escritórios. Afinal, o home office, pelas próximas semanas, parece ser a única saída para a maioria dos setores.

Nesta semana, conversamos com CIOs que, em uníssono, também veem o episódio de saúde pública como uma oportunidade para as organizações reverem os modelos tradicionais de trabalho para, incentivarem de vez, políticas de trabalho remoto. O digital, afirmam, sairá fortalecido. Pensamento semelhante foi compartilhado pelo Gartner: “Quando canais tradicionais e operações são impactados pelo surto, o valor dos canais digitais, produtos e operações se torna óbvio imediatamente. Esse é um alerta para as organizações que focam nas necessidades operacionais do dia a dia às custas dos investimentos dos negócios digitais e resiliência no longo prazo”, destacou Sandy Shen, analista do Gartner.

Sai à frente quem se prepara para todos os cenários

Não é de hoje que a multinacional francesa BIC começou o seu plano de contingência em resposta ao novo coronavírus. Leandro Cresta, CIO da BIC para América Latina e Diretor Global de TI, afirma que a companhia iniciou uma força tarefa para lidar com a questão há semanas, tendo em vista que há escritórios na França (sede da empresa) e em outros países da Europa, que segundo a OMS se tornou o novo epicentro do Covid-19. Nos Estados Unidos, boa parte da operação que trabalha nos escritórios também começou a trabalhar de casa a partir desta semana e o mesmo se reflete na América Latina. “Fizemos um levantamento do ponto de vista de tecnologia, disponibilidade de rede, comunicações, máquinas virtuais, sistamas na nuvem, para garantir que as pessoas trabalhem do seu computador de qualquer lugar”, afirma Cresta em entrevista à CIO Brasil.

Na Alelo, a modalidade Anywhere Office já era adotada muito antes de epidemia. Uma vez por semana, os colaboradores ganham o direito de trabalhar de casa ou qualquer lugar, explicam Adriano Tchen e Soraya Bahde, CTO e Diretora de Gente da Alelo, respectivamente. Com o surto do Covid-19, a área de tecnologia e de recursos humanos precisou apenas dar escala a um plano já bem estruturado. “Disponibilizamos vários recursos tecnológicos para o trabalho remoto como sistemas de videoconferência, ferramentas de colaboração, computadores e celulares”, afirmam.

Até, pelo menos o dia 27 de março deste mês, os escritórios físicos da Atos estarão mais vazios com os funcionários mantendo suas rotinas de trabalho em casa. “Incentivamos fortemente a prática de home office. Durante esse período os nossos escritórios estarão abertos para os funcionários que quiserem trabalhar, mas, orientamos também para optarem por horários alternativos, evitando aglomerações em transportes públicos”, destaca Américo Alonso, Chief Security Officer da Atos. A política de trabalho a distância não é nenhuma desconhecida da multinacional francesa de serviços de TI. “A Atos conta com políticas preparadas para remote working há muitos anos. Faz parte do nosso DNA”, pontua Alonso. A operação da companhia conta com soluções distantes para lidar com a segurança das informações, mas há ainda centros dedicados que recorrem à tecnologias emergentes para delimitar o trânsito de informações no ambiente virtual. Centros de Operações de Segurança Prescritivas da Atos utilizam Inteligência Artificial e Machine Learning para correlacionar diferentes ferramentas, com soluções de análise de comportamento do usuário e ferramentas de Automação e Resposta da Orquestração de Segurança.

A política de home office do Grupo Fleury já tinha sido desenhada há, pelo menos dois anos, junto com o departamento de RH da companhia, diz Luzia Sarno, CIO do grupo. “Um bom contingente de pessoas já estava acostumado. Claro que com o coronavírus, tivemos de expandir muito rapidamente essa realidade, onde ela é viável. Mas conseguimos realinhar rapidamente nossa infraestrutura, VPNs e soluções Citrix que permitem o acesso de forma segura e controlado”, conta Luzia à CIO Brasil. “Na área da saúde, não podemos parar. Estamos na correria para garantir a operação, a operação das pessoas, da informação, de modo que a gente também possa fazer a nossa parte. É um desafio, mas deu certo”, complementa.

Segundo Daniel Jerozolimski, Shared Services & IT Director na CI&T, a multinacional brasileira de soluções digitais conta com um protocolo de quatro níveis de segurança epidemiológico. Ele explica: “varia entre o home office opcional (nível 0, padrão) até o fechamento total do escritório por um período (nível 3)”. De acordo com o executivo, um time global que acompanha diariamente notícias sobre o coronavírus, auxiliado de um corpo médico, decide sobre qual nível adotar em cada uma das bases da companhia no Brasil, Estados Unidos, Europa, Canadá, Reino Unido, Japão e China. “Temos o privilégio de ter escritórios na China e Japão, o que foi fundamental para aprender primeiro lá e poder replicar esse aprendizado depois nas nossas outras unidades. No momento, nossos escritórios no Brasil estão em nível 2, o que significa que apenas pessoas que tenham obrigatoriedade de trabalhar no escritório devem fazê-lo. Todos os outros colaboradores estão trabalhando em home office”, revela.

Em tempos de coronavírus, a TI fica sobrecarregada?

A situação, se não for bem planejada, pode sobrecarregar o time de TI. No caso da BIC, Cresta diz que houve uma leve sobrecarga na infraestrutura e de suporte, dado o plano de contingência em uma escala massiva. Na Alelo, Tchen, reconhece que a demanda bem acima do normal no dia a dia exige do time interno e também do parceiro externo. “Algumas pessoas estão acessando ferramentas com mais frequência que o usual, mas temos conseguido resolver e a experiência do colaborador está cada dia melhor, mesmo neste modelo 100% home office”, destaca.

Já a Atos consegue escalar a segurança mesmo em situações atípicas por contar com 14 Centros de Operações de Segurança (SOCs) pelo mundo. A empresa se baseia neles para gerenciar os próprios serviços e dos clientes. “Utilizamos ferramentas de Machine Learning e Inteligência Artificial para diminuir a sobrecarga na análise de eventos de segurança. Isso nos permite escalar significativamente”, diz o CSO Alonso.

Na CI&T, a configuração de VPN para as máquinas que ainda não a possuíam exigiu uma força tarefa do time de TI que foi resolvida em dois dias. O suporte da TI também acontece de forma remota e eventualmente pode ser necessário um suporte local. “Os times de monitoramento e segurança já possuem ferramentas preparadas para o trabalho remoto e para monitorar todo o tráfego dos colaboradores e colaboradoras que estão em home office; então, nesse caso, nenhum aumento de carga de trabalho foi observado até agora”, diz Jerozolimski.

“A distância” não precisa ser isolamento total

Com o avanço do Covid-19, não estamos falando de uma situação onde as pessoas receberam o home office apenas como um benefício. A distância social é, de uma forma ou outra, necessária. Esse tipo de isolamento forçado pode, não só a médio-longo prazo prejudicar, as relações de trabalho, como levar à quadros de depressão. Segundo uma revisão de pesquisas publicada na revista científica The Lancet sobre os efeitos psicológicos da quarentena durante o período da epidemia de SARS, que surgiu em 2002, 29% das pessoas apresentaram sintomas de estresse pós-traumático, enquanto 31% tiveram depressão depois do isolamento.

Nada substitui os encontros presenciais, claro, mas uma rotina de reuniões e comunicação entre colaboradores e gestores é fundamental neste processo. É também preciso descontrair. “É importante manter os ritos sociais entre o time (reuniões diárias, reuniões de fechamento de sprint etc). Ninguém pode se sentir sozinho a ponto de não pedir ajuda para enfrentar uma dificuldade, mesmo quando se está fisicamente distante dos outros integrantes do time”, recomenda Jerozolimski, da CI&T. Ele incentiva, inclusive, os times a se reunirem mesmo que remotamente para “tomar um café” e bater papo. “Somos seres sociais, e, nesse momento de incerteza, o apoio do ombro amigo é essencial do lado emocional para atravessar esse período”, complementa.

Produtividade fica comprometida?

Na visão de Leandro Cresta, da BIC, o home office não compromete a produtividade. Há mais de 12 anos, o executivo vem gerenciando times em diferentes empresas e o trabalho remoto tem sido uma de suas bandeiras. “O home office é muito cultural. Mas não é o local onde se trabalha. A produtividade e a entrega devem ser definidas com métricas, com revisão do gestor, então tudo isso são elementos que passam como componentes de equipes de alta performance”.

A maioria dos CIO recorrem às ferramentas do Microsoft Office 365 e do Teams para as videoconferências. Já a Atos conta com uma solução própria de comunicação e colaboração, a Circuit, que permite realizar chamadas de videoconferência, compartilhar tela entre os participantes, arquivos, vídeos e mensagens. Além do Skype e Microsoft Teams, a Alelo utiliza a NetGlobe. Para além das ferramentas de comunicação e colaboração do G Suite, a CI&T utiliza outras plataformas que auxiliam tarefas específicas remotas, como o Mural.ly. “Em alguns casos, estamos investindo em mais licenças dessas ferramentas de acordo com a demanda para habilitá-las para os colaboradores e colaboradoras trabalhando remotos que necessitam usá-las”, diz Jerozolimski.

Para Luzia Sarno, CIO do Grupo Fleury, o home office pode se mostrar ainda mais produtivo para os colaboradores do que um escritório físico, minado por distrações. “É um mindset. E falo como gestor. Não quero saber se a pessoa ficou até mais tarde ou se dormiu até mais tarde. Se você entregar, entregou, isso que importa. Tem um nível de maturidade que se adquire dos dois lados. O profissional vai se sentir mais maduro ao ter de gerenciar seu próprio tempo”.

Momentos difíceis cobram liderança

Diante de uma situação crítica como a atual, qual é a postura que líderes das organizações devem tomar? Leandro Cresta, da BIC, lembra que é preciso manter uma comunicação transparente, clara e estruturada. “A essência da comunicação é o cuidado, ter exemplos claros, demonstrar que tanto líder e companhia estão preocupados com uma situação global, para além da situação dos negócios. Tenho ouvido muito das empresas e líderes sobre o cuidado com as pessoas. Isso precisa ser comunicado com frequência, pois ajuda que todo esse processo seja mais fácil. E por que falo que é um processo? Muita gente nunca trabalhou de casa. É uma mudança. E reagir à uma mudança, seja ela planejada ou não, nem sempre é fácil. A função da liderança é primordial. O líder precisa ajudar a organização e os indivíduos a atravessarem estes momentos de mudança”, reflete.

Adriano Tchen e Soraya Bahde, da Alelo, defendem a mesma opinião. “É muito importante que o líder coloque as pessoas, e o time em primeiro lugar, apóie esta transição para o trabalho 100% home office estando disponível para dúvidas e direcionamentos, e principalmente, dê tranquilidade para que o dia a dia continue, apesar das restrições temporárias que estamos vivendo”, afirmam.

Na visão de Daniel Jerozolimski, Shared Services & IT Director na CI&T, existem dois aspectos-chave que um líder deve se posicionar nesse momento. Em primeiro lugar, diz ele, um tem seu o aspecto mais prático, de agilidade na tomada de decisão para eliminar obstáculos que as políticas e regras padrões podem trazer quando se realiza um movimento de home office de grande porte na rapidez que o negócio necessita. O sucesso para tal movimento, argumenta, o executivo depende também de ouvir a opinião dos colaboradores e colaboradoras e agir com rapidez com base nos feedbacks. “Foram determinantes para o sucesso dessa estratégia”, conta. O segundo aspecto é mais humano e está relacionado à visão de longo prazo do momento, em que há muita incerteza no ar. “Um líder nesse momento deve mostrar que sentir preocupação é normal, mas que existe ‘luz no fim do túnel’ e que vamos sair mais fortalecidos quando esse momento acabar”, aconselha.

Uma oportunidade para implantar o home office

Para os líderes ouvidos pela CIO Brasil, o distanciamento social terá, no fim, quebrado alguns paradigmas aos negócios. “Depois que isso passar, acho que terá deixado uma mudança significativa na forma que as empresas pensam o trabalho, verão que o trabalho remoto é factível”, destaca Leandro Cresta citando os benefícios para os dois lados da organização: tende-se a melhorar a retenção de talento, além de impactos em uma escala macro como sustentabilidade.

Adriano Tchen também reforça o saldo positivo para o meio ambiente: “Acredito no anywhere office como forma de trabalho que gera impacto positivo no meio ambiente e também na qualidade de vida das pessoas. Novas tecnologias ajudam muito nesse sentido, mas acho que a mudança principal que este cenário gerará nos líderes, será quanto a efetividade do trabalho remoto e até sua relevância como contingência para o negócio, além de fator de retenção e motivação dos times”.

Para além do aspecto de produtividade, Daniel Jerozolimski, da CI&T, afirma que a companhia também observa outros fatores importantes para avaliar a sustentabilidade do trabalho remoto em larga escala. Segundo o executivo, é a modalidade que pode contribuir com velocidade de formação, crescimento dos colaboradores e, claro, da própria empresa. “Ainda estamos observando os indicadores iniciais, mas apostamos que, no fim desse período, fortaleceremos vários aspectos da nossa cultura e estaremos ainda mais preparados para trabalhar com times multidisciplinares distribuídos. Esse processo de aprendizagem e evolução com certeza trará muitos benefícios internos e também para nossos clientes. Tem sido uma experiência muito interessante ter a oportunidade de liderar e acompanhar um momento como esse”, reflete.

CSO da Atos, Américo Alonso, endossa o mesmo pensamento. “Sou um forte incentivador desta medida. Acredito que as pessoas, sempre que o trabalho possibilite, são mais produtivas trabalhando na forma que se sentem mais confortável. Este é um exercício para colocarmos em prática, full scale. A transformação digital em segurança é a capacidade de proporcionar serviços inovadores, mesmo que fora das premissas tradicionais das empresas”.

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