Brasil digital: por que precisamos de senso de inconformismo

Executivos apontam desafios para que o Brasil se torne uma nação inovadora e inclusiva. Mudança tem de ser agora, alertam líderes empresariais

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12:25 pm - 18 de outubro de 2018

Potencial não falta. Mas o fato é que o Brasil não consegue engrenar – e nós, brasileiros e pessoas de outras naturalidades que vivem no Brasil, sabemos muito bem disso. País tropical, belezas naturais, vasta matriz energética, recursos naturais e livre de desastres naturais. Características não faltam para sermos um país de ponta, mas o cenário é bem diferente.

O Global Competitiveness Index 4.0, estudo do Fórum Econômico Mundial divulgado mundialmente nesta semana, mostra o Brasil em queda no ranking global de competitividade. Do ano passado para 2018, o País perdeu três colocações, saindo da posição 69ª para a 72ª, atrás de nações em desenvolvimento, como Rússia e Índia, além de vizinhos latino-americanos, como Chile, Colômbia e Peru. No ranking de competitividade da IMD, o cenário é ainda pior: o Brasil é o 57º colocado entre 63 naçoes avaliadas – e ainda perdeu duas posições em relação a 2017.

Mas o que fazer para sermos competitivos e equipararmos a potências mundiais? A tecnologia é um dos pilares que pode ajudar o Brasil a dar esse salto em busca de se tornar uma nação verdadeiramente digital.

Mas a mudança tem de ser agora. A opinião é unânime entre executivos que estão liderando iniciativas digitais no País. O Movimento Brasil Digital, liderado pela IT Mídia, por exemplo, já conta com apoio de dezenas de grandes empresas, de diferentes setores, que buscam criar um país inovador e inclusivo. Entenda mais sobre o Movimento.

Senso de inconformismo

Eduardo Navarro, presidente da Vivo, é enfático: precisamos criar um senso de inconformismo no Brasil. “Ao mesmo tempo em que somos otimistas, precisamos estar inconformados. Não podemos mais ser o país do futuro. Se o Brasil perder a próxima década na revolução digital, acabou. Temos dez anos para mudar isso. Precisamos de um inconformismo muito forte. Podemos ser otimistas, mas inconformados”, afirmou o executivo, durante debate no IT Forum X, evento realizado nesta semana pela IT Mídia em São Paulo.

O painel contou também com participação de Luiz Sérgio Vieira, presidente da EY Brasil; Miguel Setas, presidente da EDP; Bruno Pierobon, presidente da ZUP; além de Adelson de Sousa, presidente da IT Mídia.

Para Vieira, o futuro já existe, mas está “mal distribuído”. O executivo destacou que, se o Brasil não agir nesse momento de revolução digital, teremos consequências muito graves. Uma delas é o conceito de useless, ou inúteis, que seria uma definição além do jobless, ou desempregados. “Corremos o risco de termos pessoas sem uso. Isso pode ser um desastre, com problemas de saúde mental, por exemplo”, alertou. “Precisamos ter senso de urgência para mudarmos essa realidade”, adicionou.

Pilares para a transformação

Os quatro pilares do Movimento Brasil Digital de fato resumem um norte para o País iniciar seu caminho. A iniciativa mapeou os temas Infraestrutura, Educação, Empreendedorismo e Governo, em oito países (Reino Unido, Canadá, Suécia, Alemanha, Austrália, Espanha, México e Índia) para tirar insights sobre o que pode ser usado no Brasil – e também identificar onde estamos errando.

Somado a esses pilares, o Movimento traz à tona a questão da inclusão, que deve ser prioridade para pensar no impacto humano da tecnologia.

“O Movimento tem um propósito muito claro: a síntese é transformar o Brasil em um país inovador e inclusivo. Ele é tão desafiador que é importante olhar a reler para que tecnologia e inovação estejam no centro da estratégia do Brasil”, destacou Sousa.

Infraestrutura

No quesito infraestrutura, para Navarro, o Brasil, no caso de telecomunicações, está aquém. O executivo afirmou que o País teve grandes avanços, mas ainda insuficiente.

“Dos cerca de 5,5 mil municípios, pouco menos de 4 mil têm cobertura de 4G. Pelo menos 1,5 mil municípios não têm cobertura de 4G. O campo, cada vez mais importante pra o país no agronegócio, não está coberto. E no máximo 400 dos municípios têm fibra de qualidade”, disse.

A solução, segundo Navarro, não seria injetar mais investimentos no setor, mas sim, usar o que já tem disponível. “Não precisamos de dinheiro novo. Temos muito dinheiro velho que poderia ser usado. Temos muito investimento no setor e é preciso maior priorização”, apontou Navarro.

No caso da infraestrutura de energia, Setas adotou postura otimista ao indicar os avanços recentes do Brasil. “Se olhar nos últimos 20 anos e compararmos com agora, a capacidade instalada cresceu três vezes. O país cresceu muito rapidamente e o consumo de energia elétrica cresceu quase 70%”, disse o líder da EDP.

Setas citou também uma arrancada do Brasil nos últimos anos, referindo-se ao setor de energia. “Vimos isso em energia eólica, por exemplo”, apontou o executivo, citando que o Brasil hoje já é o quarto país do mundo em produção deste tipo de energia. “Temos um sistema robusto que liga norte a sul. O Chile, por exemplo, acabou de fazer sua primeira ligação, algo que o Brasil já tem há anos. Temos um complexo de inferioridade perante ao resto do mundo”, disse.

Empreendedorismo

Sousa destacou o empreendedorismo como um pilar primordial para o desenvolvimento do país. “Temos uma cultura empreendedora. O que precisamos é fazer com que essas pessoas confiam mais”, disse Sousa, que fundou há 21 anos a IT Mídia.

“Somos uma nação criativa, de pessoas que têm muita capacidade de empreender. Mas nós, líderes empresariais, precisamos despertar isso nas pessoas”, completou.

Pierobon é um dos bons exemplos de empreendedorismo que o Brasil tanto busca. Ele fundou, há sete anos, a empresa de serviços de tecnologia Zup, que atualmente conta com 800 funcionários e uma poderosa cartela de clientes, que reúne nomes como Natura, Vivo, Buscapé, Santander e Mastercard.

Para o empreendedor, o grande problema desse ecossistema de startups no Brasil é a falta de cases de sucesso. “Hoje, todo mundo que começa acaba cometendo o mesmo que outros já cometeram. Precisamos errar menos em coisas que já erraram antes”, alertou.

Pierobon disse que questões como levantar capital, por exemplo, é uma barreira enfrentada por empreendedores brasileiros e algo que era um desafio nos EUA há dez anos. “Precisamos estar mais conectados”, concluiu.

Líderes empresariais unidos

Mais do que nos governos, a mudança precisa estar na mentalidade da sociedade como um todo – o que inclui a iniciativa privada.

“As lideranças empresariais desapareceram nos últimos anos. Onde está o empresariado?”, disparou Navarro, pedindo o engajamento de líderes empresariais em prol do desenvolvimento do País.

Vieira complementou: “Os líderes precisam ter o protagonismo e criar um ecossistema que seja sólido”, finalizou.

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