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Blockchain será uma vitamina ou um veneno?

Recentemente li uma reportagem que me chamou atenção:  “Dubai
quer todos os documentos do governo em Blockchain até 2020
”. A conclusão é
que Blockchain está bem mais próximo de acontecer do que sugere a nossa vã
filosofia… Claro, ainda estamos no início da curva de seu aprendizado e não
temos respostas para muitas das questões. Aliás, nem sabemos direito quais
questões formular. Mas, é indiscutível que existe um clima de empolgação
similar ao do início da revolução da web, por volta de 1995. Há 20 anos não
tínhamos ideia do poder transformador que a Web embutia. Hoje, não vivemos sem ela.

Temos ainda um árduo caminho de aprendizado para entendermos
o potencial do Blockchain. Venho estudando e escrevendo sobre isso, e a cada
livro ou artigo lido, mais uma nova janela se abre. No último post já abordei
um pouco desse potencial, como pode ser visto aqui.

O desafio é que muitas vezes os artigos que leio
concentram-se mais nos aspectos técnicos, e sabemos que as oportunidades
surgirão quando olharmos para as implicações de negócios. Aí veremos as
disrupções que o Blockchain pode provocar. Para algumas dessas implicações de
negócio, recomendo a leitura do livro “The
Business Blockchain: Promise, Practice, and Application of the Next Internet
Technology
” de William Mougayar, e também uma olhada no vídeo do TED, “How
the Blockchain is changing money and business”
, com Don Tapscott. Fica
claro que o Blockchain está para os tempos atuais como a Web esteve para os
negócios no início dos anos 90. Um oceano azul de novas oportunidades a
explorar.

O princípio básico do Blockchain é ser uma tecnologia que
registra permanentemente as transações, de forma que elas não podem ser
apagadas, mas apenas atualizadas sequencialmente. Em essência, é uma história
sem fim de algum registro, seja ele um bem tangível (um imóvel ou uma obra de
arte) ou um bem intangível (ações de uma empresa).

Essa simples descrição provoca uma mudança de paradigma em relação
à maneira como nos acostumamos a criar e armazenar informações sobre esses
bens. Aponta para uma nova maneira de implementar transações confiáveis, sem a
necessidade de intermediários que garantam essa confiabilidade, como cartórios
ou bancos.

Bem, é essa mudança de paradigmas que gera o turbilhão… Os
executivos dos negócios afetados pelas mudanças ainda não estão certos se o Blockchain
vai abrir novas oportunidades, permitindo-os serem mais eficientes, ou se, ao
contrário, será um inimigo, abrindo as portas para novos entrantes que os
tirarão do jogo. Será uma vitamina ou um veneno?

Qualquer que seja o caminho, a marcha do Blockchain já
começou. A reportagem citada no início deste artigo mostra que a roda já está
girando. Da mesma forma que hoje usamos o Google para buscar qualquer
informação, é provável que, no futuro, os Blockchains venham a ser os “googles”
usados para validarmos a autenticidade de títulos, a propriedade de bens ou até
mesmo a identidade das pessoas. Em vez de perguntarmos “isso está no banco de
dados? ”, perguntaremos “isso está em Blockchain?”.

Reparem, falei em Blockchains, no plural. Sim, Blockchain
não é um protocolo como TCP/IP que é único para toda a Internet.Teremos
diversos Blockchains como aplicações em cima da Internet. Aliás, essa é a única
condicionante para o Blockchain. Tanto a Web como Blockchain não poderiam
existir sem a Internet. Também como temos uma Internet pública e variantes
internas, como intranets, teremos também Blockchains públicos como Bitcoin e Blockchain
privados, disponíveis apenas a uma ou a um grupo de empresas.

Diante deste cenário é estratégico que as empresas comecem a
prestar atenção a Blockchain. Não é apenas mais uma tecnologia, mas é uma
tecnologia que permitirá substituir tecnologias e práticas atuais. Em resumo, Blockchain
é uma tecnologia que pode mudar outras tecnologias.

O desafio é então entender se Blockchain será uma ameaça ou
um alavancador de oportunidades e o e explorar da melhor maneira. Qualquer que
seja a resposta, ficar inerte será a pior decisão. Quanto mais cedo a empresa  tiver a percepção de como, quando e de que
forma será afetada pelo Blockchain, mais cedo ela poderá reagir.

Como sugestão, sugiro que a primeira ação seja criar um “Blockchain
lab” para direcionar as iniciativas exploratórias e entender o impacto de Blockchain
na empresa e no seu setor de negócios. Como a maioria das disrupções surge fora
das empresas atuais, em startups que não têm compromissos com os modelos atuais,
observá-las de perto é importante, pois elas podem direcionar novas maneiras de
fazer as coisas. Além disso, considere que os experimentos de Blockchain ainda
estão em protótipos e, portanto, não se iniba diante das limitações da tecnologia.
A evolução exponencial permite que restrições limitantes de hoje deixem de existir
em poucos anos.

 

Por exemplo, experimente navegar por conceitos novos. Blockchain
permite a criação do conceito de “smart property”. É a representação digital de
um bem ou propriedade. Entretanto, como antes não existia uma ligação direta
entre o mundo digital e o físico, como por exemplo, um numerário, uma mesma
nota física representada digitalmente poderia ser enviada para duas pessoas.
Daí a necessidade de bancos, ou intermediários, para garantir que a transação seria
válida e que não existiriam duas cópias do mesmo numerário. Com Bitcoin viu-se
que é possível garantir a identificação inequívoca da “moeda” e que ela não poderia
ser enviada para duas pessoas. O banco já não seria mais necessário para
garantir essa unicidade.

Levemos isso mais à frente e além de numerários, pensemos em
bens como imóveis, obras de arte, joias ou mesmo registros de casamentos ou
identidades pessoais.  Blockchain
torna-se um veículo de autenticação de um ativo, ligado a uma assinatura
criptográfica e totalmente auditável. É uma impressão digital e, portanto,
única, de um bem. Essa ligação é reforçada pela funcionalidade de “smart
contracts” onde o código que garante que determinada regra de negócio seja
ativada está na própria transação. Essa funcionalidade torna irrelevante muito
dos sistemas legados que tentam garantir a validade das transações atuais.

O “lab” tem como função experimentar esses novos conceitos e
para isso deve buscar problemas reais que estejam gerando fricção. Importante
ter no “lab” não apenas técnicos que conheçam Blockchain, mas também pessoas
que conheçam os problemas dos negócios atuais e pessoas de fora, que não
estejam limitadas pelas atuais regras do negócio. Lembrem-se que Skype e
WhatsApp não surgiram de dentro das empresas de telecom, nem Airbnb surgiu de
dentro de uma rede hoteleira.

O “lab” também deve validar as atuais ofertas de tecnologias
Blockchain, como as oferecidas pela IBM, Microsoft e outras. Até que ponto
esses fornecedores estão no estágio de “hype ou estão realmente comprometidos
com a desenvolvimento da tecnologia. Quantos profissionais estão realmente
envolvidos nas iniciativas Blockchain desses fornecedores. Qual o montante de
seu investimento em Blockchain? Qual o roadmap planejado?

O “lab” deve criar condições para que as iniciativas bem
sucedidas saiam do estágio de experimento para o de produção, até mesmo
substituindo processos e sistemas legados. Isso implica que o “lab” tem que ter
apoio e comprometimento da alta direção da empresa. Não é uma iniciativa
puramente de experimentos tecnológicos. É estratégico para o negócio.

A primeira transação comercial pela web aconteceu em 1994 e
de lá para cá viu-se novas e gigantescas empesas surgirem desse novo paradigma.
O Facebook, a Amazon e o Google do Blockchain ainda não surgiram. Mas surgirão
em breve. Negócios tradicionais sofreram disrupção e muitos saíram do mercado
ou perderam relevância. Blockchain tem o potencial de provocar nova onda de
mudanças nas empresas e em diversos setores de negócio.

Claro que o “lab” vai encontrar resistências, até pela
incompreensão do que é realmente Blockchain. Quantas empresas não acreditaram
no potencial do comércio eletrônico nos seus primeiros anos? Como disse Clayton
Christensen, autor de “Innovator´s
Dilemma
”: “The worst place to
develop a new business model is from within your existing business model
”.

Enfim, hoje  o Blockchain
está cercado de empolgação, por um lado e ceticismo, por outro. A questão é de
que lado você vai se posicionar. Uma empolgação excessiva poderá ser
frustrante. Por outro lado, o ceticismo pode tirar sua empresa do negócio…

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