Bevap leva inteligência artificial e IoT para processo de colheita, transbordo e transporte

Com projeto, empresa garante primeiro lugar geral no prêmio As 100+ Inovadoras no Uso de TI

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9:43 pm - 17 de outubro de 2018

O agronegócio é, sem dúvidas, motor e protagonista da economia nacional. Hoje, o setor é responsável por quase 30% do Produto Nacional Bruto (PIB). Acontece, contudo, que o segmento é desafiado todos os dias a reduzir custos ao mesmo tempo em que tem de garantir eficiência na produção e nos processos. Para se ter ideia, somente na área de cana-de-açúcar, estimativas apontam que o processo de corte e transbordo é responsável por mais de 28% dos custos totais de produção.

Localizada no noroeste do Estado de Minas Gerais, município de João Pinheiro, na região do Vale do Rio do Paracatu, a Bevap atua no segmento desde 2010, e conhece bem esses desafios. Assim, para ser mais eficiente, aumentando a produtividade, e obter redução de custos de produção, a empresa identificou pontos de melhorias no processo que puderam ser automatizados para alcançar o retorno esperado.

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Fabio André Ramos, gerente de TI da Bevap

Tudo começou em 2017, quando a Bevap entendeu que podia otimizar seu processo de colheita, que era composto em grande parte por ações manuais. Fabio André Ramos, gerente de TI da Bevap, e seu time visitaram dezenas de empresas em busca de uma solução que contemplasse quatro áreas críticas: colheita e transbordo; transporte e logística interna; certificado digital de cana, para eliminar as guias manuais de entrega de cana; e telemetria.

O projeto rendeu à Bevap o prêmio As 100+ Inovadoras no Uso de TI na categoria Agronegócios e Serviços Relacionados, concedido pela IT Mídia, e ainda levou para casa o primeiro lugar geral no ranking. “A inovação surge quando é colocada em prática e gera valor. Esse projeto foi ainda mais inovador para o nosso segmento que está começando agora a investir em tecnologia. Nós saímos à frente”, revelou Ramos.

Uma das formas que a empresa promove a inovação é por meio do seu Comitê de Inovação, coordenado por Ramos e que conta com dez integrantes de diferentes áreas. De março de 2018, quando o grupo foi criado, até hoje já foram 23 inovações apresentadas.

Adeus papelada

O executivo contou que, no cenário anterior da colheita e transbordo, todas as operações eram realizadas de forma manual com o auxílio de rádios e dos líderes de frente e noteiros (profissionais que preenchem as guias de entrega de cana).

Por isso, mesmo utilizando boas práticas operacionais, não era possível atingir a eficiência e o custo necessários. Também não era possível fazer uso otimizado da frota, já que existia falta de transbordo que obrigava a colhedora a parar de colher e aguardar. Outro desafio estava relacionado ao excesso de transbordo, que faziam com que os tratores e a colheita ficassem ociosos.

“Hoje, quando chega 90% da capacidade do trator, automaticamente ele abre uma chamada para outro bordo. Não tem espera. Ganhamos 1h30 de produtividade a mais por dia no ato de colher cana por máquina”, comemorou o executivo, contando que são cerca de 800 transbordos em seis frentes.

Para automatizar esse processo, os transbordos foram equipados com computadores de bordo da empresa Solinftec. Usando tecnologia de internet das coisas (IoT), os tratores transbordos se comunicam com as colhedoras. Os equipamentos na frente de colheita, por sua vez, se comunicam entre si usando machine learning para fazer cálculos de tempo de deslocamento, tempo de basculamento, rotas e identificar qual equipamento a colhedora deverá chamar quando ele finalizar o carregamento do transbordo.

Dessa forma, explicou o executivo, acontece a troca de informações para realização das atividades, processando dados localmente para posterior transferência para o bordo dos caminhões canavieiros, que transmitem os dados do campo para a balança por meio de sensores posicionados nos pátios e nas balanças. No paralelo, as informações são transmitidas via internet para um servidor em nuvem, que disponibiliza os dados para a central de monitoramento também utilizando analytics.

Informações em tempo real

Se antes todo o controle de tráfego não podia ser visualizado em tempo real, no novo cenário tudo pode ser visto no momento em que tudo acontece. Com 30 mil hectares de área plantada, esse cenário possibilitou uma visão 360° de tudo o que está acontecendo, facilitando e agilizando as tomadas de decisão.

Os computadores de bordo exibem, além da localização, o status dos caminhões, incluindo se ele está carregado, vazio, aguardando transbordo ou no pátio. A tecnologia de inteligência artificial turbina o sistema, que tem seu transporte otimizado realizando despachos automático de caminhões para a frente de colheita, da mesma forma que elimina problemas de falta ou excesso de caminhões nas frentes das colheitas.

Certificado digital

Depois de passar pelos estágios anteriores, a cana entra no processo de transporte. Nesse momento, uma guia era preenchida de forma manual. Qualquer erro podia gerar enormes prejuízos à usina. Para eliminar esse risco, a Bevap implementou o Certificado Digital de Canal (CDC), que acaba com a guia em papel. Todas as informações são geradas automaticamente pelos computadores de bordo.

Os dados de localização da fazenda (fazenda, pivô e talhão), equipamentos e operadores envolvidos na colheita bem como as respectivas operações (apontamentos) são transmitidos automaticamente para a balança assim que o caminhão canavieiro entra para pesagem.

Para amarrar o projeto, a TI também implementou um sistema de telemetria nos veículos com o objetivo de ajudar a área de manutenção automotiva, por meio de um sistema que permite o monitoramento on-line das frotas e disponibiliza dados de telemetria (motor ocioso, pressão óleo, esteira ociosa, auxiliar ocioso, temperatura motor etc). Esses dados são captados dos equipamentos e transmitidos para a tela de monitoramento da oficina automotiva. Com esse novo processo, a Bevap registrou muitos benefícios, mas o mais significativo deles foi a redução de 6% com custos de óleo diesel.

“Criamos, ainda, um Centro de Operações Agroindustrial (COA), uma área com equipe qualificada e capacitada para fazer o monitoramento das operações e equipamentos forma garantir que todas as ações sejam tomadas no tempo certo e, o mais importante, prover informações de qualidade e com rapidez para todas as áreas de empresa”, explicou Ramos.

Desafio de pessoas

Um projeto dessa magnitude certamente contou com muitos desafios. Para Ramos, contudo, o mais emblemático esteve nas pessoas. “Houve uma grande mudança cultural, especialmente na forma de fazer as coisas. Tem pessoas que se adaptam bem e outras que não conseguem. Outras não acreditam na solução, criam barreiras e sentem medo. É natural”, comentou.

Mas a boa notícia é que em razão da sua grandiosidade, o projeto demandou ampliação do time. Esse cenário foi bastante positivo, revelou o executivo, já que promoveu um mix de talentos novos e outros com mais tempo de casa.

De olho no futuro

Em nove meses, comentou o executivo, o projeto se pagou. Mais do que o ganho financeiro, Ramos contou que agora a Bevap tem uma qualidade e segurança da informação.

Para ele, um fator-chave de sucesso do projeto foi o envolvimento das áreas de negócios. “Sem negócios e TI apoiando não é possível evoluir de forma satisfatória”, finaliza o vencedor de 2018 do prêmio As 100+ Inovadoras no Uso de TI.

Finalistas da categoria Agronegócio e serviços relacionados

1º Bevap – Fabio André Ramos, gerente de TI
2º AC Proteína – Pedro Emanuel de Araujo Mesquita, encarregado de TI
3º Adama – Luciano Lance, gerente de TI

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