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Avanço do coronavírus no Brasil acende alerta para a transformação digital da educação

Em resposta ao avanço do novo coronavírus no Brasil, o Ministério da Educação (MEC) autorizou o ensino a distância em cursos presenciais. Com a medida publicada no último dia 18 de março, as universidades do sistema federal de ensino e faculdades privadas, além do Colégio Pedro II e Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines) e Instituto Benjamin Constant (IBC), podem substituir as disciplinas presenciais por aulas online. O período de autorização é por 30 dias, com a possibilidade prevista de ser prorrogado.

Em comunicado enviado à redação da Computerworld Brasil, a ESPM informou que a partir do dia 23 de março, a faculdade de publicidade e marketing dará início às aulas online. Elas serão ao vivo e nos mesmo horários das presenciais. Segundo a instituição, os professores passaram a última semana realizando cursos para se adaptarem ao novo formato. A faculdade possui uma unidade de cursos a distância (EAD), mas os cursos de graduação acontecem no formato tradicional.

Medida semelhante oficializou a Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) que nos informou que do dia 23 de março até, pelo menos, o dia 18 de abril, os planos de estudo serão domiciliares e disponibilizados em plataforma digital. Trata-se, diz a universidade, de um regime excepcional. A medida ” visa preservar a comunidade Mackenzista em meio a este grave problema de saúde pública, em nível internacional”, informou. Os alunos terão um plano de estudos semanal disponibilizado na plataforma Moodle, com tarefas a serem desenvolvidas a distância com o acompanhamento de professores.

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Vale lembrar que as instituições que optarem pela substituição de aulas físicas pelas online deverão comunicar a decisão ao MEC no prazo de 15 dias da data da publicação da portaria.

“Em situações como a que estamos vivendo neste momento, o Ensino a Distância é uma ferramenta útil e importante para preservarmos a saúde do aluno, sem violar o seu ritmo de estudos e ainda sem comprometer seu calendário acadêmico”, destaca o diretor administrativo do Instituto Pedagógico de Minas Gerais (Ipemig), Lucas Lage. “A partir do momento que existe uma plataforma de apresentação do conteúdo didático e que também permite a avaliação para checar a capacitação do aluno, o mesmo poderá ter seu acompanhamento com sucesso e não será prejudicado em nada”, complementa.

Covid-19 cobra também a transformação do ensino

Para Adriano Mussa, Sócio, Reitor, Professor e Diretor Acadêmico e de Inteligência Artificial do LIT e da Saint Paul Escola de Negócios, o ensino a distância é uma necessidade emergencial. “Não temos outra opção a não ser a distância social e é um caminho que não se sabe ainda quanto tempo levará”, avalia em entrevista a Computerworld Brasil. Mussa é co-Idealizador do LIT, plataforma de ensino que utiliza de ferramentas como Big data e inteligência artificial para individualizar o ensino.

A Saint Paul, escola de negócios, possui aulas presenciais. Entretanto, Mussa conta que desde o dia 14 de março, a escola suspendeu o formato tradicional de ensino para substituir por aulas com transmissão ao vivo em uma ferramenta que a organização já usa há anos. “Permite a possibilidade de interação. É claro que nada substitui uma aula física. Mas tivemos uma resposta muito rápida em decorrência que há quatro anos começamos esse trabalho com o LIT”, explica.

Por meio do LIT, a Saint Paul já estava preparada para uma crise sem precedentes dos modelos tradicionais. “Começamos essa transformação digital há quatro anos. Então, a resposta que tivemos foi muito rápida”, defende. “A adapatção [das outras escolas e universidades] depende do nível de maturidade digital delas. E quando digo digital, não é só ter um curso de EAD, diz respeito a cultura interna de cada escola”, argumenta.

A Le Wagon, escola de programação francesa em formato bootcamp e com unidades em São Paulo, Rio de Janeiro e em outras cidades mundo afora, fechou todos seus espaços e escritórios até nova ordem. A organização lançou uma campanha em seus canais de comunicação, a #stayhome, que incentiva alunos e colaboradores a ficarem em casa. “A prioridade absoluta é a saúde dos alunos e professores”, destaca Mathieu Le Roux, cofundador do Le Wagon na América Latina em entrevista à Computerworld Brasil.

Os bootcamps de programação da Le Wagon são integralmente presenciais, explica Le Roux, com conteúdo e trabalho para o estudante fazer em casa. O formato muda agora. “As turmas trabalham temporariamente de casa e estão tendo a aula inaugural de manhã através de um conferência pelo Zoom onde o professor compartilha a tela dele. Durante o dia, os atendimentos entre alunos e monitores são feitos através do Slack, com a ajuda to Teamviewer para o professor poder tomar controle do laptop do aluno a distância”, detalha. Segundo Le Roux, todos os ajustes para entregar um novo modelo de ensino emergencial foram desenvolvidos por uma rede mundial. “São 16 pessoas trabalhando para adaptar nossa plataforma para os 38 campus no mundo inteiro. Como estamos na China e Itália, a ficha caiu cedo para todos nós”, conta.

Como fica a eficácia do ensino?

Os especialistas com quem conversamos são uníssonos em afirmar que “nada substitui o ensino presencial”. Mas atualmente há uma série de ferramentas digitais que recorrem a algoritmos para entenderem a melhor forma como aprendemos. A plataforma LIT alimentada com as tecnologias do IBM Watson promete entregar o aprendizado em um nível de personalização.

Adriano Mussa explica que a inteligênica artificial consegue fazer uma varredura nos dados coletados a partir da aprendizagem dos alunos. Com isso, traça-se um perfil e um estilo de aprendizagem. A inteligência artificial ainda assume a personificação de um robozinho – o chatbot Paul. As interações com o Paul permitem, ao longo do tempo, sofisticá-lo em suas respostas já que se trata de uma inteligência que vem sendo alimentada artificialmente há dois anos. “É uma forma de uso da tecnologia que favorece a aprendizagem”, pontua Mussa. “O aluno conversa com o Paul, são perguntas e respostas, e ele vai aprendendo de um jeito diferente”.

A companhia faz estudos de casos comparativos para avaliar a aprendizagem que se dá em formato integralmente presencial versus aquela que conta com iniciativas digitais, uma modalidade conhecida como “blended”. “Nos nossos estudos de caso, o nível de absorção no blended é superior”, destaca. No plano emergencial para as aulas de negócios da Saint Paul, o que se decidiu foi a transmissão de aulas ao vivo dada as experiências anteriores que se mostraram eficazes com os alunos. “Estamos intensificando a prática de diferentes formas em caráter excepcional. Pois sabemos que só a transmissão assíncrona [com materiais gravados] tem um poder. Quando se coloca ao vivo, ela exponencia demais”, explica.

Na Le Wagon, Mathieu Le Roux explica que o modelo emergencial implantado em resposta ao avanço do covid-19 não influenciará na retenção e avaliação do aprendizado. “Métricas de aprendizado não mudam, continuamos seguindo o desempenho de cada aluno através dos desafios que eles postam no Github ao longo do dia de aula. Remotamente ou presencialmente, não impacta. As tecnologias para fazer isso tudo funcionar são várias, inclusive a própria plataforma do Le Wagon se revela essencial nessa situação, e além disso estamos usando Slack, Zoom, Teamviewer, Github para manter interações necessárias para o aprendizado acontecer”, reforça Le Roux.

Com o surto do novo coronavírus, a Le Wagon analisará os impactos do modo remoto, com Le Roux não descartando a possibilidade de escalar a modalidade pós-pandemia. “Vamos analisar. Já tínhamos filmado todas as aulas para disponibilizar aos que ficassem doentes. Mas continuamos achando que a força do ensino presencial favorece uma experiência em sala de aula, pois rola muita interação entre os alunos”, informa Le Roux.

O digital como benchmark

Com todos os alunos aprendendo agora em casa, o time de Data Science da Saint Paul terá daqui para frente muito trabalho. “Estamos observando os dados e a turma de Data Science que está nos bastidores está rodando testes e vendo resultados diferentes de aprendizagem. Colocar todos os alunos online gera uma capacidade incrível de se gerar dados. E com dados conseguimos melhorar a cada dia. A cultura dos dados nos favorece muito neste momento”, explica Mussa.

Mathieu Le Roux também alerta para a importância da digitalização em momentos como esse: “Como toda crise, vamos ver uma aceleração das tendências pesadas que o mundo já estava vendo. Digitalização dos processos, trabalho na nuvem, e-commerce, carreira remota de nômade digital. Vemos que as necessidades para softwares com base na web vão aumentar ainda mais”.

Mas para as escolas que ainda não possuem a cultura digital, Mussa destaca que agora é o momento de testar e começar “com o que se tem”. “Parece bobagem, a gente pode usar a tecnologia que for, a mais avançada ou não, mas estamos falando de pessoas, a aprendizagem é humana, é algo óbvio. Então se as escolas não tiverem uma tecnologia avançada, usa o que se tem, o que for de conhecimento plug and pay. Acho que no fim do dia, fazer grandes saltos agora pode ser confuso”, pontua. “Estamos em um momento contingencial. E acho que no final, todo mundo sairá fortalecido com isso”.

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