Apple, Dell, Google, Microsoft e Tesla são acusadas por trabalho infantil
International Rights Advocates afirma que as empresas têm ciência de que crianças trabalham nas minas do Congo que fornecem cobalto a seus aparelhos

A organização International Rights Advocates abriu nesta segunda (16) um processo contra algumas das principais empresas de tecnologia no mundo alegando que elas têm conhecido e são coniventes com o trabalho infantil praticado nas minas de cobalto no Congo, onde crianças realizam tarefas pesadas por um pagamento anual de, no máximo, dois dólares.
Encontrado em poucas regiões, o cobalto é um metal utilizado nas baterias de diversos eletrônicos, como smartphones e carros elétricos. Atualmente, 60% de todo o cobalto utilizado no mundo é extraído diretamente do Congo por meio de locais conhecidos como minas artesanais.
Em um documento (em inglês) de 79 páginas, a International Rights Advocates apresenta a história de 14 crianças, representadas por suas famílias, que trabalharam nesses lugares e foram mortas ou sofreram algum acidente permanente durante o trabalho.
De acordo com o processo, Apple, Dell, Google, Microsoft e Tesla são algumas das empresas que recebem cobalto pelas mineradoras nas quais as crianças trabalhavam e que as marcas têm ciência das condições de trabalho desses espaços.
A reportagem do The Guardian que apresenta o assunto relata o caso de 2 das 14 crianças apresentadas no processo. No primeiro,
uma criança de nove anos começou a criança começou a trabalhar nas
minas após a família não conseguir pagar sua mensalidade de US$ 6 na
escola. Em abril de 2018, o túnel em que estava cedeu e a ela foi
enterrada viva — a família nunca encontrou seu corpo.
No segundo, uma criança de nove anos começou a trabalhar carregando rochas de cobalto por US$ 0,075 por dia e, no dia em que caiu em um túnel, precisou ser resgatada por outros colegas de trabalho porque a empresa não prestou socorro algum. O acidente provocou tetraplegia no menino, que não tem movimentos da região do tórax para baixo.
Conivência e participação
As crianças mencionadas no processo trabalhavam para duas empresas diferentes, que tinham como cliente final algumas das gigantes de tecnologia. Uma delas é a mineradora britânica Glencore, que tem parceria com fornecedora belga de metais Umicore, que conta com Apple, Google, Tesla, Microsoft e Dell como clientes.
A outra marca citada é a mineradora chinesa Zhejiang Huayou, que fornece cobalto diretamente para Apple, Dell e Microsoft.
Segundo o processo, “As empresas conhecem há um período significativo a realidade de que o setor de mineração de cobalto da RDC [Républica Democrática do Congo] depende de crianças, com os meninos realizando o trabalho mais perigoso nas minas primárias de cobalto, incluindo escavação em túneis.”
Por conta desse suposto conhecimento e de, mesmo assim, não terem tomado medidas mais efetivas para fiscalizar as condições de trabalho oferecidas pela mineradora, o processo movido pela International Righst Advocates busca indenizações para as famílias por crimes como trabalho forçado, enriquecimento ilítico e falta de supervisão.
Até o momento, nenhuma das empresas de tecnologia se manifestou sobre o assunto. Em nota a Glencore afirmou que “não tolera qualquer forma de trabalho infantil, forçado ou compulsório.”