Aceleração do digital leva empresas a responderem rápido com inovação

Impulsionada pela pandemia, indústria de tecnologia viu a demanda saltar nos últimos meses, entregando projetos previstos para dois anos

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10:22 am - 07 de outubro de 2020
Transformação digital

<<Esta é primeira parte da reportagem do Especial Transformação Digital>>

Nos últimos meses, a digitalização ganhou força em função da crise e da necessidade gerada em fornecer no ambiente on-line a mesma qualidade na prestação de serviços e atendimentos experimentada de forma presencial. Como resultado, o ‘digital first’ foi uma das principais mudanças impostas pela pandemia e uma resposta aos novos hábitos dos compradores de tecnologia.

“Empresas passaram a priorizar tecnologias que iam demorar 12 ou mais meses para serem implementadas”, comentou Luciano Ramos, gerente de Pesquisa e Consultoria de Enterprise da IDC Brasil, em entrevista ao IT Forum 365. Assista à entrevista completa no vídeo abaixo.

A IDC buscou entender o pulso da pandemia no Brasil e identificou que mais de 56% dos negócios endereçaram temas que não estavam na pauta, como trabalho remoto e canais digitais. “Cerca de 26% [dos respondentes da pesquisa] apontaram que a pandemia acelerou temas que estavam na pauta prioritária”, completou ele, dizendo que acredita que essa é uma mudança perene e não de contingência. Cloud, ferramentas de colaboração, comunicação, segurança e serviços estiveram em alta, listou.

Levantamento realizado pela fintech norte-americana Intuit QuickBooks,  desenvolvedora de software de gestão para PMEs e escritórios contábeis, identificou que esse cenário passou a ser comum também nos negócios menores.

O estudo indicou que quase metade das pequenas empresas brasileiras (49,7%) está mais digital agora, pós-crise da Covid-19. Entre as ferramentas escolhidas para o período de isolamento estão aplicativos que facilitam a comunicação remota e a criação de comércio eletrônicos (e-commerce).

Na visão de mais de mil entrevistados pela Intuit QuickBooks, a adoção de ferramentas possibilitou migrar a operação das empresas para o home office (53,5%) e contribuiu para melhorar o relacionamento com o cliente, ter processos mais ágeis e conquistar novos consumidores (55%).

Dois anos em cinco meses

A indústria sentiu os impactos desse cenário e viu projetos ganharem escala. Luis Gonçalves, líder da Dell Technologies para a América Latina, revelou que desde o início da pandemia aumentou o interesse das empresas, de todos os portes e perfis, por projetos voltados a garantir a transformação digital dos negócios.

“Em média, calculamos que as iniciativas tomadas pelas companhias durante os últimos meses poderiam ter levado cerca de dois anos para acontecer, se fossem em um cenário antes da Covid-19.” Gonçalves destacou que o distanciamento social trouxe status de urgência em ter ambientes de TI preparados para um aumento expressivo das transações virtuais. Segundo ele, o cenário de pandemia também gerou pressão sem precedentes sobre a infraestrutura de TI das empresas, públicas e privadas.

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Luis Gonçalves, da Dell

“Isso porque, a migração em massa de colaboradores, clientes e parceiros para um ambiente remoto exigiu que as organizações estivessem preparadas para garantir o acesso rápido e seguro a dados, aplicações e transações 100% virtuais”, comentou.

Os resultados globais da Dell no segundo trimestre acompanharam essa demanda e mostraram crescimento nos segmentos de Governo e Educação, da ordem de 16% e 24% respectivamente. No grupo de Soluções para Clientes Finais, a empresa teve forte desempenho impulsionado pelo crescimento de receita de dois dígitos em notebooks e soluções para clientes finais, enquanto no grupo de Soluções de Infraestrutura, a fabricante registrou demanda por soluções como VxRail, PowerMax e Proteção de Dados.

Rui Botelho, COO da SAP Brasil, observou que as companhias estavam em graus distintos de maturidade digital e foram atingidas pela crise de maneiras diferentes. Sobre a demanda por tecnologias da fabricante alemã, o executivo comentou que a SAP Brasil registrou um segundo trimestre de crescimento nos contratos de soluções de gestão, tanto com foco na experiência do cliente e colaboradores, com SAP Qualtrics, como em gestão de despesas SAP Concur e a linha de produtos de Analytics e Data Management.

“Os resultados também apontam maior preocupação das empresas com sistemas de gerenciamento da cadeia de suprimentos e relacionamento com fornecedores, e por isso as soluções SAP Digital Supply Chain registraram aumento de dois dígitos em cloud relacionado ao mesmo período de 2019”, listou.

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Rui Botelho, da SAP Brasil

Ele completou dizendo que o período também marcou a continuidade dos projetos de adoção ou migração para o sistema de gestão SAP S/4Hana, o moderno sistema de gestão empresarial da companhia. O setor de varejo foi um dos que mais demandaram projetos no período, além de seguros e produtos de consumo, com destaque para implementação de soluções tanto na nuvem como na venda de licenças.

Botelho indicou que, de fato, algumas empresas anteciparem implementações que estavam programadas apenas para os próximos anos. Outras já priorizaram processos de e-commerce e marketing de relacionamento ou mesmo digitalizaram rapidamente seus processos de suprimentos para conseguir manter a operação.

Na Oracle Brasil, os negócios de aplicativos em nuvem continuaram em rápido crescimento de receita com Fusion ERP em 33% e NetSuite ERP em 23%. “Agora, temos em todo o mundo 7,3 mil clientes Fusion ERP e 23 mil clientes NetSuite ERP no Oracle Cloud”, contabilizou Marcelo Christianini, diretor sênior de Engenharia e Soluções de Tecnologia da Oracle América Latina.

O executivo apontou que os resultados que não apresentaram tanto crescimento estão ligados aos clientes de setores mais afetados, como hotelaria, varejo e transporte. “Entretanto, em outras áreas, podemos dar vários exemplos de transformação digital. No setor da saúde, fizemos parceria com a Unimed. Em dois dias implantamos um serviço que apoia os registros de casos do Covid-19, bem como leitos hospitalares simples e de UTI para a sua carteira de clientes que conta com mais de 17 milhões de pessoas o Brasil”, exemplificou.

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Marcelo Christianini, da Oracle

A Oracle também doou sua capacidade de processamento de supercomputadores em nuvem para o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), organização social vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). O fato tem sua importância. A computação de alto desempenho baseada em CPU e GPU é essencial para acelerar essas pesquisas para fornecer compostos que podem representar tratamentos potenciais contra infecções por SARS-CoV-2.

Diferentes demandas rumo ao digital

Já na IBM Brasil, Marcelo Braga, vice-presidente de Vendas, contou que um indicativo claro do salto por transformação digital foi o número de interações com o Watson Assistant, o sistema de inteligência artificial da Big Blue. “Vimos empresas de diferentes portes e setores passarem a procurar por soluções de serviços em nuvem, como habilitar formas de trabalho remoto, atender às novas demandas dos consumidores e trabalhar formas de engajamento. Nossa API de inteligência artificial, utilizada nos principais assistentes virtuais corporativos, dobrou entre fevereiro e maio de 2020 na América Latina.”

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Marcelo Braga, da IBM

Quem também viu aumento expressivo na demanda foi a Totvs. A empresa brasileira identificou que com o aumento das transações virtuais, as organizações perceberam a necessidade de buscar soluções voltadas a automatizar a gestão dos negócios e de processos, garantindo a sobrevivência no atual momento e a busca por vantagens competitivas para saírem fortalecidas da crise. “Como reflexo desse momento, no segundo trimestre tivemos crescimento na receita líquida de 6,5% em relação ao mesmo período do ano anterior”, destacou Juliano Tubino, vice-presidente de negócios da Totvs.

De acordo com o executivo, entre os exemplos de projetos de transformação digital acelerados durante a crise, houve aumento por soluções para automatizar processos de RH, incluindo ponto eletrônico com reconhecimento facial.

Tubino apontou que o segmento de hospitalidade precisou criar rapidamente modalidades de acesso digital – como o armazenamento e o uso para leitos hospitalares – e, dessa forma, tiveram de adaptar seu ambiente de gestão para suportar essas novas demandas. “Mercados mais maduros tecnologicamente tiveram investimentos mais sofisticados, enquanto aqueles que ainda estavam engatinhando na automação da gestão tiveram de acelerar os investimentos para suportar a digitalização dos negócios.”

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Juliano Tubino, da Totvs

Independentemente do setor de atuação, prosseguiu Tubino, empresas que tinham processos de gestão mais automatizados tiveram uma maior vantagem competitiva para se adaptar e conseguir buscar a sobrevivência e o sucesso do negócio durante a crise. “Quem não precisou se preocupar com a digitalização do backoffice conseguiu sair à frente. E considerando que essa não é a primeira nem a última crise vivida no Brasil, talvez essa seja uma importante lição aprendida pelas empresas em geral e que precisa ser tratada como uma prioridade para as organizações”, disse.

Entre os exemplos desse cenário, o executivo citou a Petz, rede varejista de produtos para animais de estimação, que já havia implementado um projeto para gestão automatizada do negócio com soluções Totvs antes da pandemia, e realizou o (é masculino mesmo?) maior IPO (oferta pública de ações) do ano, movimentando R$ 3,03 bilhões.

A Compasso UOL observou alta demanda nos projetos de data e analytics com objetivo de entender melhor os clientes, mapear comportamentos e melhorar a experiência de uso dos sistemas e interfaces. “Em números percentuais, o negócio focado em transformação digital cresceu 30% nesse período”, comentou Cleyton Ferreira, CTO da empresa.

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Cleyton Ferreira, da Compasso UOL

Fernando Lemos, diretor de Tecnologia da Microsoft Brasil, indiciou que com a necessidade do isolamento social, as empresas que ainda não tinham infraestrutura para suportar o home office fizeram adaptação por meio da nuvem em tempo recorde. “Acompanhamos companhias de todos os setores e portes no uso de soluções para viabilizar a comunicação e a colaboração entre os seus funcionários a distância. Além disso, conseguimos enxergar grande crescimento na utilização da nuvem para escalar operações e para o desenvolvimento de aplicações”, apontou.

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Fernando Lemos, da Microsoft Brasil

Segundo ele, somente em março, por exemplo, a empresa registrou 1000% de aumento no total de videochamadas realizadas via Microsoft Teams. “Em abril, chegamos a mais de 200 milhões de participantes em reuniões no Teams em um só dia, e mais de 4,1 bilhões de minutos de videochamadas”, contabilizou.

Além disso, as soluções de nuvem inteligente, trabalho remoto, games, educação e computação da Microsoft tiveram aumento de procura desde o ano passado. No balanço trimestral finalizado em junho, em comparação com o mesmo período do ano anterior, a empresa obteve incremento de 13%, um resultado direto do mercado em ebulição.

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