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5 perguntas para o CEO: Tiago Krommendijk, da Topdesk

Há cerca seis anos à frente da operação da Topdesk no Brasil, Tiago Krommendijk conhece como ninguém a empresa, que foi criada na Holanda no início dos anos 1990. Isso porque o executivo, que está na Topdesk desde 2007, também foi responsável pela idealização da companhia no Brasil em 2013.

Na entrevista abaixo, Tiago, que é formado em desenvolvimento rural, com especialização em Sociologia, pela Wageningen University & Research, da Holanda, fala sobre o momento atual da Topdesk no Brasil e os desafios para fazer com que a empresa seja tão conhecida por aqui quanto na Holanda, além de comentar como a sua formação, pouco comum entre executivos do mercado, pode se relacionar com o mundo da tecnologia.

Computerworld Brasil: Presente em 10 países pelo mundo, a Topdesk teve faturamento de 50 milhões de euros no último ano. Qual a importância/posição do Brasil para a companhia atualmente e quais os planos para a operação no país neste ano?

Tiago: A TOPdesk Brasil manteve seu crescimento acima de 60% nos últimos anos e queremos manter este número até 2023, ou seja, crescer 60% por ano. Em uma conversa com nosso CEO Global, Wolter Smit, o escritório brasileiro vem se destacando positivamente, ultrapassando outros países da Europa no quesito faturamento bruto, e as previsões são positivas: nos tornaremos a segunda maior filial em 5 anos. Além disso, foi realizado um estudo interno e todo dinheiro que é investido no Brasil, tem retorno previsto para Holanda em apenas um ano e meio. Portanto, as expectativas e investimento para o Brasil são altas – estamos duplicando nosso quadro de colaboradores para este ano e atualmente contamos com 14 vagas em aberto no momento.

CW: Antes de trazer a operação da empresa para o Brasil, em 2013, você já trabalhava na Topdesk desde 2007. Quais as principais diferenças e desafios do mercado nacional em relação ao mercado holandês, por exemplo?

Tiago: Com toda certeza, o maior nosso maior desafio no Brasil é fazer a TOPdesk ser conhecida do mesmo jeito que é na Holanda. Somos a solução de ITSM (IT Service Management) e SSM (Shared Service Management) mais conhecido no mercado holandês. Para dar uma noção da nossa grandeza lá fora, das 11 universidades que existem na Holanda, 10 utilizam TOPdesk. Devido ao nosso alto Market Share, estamos mais preocupados em expandir nossas possibilidades de negócios dentro de nossos clientes e agregar valor a eles do que colocar novas empresas em nossa carteira.

No Brasil, parte da dificuldade de ser conhecida é também pelo fato da maturidade do mercado brasileiro – como o ITIL foi “inventado” na Inglaterra e foi rapidamente adaptado pelas empresas holandesas, naturalmente a percepção de valor é muito maior. Aqui, é mais fácil encontrar empresas que trabalham “apagando incêndio”, tentando resolver os problemas de curto prazo, do que investir em uma solução.

Agora, pessoalmente, a diferença entre a cultura brasileira e a holandesa é meu principal desafio. Cresci com os valores de Liberdade, Responsabilidade e Confiança, não só por ter morado muito tempo na Holanda, mas porque a TOPdesk carrega isso consigo. Acredito que, com liberdade, os colegas conseguem se desenvolver muito mais e em menos tempo. Mas lidar com liberdade não é fácil, é preciso ter responsabilidade para sempre existir um espaço de confiança.

Pelo Brasil ser um país burocrático e hierarquizado, encontrar pessoas que compartilham destes valores é também um desafio e tanto – mas estamos indo muito bem!

CW: Um conceito que vem ganhando força recentemente, a integração de departamentos e de informações é um dos focos dos serviços da Topdesk. Há uma consciência maior das empresas neste sentido, sobre a importância desta integração?

Tiago: A TOPdesk trabalha desde 2005 com o conceito de Shared Service Management, Enterprise Service Management e Service Management Central, ajustando cada vez mais a ferramenta para possibilitar a integração das áreas. Percebemos que os departamentos TI e RH, por exemplo, são diferentes e isso gera uma distância que não é saudável para a troca de informações. Um projeto de ESM gera uma oportunidade para aproximar as pessoas, resolver as diferenças e aprendizado.

Temos visto uma grande demanda no mercado Brasileiro desde 2015, quando percebemos que a experiência do usuário final ficou mais relevante nas empresas. Atualmente, mais de 80% dos nossos clientes utilizam a ferramenta em mais de um departamento.

CW: A Topdesk trabalha com um conceito chamado “elevating lifes”, que prioriza a felicidade e satisfação dos colaboradores. Poderia explicar melhor como isso funciona na prática e exemplos de iniciativas no Brasil e no mundo, por favor?

Tiago: Elevating lives é muito mais do que ter pebolim, tênis de mesa e Playstation. É uma cultura interna que valoriza nossos colaboradores não como um recurso controlável, mas seres humanos, com sonhos e sentimentos.

Nossos valores Liberdade, Responsabilidade e Confiança estão embutidos na nossa cultura e é prioridade número 1 em qualquer decisão que precisamos tomar. A liberdade faz que cada colaborador seja protagonista da sua carreira, com desenvolvimento que achar melhor, levando em consideração a sua responsabilidade perante o time e a empresa.

É claro que esta cultura não é para todo mundo, pois lidar com liberdade não é fácil, e por isso o processo de contratação é importante, com o principal foco com a cultura e muito menos em conhecimento e habilidades.

As avaliações recorrentes com os líderes são focadas em competências, e juntos procuramos a melhor forma de desenvolver a competência que um colaborador gostaria de focar.

CW: Você se formou em Sociologia na Holanda, uma formação talvez não muito comum entre CEOs e executivos de empresas. Por isso, queria saber como essa formação te influencia/auxilia na sua atuação na Topdesk e no mercado de forma geral?

Tiago: A minha formação foi mais específica ainda: desenvolvimento rural, com especialização em Sociologia. O foco do estudo se concentrou em sucessos e principalmente fracassos de implementação de melhorias na zona rural de países subdesenvolvidos.

O que podemos aprender com estes projetos é que apenas introduzir novas tecnologias e os processos necessários não são suficientes para garantir um sucesso de longo prazo.

Um exemplo que me lembro bem é a introdução de milho transgênico na África, que prometia o aumento de 300% a 400% de safra. O processo dos fazendeiros familiares precisava ser ajustado para se tornar profissional, com a compra de sementes, inseticidas e adubo químico. Era necessário deixar de lado a cultura de gerações que focava na seleção dos melhores milhos para diferentes ocasiões, conhecimento local sobre o clima e mistura das plantações com outro cultivo.Com falta de foco na questão cultural, a maioria dos projetos foi um grande fracasso, diminuindo drasticamente a safra a partir do segundo ano, gerando altas dívidas com os agricultores familiares.

A semelhança com o mundo de tecnologia é grande, uma vez que grande parte das novidades tecnológicas são implementadas sem avaliação da influência negativa da cultura. Quantos vezes não vemos grandes investimentos em tecnologias novas, com pouco ênfase na adaptação humana? A consequência é igual aos projetos com os agricultores familiares na África.

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