Transformação digital aquece procura por gerente de produto
Como encantar o cliente? A pergunta que não quer calar ronda a mesa (ou os “squads”, para ficar num termo da moda) de startups e grandes empresas. A resposta, claro, não é simples. Hoje, a briga pela atenção do consumidor tem sido cada vez mais acirrada. Nesse mar aberto e concorrido, ganha quem oferece a melhor experiência. E um dos profissionais responsáveis pelo “encantamento” do cliente é o gerente de produto.
Nos últimos anos, o avanço das empresas digitais, entre elas, startups e marketplaces, acelerou a procura por esse perfil de profissional. Não que antes não existisse. Antigamente, o cargo era mais conhecido como gerente de projetos. Como em outras áreas, o desafio das companhias, inclusive de gigantes, é encontrar talentos no mercado.
A tarefa é árdua, segundo os especialistas em RH. Somente na Catho, existem cerca de 220 vagas abertas para a posição. A faixa salarial varia conforme o nível de experiência e o porte da empresa. No site Vagas.com, os salários oscilam entre R$ 6.833 e R$ 14.126. Em algumas consultorias de recrutamento e seleção, a remuneração pode oscilar entre R$ 8 mil e R$ 22 mil.
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Muitas oportunidades estão em startups e empresas de tecnologia, que são negócios nascidos no mundo digital. Por outro lado, companhias tradicionais também estão à caça de talentos na área, como parte do processo de transformação digital. “As pessoas esperam ter cada vez mais uma experiência parecida com a que têm no Uber”, exemplifica Rafael Stille, diretor de produtos e estratégia da Catho.
Por mais que a demanda seja alta, o cenário ainda não é de escassez de talentos. Isso porque a área é relativamente nova, aponta Gabriela Mative, gerente de RH da consultoria de recrutamento e seleção Luandre, empresa que tem entre os principais clientes marcas do setor de saúde.
Ela lembra que o movimento de transformação digital impulsionou a demanda por gerente de produto, mas não aposentou a figura do gerente de projeto. “O gerente de projeto olha para o processo e faz a coisa acontecer. Já o gerente de produto tem o olhar para o consumidor e foco na experiência do cliente”, explica. Na opinião dela, a tendência é que a posição de gerente de produto prevaleça ao longo do tempo, tornando cada vez menos necessária a atuação do gerente de projeto.
“O gerente de projeto olha para o processo e faz a coisa acontecer. Já o gerente de produto tem o olhar para o consumidor e foco na experiência do cliente”, Gabriela Mative, gerente de RH
Habilidades comportamentais
Disputado a tapa pelas empresas, o gerente de produto costuma ser alguém formado em marketing ou tecnologia, mas também pode vir de outras áreas, como administração e engenharia. Para quem deseja ganhar ainda mais relevância, a recomendação é buscar cursos de pós-graduação ou MBA em gestão de produto. A FIAP, por exemplo, oferece um MBA em negócios digitais. Outro exemplo é a pós em gestão ágil de negócios e TI, da Impacta. Também vale ir atrás de cursos sobre design thinking e metodologias ágeis.
Segundo Stille, o profissional precisa ser bom comunicador, analítico, ter pensamento estruturado e conseguir liderar equipes diversas e interagir com profissionais de áreas variadas da empresa. Outra característica importante é gostar de novos desafios. “Esse profissional costuma ter um perfil muito inovador”, complementa Gabriela.
Formado em construção civil, o paulistano Marcelo Carota trabalha há 12 anos na área de produto. Praticamente toda a trajetória profissional foi trilhada no setor financeiro. Foi supervisor de operações no banco ibi, depois atuou como gerente de produtos na Getnet, na Saraiva e na UOL Edtech. Em 2016, Carota voltou para o setor financeiro para ser gerente de produtos no Tribanco, banco do grupo varejista Martins. “Era responsável pelo ciclo de vida do cliente, como manutenção, análise de perdas e lucros da operação, por exemplo”, explica.
Foi a última experiência dele como gerente de produto. No início de fevereiro, o executivo recebeu uma proposta para liderar a área de produtos e canais digitais da Levee, startup que usa inteligência artificial e machine learning para ajudar empresas na contratação de altos volumes de profissionais do nível operacional.
Com pós-graduação em administração pelo Centro Universitário FEI e MBA em gestão estratégia e econômica de negócios pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), Carota começou há dois anos um mestrado profissional em consumo e inteligência de mercado. A bagagem diversificada é um item importante para um bom gerente de produto, segundo ele.
Ser curioso, ter boa comunicação e estudar o mercado onde a empresa está inserida são outras atitudes fundamentais. “Um bom gestor de produtos vai precisar vender ideias para a direção da empresa o tempo todo. O que vai fazer aquele ‘business plan’ dar certo é o esforço de execução do profissional”, exemplifica Carota. Isso tem a ver também com um conceito que ganhou força com as startups: descontinuar projetos que não estão dando certo e corrigir a rota sempre que for preciso.
“Um bom gestor de produtos vai precisar vender ideias para a direção da empresa o tempo todo”, Marcelo Carota
Para o executivo, a área está em ebulição e vagas não faltam, mas é necessário ir atrás de qualificação. Ele dá como exemplos conhecimentos de marketing, inclusive marketing digital, analytics e linguagens de programação. “No meu caso, tenho certificados em design thinking, marketing digital, growth hacking, metodologias ágeis. Fui buscando outras habilidades para que pudesse interagir com outras áreas da empresa.”