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Edtechs: reinvenção da educação vira oportunidade de negócio

Cerca de 53% dos brasileiros de 25 anos ou mais não concluíram a educação básica, revelou recentemente o IBGE, baseado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) de 2018. É nesse contexto de educação fragilizada que as EdTechs, abreviação de education technology (tecnologia educacional) têm ganhado força no Brasil e no mundo. De todas as startups que nascem no país, as edtechs são a primeira aposta dos empreendedores. “Há dois anos, o futurista Thomas Frey disse que até 2030 as maiores empresas na internet serão de educação. Hoje, as edtechs já lideram o ranking de número de startups por setor, segundo mapeamento da Associação Brasileira de Startups”, afirma Luiz Alberto Ferla, CEO e fundador do DOT Digital Group, empresa de tecnologia para educação que já capacitou mais de 8 milhões de pessoas.

 

As edtechs são empresas que desenvolvem soluções tecnológicas para a oferta de serviços relacionados à educação, como plataformas de ensino, cursos online, jogos educativos, sistemas de gestão de aprendizado. O Brasil conta, atualmente, com 364 edtechs, que respondem por 7,8% do total de startups abertas, segundo a Abstartups (Associação Brasileira de Startups). No mundo, os números são ainda mais expressivos. Só a capital Pequim, na China, tem 3 mil edtechs, segundo levantamento da Native Ventures. Até gigantes como Google estão apostando nesse segmento.

 

“A razão é simples: o potencial do mercado é muito grande. Primeiro porque sempre teremos pessoas ingressando na educação formal e, segundo, porque cada vez mais as corporações exigem profissionais mais capacitados e atualizados. A expectativa é a de que em dois anos, no máximo, o número de alunos fazendo graduação via internet seja maior do que presencialmente”, prevê Ferla. Na educação corporativa, o uso de plataformas tecnológicas para treinamento também vem crescendo significativamente.

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“As edtechs são uma forma de impulsionar a educação para locais inimagináveis, uma vez que, no Brasil, a educação sofre com um sistema educacional burocrático e obsoleto, falta de estrutura física e carência de professores qualificados em determinadas matérias”, afirma o professor Eduardo Savarese Neto, superintendente de operações da FIA e responsável pelo Núcleo de Ensino a Distância.

A maioria das edtechs cria alternativas para tornar o ensino e a aprendizagem mais eficientes, fazendo com que os usuários aprendam mais rapidamente a um custo menor

A maioria das edtechs cria alternativas para tornar o ensino e a aprendizagem mais eficientes, fazendo com que os usuários aprendam mais rapidamente a um custo menor. Uma edtech desenvolve, por essência, soluções, e não conteúdos. É um trabalho que envolve inovação, tecnologia de ponta e foco nas necessidades dos usuários. “Como essas soluções são tecnológicas, trata-se de um negócio altamente escalável, o que significa que é possível cobrar preços baixos pelas assinaturas dos serviços ou outras práticas de monetização”, explica Savarese Neto.

 

“Há várias plataformas com mais de 1 milhão de alunos e cases de sucesso como o Coursera, que recebeu aportes e hoje tem valor de mercado de mais de US$ 1 bilhão e virou uma referência”, conta Savarese Neto.

 

Esse barulho todo o professor doutor Angelo Sebastião Zanini, Coordenador do NINE (Núcleo de Inovação em Negócios e Empreendedorismo) do Centro Universitário do Instituto Mauá de Tecnologia, explica. “Existe uma lacuna na educação. Muitos jovens estão fora da escola e uma boa parte dos jovens que estudam não está qualificada para esse novo momento da sociedade digital. Há uma grande distância entre as competências que o mercado de trabalho impõe como necessárias e a educação tradicional. As edtechs tentam suprir esse meio com soluções de educação mediadas pela tecnologia.”

 

Das 364 edtechs do país, de acordo com mapeamento conduzido pelo Centro de Inovação para a Educação Brasileira (CIEB), em parceria com a Abstartups, 43% estão sediadas no estado de São Paulo, seguido por Minas Gerais (11%), Rio de Janeiro (10%), Paraná e Santa Catarina (5%) e Rio Grande do Sul (3%). Atualmente, 47% das 364 edtechs brasileiras atuam na área da educação básica. “É o nicho com o maior potencial transformador, pois mais de 90% da população brasileira passa pelas escolas”, observa Savarese Neto. Já as de educação superior respondem apenas por 8% das edtechs no país.

 

Há quem acredite que o Brasil chegará a 600 edtechs em um ou dois anos. O negócio só avança. A FIA, por exemplo, lançará em 2020, por meio de uma parceria com uma grande edtech, cursos de negócios de longa duração em EAD para executivos. Serão cursos de pós-graduação e MBA com no mínimo 360 horas com método de aprendizagem e plataforma tecnológica de última geração.

“Há uma grande distância entre as competências que o mercado de trabalho impõe como necessárias e a educação tradicional. As edtechs tentam suprir esse meio com soluções de educação mediadas pela tecnologia”

Como empreender nessa área? 

 

O futuro do Brasil como nação é investir em educação e a tecnologia é um aliado imprescindível para ganharmos escala. Para Ferla, é ela que vai ajudar o Brasil a melhorar seu nível educacional e, consequentemente, a produtividade e a competitividade. As grandes potências mundiais, lembra, são os países que investiram muito em educação. Coréia do Sul e Singapura, entre outros, que estão se destacando muito hoje, eram mais pobres que o Brasil há 50 anos. “Elas se transformaram porque investiram em educação. Eu acredito que há espaço para muitas empresas atuarem. Somos um país com grande população. É claro que o mercado vai acomodando aquelas empresas que estiverem mais preparadas para oferecer soluções adequadas para as demandas de governos e empresas”, explica Ferla.

 

Nesse caso, o grande déficit educacional do Brasil é uma grande oportunidade de negócio. “Muitas pessoas precisam de educação formal e muitos profissionais precisam de qualificação e requalificação. Ainda mais em tempos de transformação digital, em que o trabalhador precisa se adaptar ao mercado de trabalho para atender às novas demandas das empresas”, lembra Ferla.

 

Mas empreender nessa área não é tarefa para amadores, uma vez que a competição é árdua. “A concorrência para cursos livres e de extensão é absurda. Se não for algo muito diferente, é difícil concorrer”, alerta Savarese Neto. Neste caso, o superintendente da FIA sugere que os projetos em potencial fechem parceria com edtech existentes e de peso ou parceiros tecnológicos.

 

O empreendedor de edtech precisa dominar tecnologias, mas muito mais do que isso, ele precisa entender de educação. “Sem esse conhecimento não tem como ter sucesso. Por isso, ele terá que contar com um time de especialistas na área de educação para produzir conteúdo de qualidade e efetivo do ponto de vista pedagógico. A tecnologia é apenas o meio para atingir o objetivo educacional de forma mais rápida, atrativa e em larga escala”, ensina Ferla.

“A concorrência para cursos livres e de extensão é absurda. Se não for algo muito diferente, é difícil concorrer”

A boa notícia é que projetos bons sempre terão oportunidades. O setor de edtech é um dos que mais têm chamado a atenção de investidores. Há vários fundos buscando empresas promissoras nesta área. “No entanto, não é fácil acessar esses fundos de investimentos porque eles buscam negócios escaláveis. Não basta uma ideia, é preciso que ela já tenha sido testada e apresente resultados consistentes. Em outras palavras, a empresa tem que ter um produto com demanda de mercado”, adverte Ferla.

 

Nessa área ou em qualquer outra, Zanini lembra que os empreendedores de startup precisam também se qualificar. “Desenvolver competências em planejamento estratégico, tecnologia, formação e gestão de equipes, mercado e vendas são essenciais.” Aceleradoras e investidores estão interessados em startups que tenham produtos, serviços e modelos de negócios cuja percepção de valor pelo mercado seja clara e que tenham grande chance de crescimento rápido. “Edtechs que estejam como esse posicionamento terão grande chance de atrair investidores”, acredita Zanini.

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