Como criar uma nova cultura na prática

Na hora de colocar a mão na massa, cada estratégia será desenhada de acordo com a realidade e a maturidade de cada empresa

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9:04 am - 13 de dezembro de 2020

Quando observamos ao nosso redor é perceptível que estamos evoluindo em velocidade acelerada. O fato é que estamos passando por um momento de profundas transformações e será assim daqui para frente. A única constante agora é a mudança. E levar essa dinâmica para o ambiente empresarial é um desafio, ainda mais na economia atual, em que tudo é experiência e elas não competem mais por mercados, mas sim pelo tempo das pessoas. As redes sociais e as plataformas de streaming são bons exemplos de sucesso dessa lógica. Observe, elas estão sempre buscando novidades para manter a atenção dos usuários e consequentemente serem cada vez mais relevantes.

Pensando neste contexto, a experiência dos seus clientes com os seus produtos e serviços influencia diretamente na estratégia e no sucesso do seu negócio. E como se manter competitivo e gerando valor? Existem diversas formas para as empresas encararem tudo isso, mas entre as possibilidades está a busca por inovação. O que na prática passa, entre outras coisas, pela criação de uma nova cultura. Afinal, na base da inovação está a incorporação de uma nova forma de enfrentar os problemas e o futuro. Ou seja, está muito mais ligado ao mindset das pessoas do que técnica. Só que quando falamos em “tocar” na cultura e em pessoas, muita empresa treme na base porque mudar a forma de fazer as coisas dá trabalho, além de exigir decisões difíceis, mas não é impossível.

Muito mais do que falar sobre a mudança, é preciso demonstrá-la e vale lembrar que na hora de colocar a mão na massa, cada estratégia será desenhada de acordo com a realidade e a maturidade de cada empresa. Porém, um caminho que tem se mostrado efetivo é o desenvolvimento de três pilares: Pessoas, Inovação e Lean: o aprendizado por fazer.

O primeiro, Pessoas, é estrategicamente o mais importante, porque nada acontece sem as pessoas – colaboradores e clientes. O maior capital de um negócio é justamente quem trabalha nele e quem consome seus produtos e serviços. Pesando nisso, será que se você impactar os colaboradores eles irão trabalhar de uma maneira diferente? Minha experiência tem mostrado que antes de adotar uma nova forma de fazer, você tem que organizar as transformações dentro de casa.

Faça uma análise bem realista sobre como a sua empresa se organiza para inovar. Você tem pessoas engajadas para isso? O seu consumidor está no centro de tudo? Seus colaboradores buscam melhorar todos os dias? A liderança está engajada neste propósito de melhoria contínua? Feito isso, busque identificar quem estará mais comprometido com a melhoria. Como? Faça o seguinte exercício: selecione um grupo que possa exercer uma liderança de impacto e passe a observar mais as pessoas engajadas, que buscam entender a mudança e querem fazer parte dela. Comece por esse grupo, que depois irá contagiar o resto da empresa, conforme os resultados positivos aparecerem.

Outro caminho que tem trazido resultados interessantes é ajudar o colaborador a entender o seu propósito profissional. Já existem estudos que comprovam que se identificar com o que faz no trabalho melhora não só a sua produtividade, como te faz mais feliz. Ou seja, colaborar para que todos assumam o protagonismo das suas próprias carreiras é fundamental para transformar a cultura. Claro que nem tudo são flores. A empresa pode dar todas as ferramentas e criar um ambiente inovador, mas cada um decide se quer ou não embarcar nesta jornada. Cabe a companhia ajudar as pessoas a entenderem que existe um novo mundo e que a elas precisam fazer diferente.

No segundo, Inovação, é hora de ver como a sua empresa está se movendo para o futuro. Aqui uma metodologia muito usada é a abordagem dos três horizontes da mudança, inovação e crescimento (H1, H2, H3), que resumidamente consiste em olhar para os produtos/serviços atuais (H1), que entregam valor para o cliente e consequentemente dão receita no presente, e ao mesmo tempo estar sempre de olho no futuro e nos planos para médio prazo (H2) e um futuro mais distante (H3).

O framework da mudança, inovação e crescimento ajuda a entender alguns questionamentos importantes como: o produto e/ou serviço que você tem hoje ainda terá apelo no mercado daqui poucos anos? Sua empresa entregará valor ao cliente? Sua oferta é pensada nas principais necessidades dos seus consumidores? O tempo entre descobrir um problema e desenvolver a solução é curto? Se a sua resposta para alguns desses questionamentos for não, sinto dizer que sua empresa corre o risco de desaparecer. Um bom exemplo são as locadoras de vídeo, que em pouco mais de uma década foram engolidas pelo streaming e perderam completamente a função.

Feito isso, se você gerou impacto nas pessoas e tem claro os seus horizontes de mudança e inovação, você está preparado para trabalhar de forma diferente: o jeito Lean de pensar e executar, em que o aprender acontece pelo fazer – a metodologia propõe um sistema de execução mais claro e eficiente, por meio do aperfeiçoamento constante. Tudo isso sem esquecer da estrutura organizacional e como ela está conectada nos três horizontes.

Na prática, é hora de você começar aplicar o “como” e uma ferramenta aliada é o mapeamento do fluxo de valor (Value Stream Mapping, VSM, na sigla em inglês), que rastreia a sua cadeia para gerar impacto para o cliente, onde existem gargalos e ainda traz alguns caminhos para saná-los. Inovar não é só criar, é também adotar a melhoria contínua como foco do trabalho e tudo isso requer estar aberto a aprender, o tempo todo. Nesta etapa, identificar as pessoas que contribuem com o processo de aprendizagem dos outros é fundamental para replicar essa cultura. Sabe aquela pessoa que sempre está interessada em aprender alguma coisa nova? Que toda hora descobre uma funcionalidade nova nos produtos que usa? Ela pode ser uma grande aliada.

Comece mudando onde a situação está mais crítica. Onde existe um problema, existe uma possibilidade de melhoria e inovação. É o financeiro? Então é para lá que todos vão olhar e começar a perceber que as coisas estão diferentes – seja porque os reembolsos agora caem mais rápido ou porque os profissionais do departamento estão sendo promovidos. Será um passo importante para transformação cultural mostrar o novo jeito de fazer e também de mostrar o seu resultado. Mas a alteração completa acontecerá quando essa abordagem for ampliada para o restante da empresa e todos trabalharem com o mesmo propósito.

Quando falamos de inovação é natural mencionar a tecnologia, mas se olharmos para os três pilares acima, é evidente o protagonismo das pessoas – tecnologia é somente a forma efetiva de entregar muitas das novas experiências e otimizar tudo. No final do dia, ser capaz de transformar a sua forma de operar, inovar e conseguir engajar pessoas são fatores decisivos para garantir que a empresa gere um valor constante para o cliente e mantenha a sua relevância competitiva.

*Daniel Peralles é head de tecnologia da ao³

 

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