Um só cartucho!

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10:32 am - 19 de julho de 2005

Quando surgiram as impressoras de jato de tinta, estas rapidamente se impuseram frente às impressoras matriciais da época. Houve uma tentativa de reação por parte dos fabricantes com a disponibilidade das impressoras matriciais de 24 agulhas (as mais antigas tinham 9 agulhas). Mas não deu certo. As “inkjets” eram tão melhores que sepultaram as impressoras de impacto em pouco tempo.

Algum tempo depois surgiram as impressoras de jato de tinta coloridas. Pode se dizer que foi uma outra pequena revolução. Vejam que hoje em dia praticamente não existe mais impressora jato de tinta somente branco e preto! Mas lembro-me bem que as primeiras impressoras coloridas funcionavam de uma forma um pouco incômoda. Se eu queria imprimir em preto (textos simples) trocava o cartucho pelo modelo que continha somente tinta preta. Se eu queria imprimir colorido trocava de novo o cartucho pelo que continha as cores básicas (amarelo, rosa e azul) e se obtinha a impressão colorida. Essa troca era necessária porque sem um cartucho de tinta preta “pura”, a impressão de textos feita usando o módulo colorido tinha um resultado de qualidade duvidosa. O preto não era um preto de verdade e sim um “verde musgo” escuro. Um modelo clássico dessa época era a HP Deskjet 500C.

Em uma geração seguinte de impressoras os fabricantes resolveram o problema incluindo os dois cartuchos de tinta no mecanismo da máquina. Assim o driver de impressão escolhia qual cabeça de impressão acionar em função do tipo de conteúdo. Boa solução. Não mais era necessário trocar manualmente os elementos a cada tipo de documento. Embora melhor, surgiu uma crítica a este modelo. No caso de haver impressões predominantemente mais amarelas ou azuis, estes componentes de cor acabavam mais rapidamente e por causa disso o cartucho colorido tinha que ser substituído. Às vezes um cartucho poderia ainda conter mais da metade de tinta ainda disponível, mas como uma das cores tinha acabado o cartucho inteiro tinha que ser trocado.

Em uma próxima geração surgiram impressoras jato de tinta com quatro compartimentos para cartuchos. Um para o preto, azul, amarelo e rosa. Situação ideal, pois somente a cor que acabou precisa ser trocada. Mas esta novidade estava disponível somente em impressoras mais sofisticadas, pois encarecia o custo da mesma.

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Tive a oportunidade de visitar recentemente uma fábrica de impressoras Lexmark onde além de rememorar um pouco desta história, dados muito interessantes foram apresentados sobre a evolução desta tecnologia, bem como algumas novidades e tendências. Quando se pensou ter resolvido o problema da reposição seletiva dos cartuchos, o fenômeno da popularização extrema destas impressoras trouxe novos e inesperados problemas para alguns segmentos de mercado.

Segundo estudos dos fabricantes de impressoras, um dos maiores problemas dos usuários é realizar a troca dos cartuchos. Principalmente os usuários domésticos, aqueles que imprimem pouco e precisam trocá-los meses depois de terem adquirido a impressora. Mesmo assim pessoas nem sempre conseguiam encaixá-los e quando conseguiam em locais errados a impressão ficava completamente errada. O fabricante EPSON, por exemplo, criou para alguns modelos encaixes específicos para cor de forma a impedir que usuários substituíssem de forma errada. Isso resolveu o problema do encaixe errado mais tornou o processo de troca mais complicado. A maior parte de chamados ao suporte técnico destes fabricantes era relacionado com a troca de suprimentos.

A Lexmark procurou resolver este problema de uma forma ao mesmo tempo “antiga” e inovadora. Na sua nova linha de impressoras 2005, há dois modelos de baixo custo, Z735 e X2350 visam exatamente o usuário doméstico e trabalham somente com um único cartucho. E não é a toa que este cartucho se chama “Cartucho 1”, para não haver dúvidas quanto ao suprimento correto a comprar. Estas impressoras serão lançadas no Brasil no segundo semestre a um custo entre R$ 200 e R$ 250. Parece um retrocesso aos tempos áureos da tecnologia inkjet color. Pude comprovar e acompanhar algumas demonstrações destas impressoras. Apesar do cartucho único, a cor preta é preta de verdade e não aquele arremedo verde escuro do passado. Pelo custo da impressora não acreditava que estas pudessem ter um bom desempenho em impressões fotográficas. Outra boa surpresa. Embora com uma riqueza de detalhes menor que as impressoras especializadas em fotos da mesma empresa, o resultado da impressão de fotos nestas impressoras “low end” com cartucho único é bem adequado.

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Mas como isso pode ser possível? Descobri nesta visita que a quantidade de tecnologia existente hoje em um mero cartucho de tinta está além de minha singela imaginação. Física de partículas, microprocessador especializado embutido, ciência de materiais, aspectos subjetivos do resultado da impressão… Outros colunistas do ForumPC estiveram nessa visita e irão explorar com mais detalhes estas nossas descobertas. Mas o que me marcou muito foi descobrir que o driver da impressora aliado à cabeça de impressão realizam um trabalho ao mesmo tempo árduo e formidável naquela fração de segundos que clicamos o botão Imprimir de nosso programa. Os fabricantes deste tipo de impressoras na verdade são fabricantes de cartuchos. Que eles têm a grande receita oriunda dos suprimentos isso já se sabia. Porém eu descobri que de fato o mecanismo da impressora, não deixa de ser uma mera carcaça que contém partes mecânicas para tracionar o papel e os habitáculos dos cartuchos, estes sim o cérebro destas impressoras.

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Não é a toa que os fabricantes se incomodam tanto com o uso dos cartuchos reciclados e compatíveis. Fazendo uso destes outros elementos as pessoas estão substituindo a parte mais sensível de suas impressoras por outra de origem não controlada, reduzindo também as suas receitas. A Lexmark, por exemplo, nem fabrica mais a carcaça e elementos mecânicos de seus produtos. Isto está terceirizado para algumas fábricas da Ásia tendo ela se convertido em uma grande projetista da impressora e em um grande laboratório de pesquisas focado no caso das impressoras jato de tinta em desenvolvimento dos cartuchos que incluem a cabeça de impressão.

No caso deste “revival” do cartucho único eu percebo alguns pontos interessantes. A evolução do software (driver de impressão) e dos processos novos de manufatura dos cartuchos resolveram os problemas do passado e agora o preto volta a ser preto e fotos de boa qualidade podem ser obtidas nestas impressoras de baixo custo. O problema não resolvido é do eventual resíduo de tinta que ainda restará sem poder ser usado nestes cartuchos únicos, embora tenha sido informado que o gasto de cada cor tende a ser mais equilibrado se comparado às impressoras antigas de um único cartucho.

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