Transformação digital e o impacto nas neocidades e nos negócios
Impactos da transformação digital e de neocidades abrangem diversos setores da sociedade
Estamos atravessando um período bastante complexo, desafiador e cheio de grandes oportunidades! O período pós pandêmico tem intensificado a Transformação Digital que está revolucionando a forma como vivemos, convivemos, trabalhamos, estudamos e interagimos. Essa transformação passa por mudanças profundas e envolve aspectos culturais, estratégicos, sociais, ambientais, organizacionais e tecnológicos, fazendo com que as empresas, os negócios e as cidades necessitem rever seus processos de forma inovadora para entregar valor aos seus clientes e/ou cidadãos, melhorando a sua experiência em todos os pontos de contatos, o que é denominado de ominicanalidade.
A Transformação Digital automatiza processos burocráticos e traz vários benefícios diretos para os Cidadãos, tais como o acesso facilitado aos serviços públicos (agendamento de consultas médicas e exames, emissão de documentos, pagamentos de impostos, informações sobre meios de transportes); a melhoria na mobilidade urbana por meio de sistemas inteligentes de controle de tráfego e gestão de transporte público (visando a redução do congestionamento e a melhoria do deslocamento urbano); a disponibilização de dados abertos (promovendo maior transparência); monitoramento inteligente por meio de câmeras e sensores, de modo a responder rapidamente a acidentes e fazer a prevenção de incidentes; implementação de sistemas de iluminação pública que possibilitem a dimerização e o ajuste automático com base na presença de pessoas e veículos, aumentando a segurança e economizando energia; ouvidoria online para que os cidadãos participem mais ativamente na tomada de decisões políticas e na gestão pública; implementação de coleta seletiva e reciclagem, minimizando o impacto ambiental; adoção de tecnologias digitais como a automação, computação em nuvem, Internet das Coisas (IoT), Big Data, Inteligência Artificial, dentre outras, com vista à melhoria da experiência do munícipe.
Como pode ser observado, os impactos da transformação digital abrangem diversos setores da sociedade, tais como Economia (criando novos modelos de negócios e oportunidades de mercado); Novas Formas de Trabalho (com a IA novas profissões estão sendo criadas e outras serão eliminadas, exigindo requalificação constante da força de trabalho); Educação (possibilitando o acesso ao conhecimento de forma mais flexível e personalizada); Saúde (como telessaúde, telemedicina, diagnósticos assistidos por IA, acesso aos prontuários eletrônicos, entre outros); a Mobilidade Urbana; a Segurança Pública, ou seja, a Transformação Digital pode criar uma administração pública mais eficiente, transparente e centrada no cidadão, promovendo uma sociedade mais moderna e inclusiva.
Está intimamente relacionada aos conceitos de Cidades Humanas, Inteligentes e Sustentáveis, cujo foco é colocar o ser humano no centro do planejamento e desenvolvimento urbano, aplicando as tecnologias da informação e comunicação para melhorar sua qualidade de vida; priorizando a saúde; a inclusão social; a educação integral; valorizando a cultura local; incentivando a criatividade; a sustentabilidade; fomentando a economia circular; enfim, criando um ambiente urbano mais equilibrado, saudável e resiliente, garantindo um futuro melhor para as próximas gerações, que podem ser denominados de neocidadãos, ou seja, cidadãos modernos e digitalmente conectados, que utilizam tecnologias para interagir com o governo e a sociedade de maneira mais eficiente e participativa; uma vez que o termo “neo” é um prefixo de origem grega que significa “novo” e é frequentemente usado para indicar uma versão ou uma atualização de algo existente.
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Se antes os atendimentos aos cidadãos eram presenciais, hoje os neocidadãos exigem suporte por múltiplos canais, tais como: redes sociais, aplicativos, sites, telefones, e-mails, dispositivos móveis e vestíveis; portais, linhas emergenciais como SAMU (192), Bombeiros (193) e Polícia Militar (190); entre outros, que necessitam de integração imediata, online e em real time.
Toda esta transformação permitirá o nascimento de “neocidades”, que combinam tecnologias avançadas com um foco maior na sustentabilidade, inclusão social e qualidade de vida dos cidadãos e exigirá a interoperabilidade das soluções tecnológicas do município, acabando com os silos digitais, tornando os serviços públicos “figitais” – combinando os canais físicos e digitais, proporcionando a “ominicanalidade” da prefeituras ou seja, a integração de diversos pontos de atendimentos e de comunicação, para oferecer uma experiência mais coesa e eficiente aos neocidadãos, que podem iniciar um atendimento em um canal e concluir em outro, sem a perda de dados ou a necessidade de repetição, contribuindo para uma sociedade mais conectada, inclusiva, eficaz e sustentável.
Todo esse processo, dará vazão à neogovernança que se refere a uma nova abordagem de governança pública, integrando princípios de transparência, participação cidadã, eficiência e uso de tecnologias avançadas, promovendo a cocriação de políticas públicas por meio do uso de plataformas digitais para consultas e votações e a implementação de soluções inovadoras para melhorar a acessibilidade dos serviços oferecidos aos cidadãos, promovendo o envolvimento de diferentes atores na criação de valor público e parcerias entre o governo, setor privado, organizações não governamentais e a sociedade civil, para resolver problemas complexos de forma conjunta.
Para tanto, o Brasil tem algumas diretrizes que fomentam este desenvolvimento, como é o caso da nova Política de Transformação Digital, que é guiada pela Estratégia Federal de Governo Digital (EFGD), que foi instituída pelo Decreto nº 12.198 de 24 de setembro de 2024 para o período de 2024 a 2027. Esta estratégia visa transformar a administração pública federal através do uso de tecnologias, tornando os serviços mais simples, acessíveis e eficientes para todos os cidadãos, independentemente de sua localização ou condição socioeconômica; para promover inovação, competitividade, produtividade e inclusão social no Brasil.
A EFGD conta com algumas iniciativas importantes, tais como o Portal Gov.br, que possibilita a centralização de serviços federais em uma única plataforma; a Identidade Digital Única para facilitar o acesso aos serviços públicos; o desenvolvimento de uma Infraestrutura Digital robusta e segura e o incentivo à participação cidadã na formulação de políticas públicas através de plataformas digitais.
Para que toda esta transformação ocorra, serão necessários investimentos e políticas para incentivar o desenvolvimento dos negócios nacionais, como é o caso da Política Industrial, denominada de NIB – Nova Indústria Brasileira, lançada em 2024, com metas e ações para guiar o país até 2033, visando fortalecer a indústria brasileira, tornando-a mais competitiva.
Porém, por outro lado, trará grandes desafios para o município, como medidas robustas de segurança cibernética; proteção dos dados dos munícipes; manutenção da privacidade dos cidadãos; criação de uma infraestrutura tecnológica que demandará investimentos consideráveis para sua implementação e manutenção; treinamentos para reduzir a desigualdade digital; trabalhar a resistência dos funcionários às mudanças de processos tradicionais para digitais, o que impactará diretamente na cultura organizacional e no atendimento aos neocidadãos.
Dessa forma, a transformação digital do Governo e das cidades irá muito além da simples digitalização de processos públicos. Envolverá uma mudança profunda na maneira como operam e entregam valor aos seus munícipes, reduzindo erros, aumentando a eficiência, a inovação, gerando novos modelos de negócios e personalizando a experiência do cidadão; tornando-se uma força poderosa que está moldando o futuro, mas que necessitará ser realizada com muita ética e respeito aos direitos e à privacidade, para que não se torne um grande problema ao invés de uma solução que pode colocar o Brasil como um dos protagonistas de governo digital no cenário mundial.
Profa. Dra. Regiane Relva Romano é pesquisadora no Think Tank da ABES, diretora de Cidades Inteligentes da Facens e diretora de inovação da VIP-Systems. As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, os posicionamentos da Associação.
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