Saraiva + Microsoft – Um novo mercado para conteúdo digital

Uma iniciativa pioneira teve lugar neste mês de maio de 2009 aqui em nosso país. A Livraria Saraiva, empresa que atua no mercado de livros, revistas e publicações há mais de 90 (NOVENTA) anos inicia uma nova e surpreendente operação, a venda e locação de vídeos digitais. A empresa, que há pouco mais de um ano adquiriu uma de suas concorrentes, a Siciliano, já vinha em um processo de modernização há um bom tempo. Suas livrarias “físicas” são espaços de convivência e entretenimento muito agradáveis e ao longo dos anos diversificaram sua linha de produtos. Além de livros e revistas a empresa vende eletrônicos, artigos de informática, jogos, CDs e DVDs, brinquedos… Mas a grande novidade é o serviço prestado por meio de mídias digitais.
É um serviço pioneiro!! Claro que existem sites que fazem isso, já estabelecidos, vendendo conteúdos digitais, mas a Saraiva é a primeira empresa independente, uma livraria, a fazer isso. Há atualmente um acervo com pouco mais de 500 títulos no site. A intenção é chegar ao fim do ano com 2000 títulos. O que me chamou muito a atenção é a maneira simples e lúdica e simples de uso da “loja de vídeos virtual”. Existem duas interfaces possíveis, a “Saraiva Lite” e a “Saraiva Digital”. A primeira traz uma interface muito simples, leve, e capaz de rodar em computadores realmente modestos em termos de hardware ou sistema operacional (compatível com Windows 98, XP, 2000, 2003 e Vista). A interface “completa” exige Windows XP ou Vista, uma placa de vídeo com suporte 3D e 1 Gb de memória (para XP) ou 2 Gb de memória para Vista e utiliza a tecnologia Microsoft Silverlight para proporcionar uma experiência e interface muito rica. De acordo com Carlos Ferreira, diretor de Novas Tecnologias e Inovação da Microsoft Brasil, a iniciativa é inédita no país e na América Latina e transforma o dia-a-dia das pessoas para seus momentos de diversão e entretenimento.
A aplicação é muito bem concebida e traz tudo aquilo que um dia você já desejou ter em um serviço como esse. Você tem obviamente um rico processo de busca por diversos argumentos (título, atores, categoria, etc.), pode ver o trailer do filme antes de decidir alugá-lo ou comprá-lo (algo inexistente em uma locadora comum-só nas vendas de CDs há alguma chance de escutar antes algumas músicas), e ao longo do uso do serviço mantém uma biblioteca pessoal de seus vídeos alugados ou comprados.
A Microsoft participa por meio da base tecnológica da solução (de ponta a ponta). Na retaguarda, em um robusto datacenter estão máquinas rodando Windows Server 2008, SQL Server, IIS, etc.A empresa Truetech, parceira da Microsoft no desenvolvimento de soluções de Streaming Media, que criou usando Studio Express, Visual Studio, DOTNET framework os aplicativos dos usuários e de gerenciamento dos bastidores da empresa. Utiliza a tecnologia DRM (Digital Rights Management) para controlar a autenticidade e longevidade do vídeo alugado ou comprado pelo usuário. Não fosse assim os seis estúdios que já aderiram ao projeto (Warner, Paramount, Paris Filmes, Flashstar, Logon e Alfa Filmes) não teriam participado. Afinal eles precisam resguardar o que têm de mais valioso que são seus direitos autorais e a propriedade intelectual de suas criações na tela. Outros estúdios estão a caminho, trazendo seus acervos. Na retaguarda há uma infra-estrutura complexa e poderosa. São dois links de 10 Gbps que garantirão milhares de downloads simultâneos para os clientes da Saraiva Digital.
Um filme pode ser visto “on demand” se o link de Internet tiver capacidade suficiente para tal (entre 1.5 e 2.0 mega bits por segundo) ou após ter sido encerrada a transferência para o computador. O usuário tem até 30 dias para executar o vídeo a primeira vez e depois disso ele tem mais 24, 48, 72,… (dependendo do tempo contratado para a locação). Após o prazo contratado o vídeo expira e não poderá mais ser executado a não ser que a licença seja renovada por mais uma operação de locação (ou comprado).No caso de compra do filmes, a licença é perpétua e permite que seja visto em até três computadores distintos dentro da casa.
Os filmes necessitam do PC para serem vistos, mas quem preferir vê-los nas TVs de suas casas pode interligar o PC às TVs por meio das conexões dos computadores. A qualidade dos vídeos é neste momento qualidade de DVD (720 x 480) e som dolby digital 2.0. A inclusão de som 5.1 e resoluções maiores estão previstas para o futuro (dependendo também do amadurecimento e ampliação da capacidade de banda larga no país). Os preços das locações e venda de filmes são em média 15% mais baratas que a mesma operação em uma “loja física”.O software da Saraiva gerencia a biblioteca de vídeo já transferidos e reproduz os mesmos. Há obviamente como selecionar idiomas para o áudio e das legendas, como se faz em um DVD player convencional.
A experiência de compra ou locação de um filme é idêntica ao processo de compra de qualquer outro produto da loja virtual da Saraiva. Os filmes vão para um carrinho de compras e ao concluir a operação (pagamento), é necessário que o PC que tenha o software da Saraiva instalado esteja ligado e com o software “logado”. Assim, independentemente de onde a compra foi feita (pode ter sido feita no escritório), o PC de casa, por exemplo, vai começar a transferir o conteúdo locado ou comprado para aquele computador.Já imaginaram? Você compra o filme de manhã e vai poder vê-lo de noite ao chegar em casa, o filme estará prontinho em seu computador.
Uma operação real – uma locação
Para sentir um pouco melhor a solução da Saraiva, resolvi efetuar uma locação de verdade. Assim poderia experimentar as facilidades ou dificuldades do processo. Na tela principal do site www.saraiva.com.br há uma nova aba chamada FILMES DIGITAIS . É ali que tudo começa. Ao clicar, o site orienta o usuário a instalar o programa. Eu escolhi a versão LITE, para provar a forma mais despojada e simples de usar o serviço. Instalei o software. O download é muito pequeno, mas no meu caso tive que fazer uma atualização do DOTNET Framework, essa sim mais longa. Há um teste para ver se o DRM está funcionando na sua máquina (caso contrário não exibirá o filme).
[singlepic id=7643 w=320 h=240 float=]
Tudo instalado, comecei a navegar pela área de filmes do site. Há uma prática divisão por categorias, mas as buscas não são na versão LITE tão poderosas assim. De toda forma, achei um filme que quis alugar : DESAFIANDO LIMITES, aluguel por 48 horas (a partir da primeira reprodução). Custou R$ 4,80 por 48 horas (tenho 30 dias para fazer a primeira visualização). Eu já tinha cadastro no site da Saraiva. Assim bastou usar meu e-mail e senha para me “logar”. Coloquei o filme no carrinho de compras e finalizei o meu pedido pagando com cartão de crédito. No final havia umas instruções que acabei não lendo, fui apressadinho demais. Bem que dizem que “o apressado come cru”!! E agora?? Cadê meu filme!??
Lembrei-me da apresentação que vira na sede da Microsoft sobre o serviço. Tinha que carregar o aplicativo da Saraiva, a tal versão LITE. Chamei o programa, repeti a autenticação usando as mesmas credenciais do site. Vejam o que acontece:
[singlepic id=7644 w=320 h=240 float=]
[singlepic id=7645 w=320 h=240 float=]
Isso mesmo, imediatamente o filme que alugara começou a ser trazido para o meu PC numa boa velocidade de 75 KB/s aproximadamente. Assim a estimativa de chegada do filme seria de 5 horas e 7 minutos. Não achei como tocar o vídeo enquanto ele baixava. Mas isso é óbvio. Como o download demoraria 5 horas e o filme tem perto de 2 horas, nessa velocidade de download não dá para tocar e baixar ao mesmo tempo.
Explorando melhor o SARAIVA DIGITAL LITE, vi que existe um Window Media Player embutido dentro dele (o próprio), mas com incrementos (idiomas e legendas). Existe a biblioteca de vídeo, o histórico de operações, etc.
Após 3,5 horas (a velocidade aumentou para 180 KB/s), o filme havia chegado. E sem surpresa alguma! Tudo deu certo. Entre o filme terminar e eu resolver reproduzi-lo, desliguei a máquina. Ao ligar de novo (no dia seguinte) e chamar o SARAIVA DIGITAL LITE, o programa percebeu que havia uma atualização na Internet. Perguntou se queria atualizá-lo naquele instante. Concordei. Em segundos, após um diminuto download de 2.16 Mb, o programa estava atualizado e eu já poderia tocar. A qualidade do filme era exatamente a esperada!! Qualidade de DVD (com um terço do tamanho do arquivo-1.5 Gb contra 4.5 Gb). O serviço FUNCIONA e muito bem, diga-se de passagem.
Se não é uma grande revolução, para mim ao menos, é uma revolução sim! Com o passar do tempo, com o crescimento da banda larga, tanto em disseminação como na velocidade de download, este tipo de serviço passa a fazer cada vez mais sentido. É cômodo, é prático. Para ficar melhor falta aumentar a quantidade de títulos disponíveis para locação ou compra. Mas o processo de ampliação da base de filmes já está em curso. O meio digital viabilizará a disponibilização de um acervo que seria fisicamente impossível em uma loja ou locadora “física”. Filmes mais antigos, cujo interesse pode ser mais restrito, dificilmente chegarão às prateleiras de uma loja real, pois o baixo volume ou interesse esperados tornam a existência física do DVD inviável economicamente. Mas no mundo virtual este problema não existe. Assim eu espero que quase tudo de tudo e de todas as épocas possam estar acessíveis em alguns anos em serviços assim como este criado pela parceria Saraiva, Microsoft e Truetech. Filmes, seriados, mini-séries, documentários, etc., tudo ali a disposição.
Alguém pode dizer : ” ahhhh mas eu baixo isso via torrent quando eu quiser e acho de tudo”. Mas dessa forma a cadeia de valor da indústria de entretenimento não estará sendo remunerada e assim no longo prazo a indústria não se sustentará mais com a pujança que tem hoje. O “segredo” é: cada um paga a sua parte, tem o seu justo entretenimento. Quem quiser continuar vendo filmes piratas, que o faça por sua própria conta e risco e com a sua própria consciência. O fato é que com um acervo formidável no futuro, um preço justo, uma locação (ou compra) digital gerenciada pelo DRM, a comodidade de realizar este tipo de operação é imensa. Eu cheguei a questionar Marcílio D?Amico Pousada, diretor presidente da Livraria Saraiva, se ele achava que um serviço desses seria um “tiro na pirataria”. Ele respondeu que não obrigatoriamente, pois há pessoas que pirateiam hoje e vão sempre continuar querendo não pagar pelos filmes. Mas aqueles que quiserem ter um ótimo serviço, um largo acervo, comodidade, praticidade, pagando um preço justo e remunerando a todos que merecem, estes podem sim aderir e ajudar a diminuir a pirataria de filmes digitais.