Liderança atual é uma Montanha Russa de sensações
Uma breve contextualização de como chegamos aos dias atuais

Nos últimos anos, liderar vem se tornando um assunto muito desafiador. A transformação do ambiente em que vivemos, em todos os pontos de vista, vem exigindo do líder um papel cada vez maior de protagonismo e resiliência.
Se para qualquer individuo as transformações recentes do mundo foram perturbadoras, imagine para um líder que, além de ter de superar seus medos e preocupações como qualquer um, tem de ter a coragem e a habilidade de, mesmo em entornos cujo futuro é desconhecido, dar um rumo ao grupo que lidera. Isto pode ser aplicado tanto do ponto de vista corporativo, quanto pessoal e familiar.
E, convenhamos, os últimos anos não foram muito amistosos conosco. Em várias categorias de assuntos, vivemos sentimentos não só desconfortantes como muito vivos em nossa memória. Mesmo assim, creio ser importante fazer esta breve viagem ao passado recente e às adversidades que vivemos:
No âmbito político (tentando ser imparcial), deixando para trás a Lava-Jato e a prisão do então ex-presidente Lula, passamos por uma eleição presidencial ultra polarizadas no Brasil, pelo menos as últimas três. Nas últimas duas disputas presidenciais, enfrentamos o fenômeno das discussões sobre política nos grupos de WhatsApp, que separaram muitas famílias e amigos Em seguida, vivemos o impeachment da Dilma, o retorno ao poder executivo do PMDB (ou MDB) e, novamente um presidente preso, Temer.
Os especialistas também apontam para os danos causados pelas chamadas “fake News”, com as pessoas, lamentavelmente, se informando cada vez mais pelas redes sociais e menos pela imprensa, que tem profissionais sérios para cumprir a busca pela verdade dos fatos. E este não é um fenômeno apenas brasileiro. O mesmo ocorreu nos EUA nas duas últimas campanhas presidenciais, com mau uso da tecnologia e dos algoritmos.
O mesmo ocorreu na Inglaterra, quando do plebiscito do BREXIT, que acabou tirando o País da União Europeia.
Voltando ao Brasil, enfrentamos ainda o questionamento do sistema democrático, que culminou nos lamentáveis acontecimentos do dia 8 de janeiro deste ano. Foram cenas chocantes de depredação patrimonial em Brasília, que levaram uma série de pessoas à prisão. Certamente você se lembrará onde estava, como se informou e o que sentiu quando viu as imagens do que estava acontecendo nas principais sedes dos poderes na capital federal.
Na economia (ufa!), avanços
No âmbito econômico, tínhamos no fim do período Dilma uma preocupação com a inflação. Os mais jovens talvez desconheçam o impacto desta patologia no bolso dos assalariados. O Brasil viveu com inflações altas por muitos anos e governos, até que o plano Real conseguiu domar a inflação. É tamanha a afetação da inflação que muitos, àquele momento, tinham um temor expressivo por sua volta. As contas públicas estavam em xeque e o governo impichado deixava no mercado um sentimento desestimulante.
A boa notícia é que temos tido uma evolução institucional importante nos últimos anos, com uma série de reformas modernizadoras aprovadas pelo Congresso Nacional. Começando pela Reforma Trabalhista e pela independência do Banco Central. Depois, a Reforma da Previdência e hoje estamos com praticamente aprovado o novo Marco Fiscal — com metas que preveem, o desafiante mais possível déficit zero em 2024, seguido por superávits nos anos seguintes, o que torna bem mais difícil episódios de gastança exagerada do dinheiro público às vésperas de eleições, como é frequente em nosso País.
Também está muito próxima de ser aprovada no Senado (já foi votada na Câmara Federal) a Reforma Tributária, com a tão debatida e sonhada, nas últimas décadas, simplificação e redução do número de impostos. Certamente existirão críticas de diferentes setores a um ou outro dispositivo da Reforma, mas ela já terá o mérito de reduzir o emaranhado de tributos e contribuições que obrigavam nossas empresas a manterem verdadeiros exércitos de colaboradores internos e externos para dar conta da dura tarefa de pagar impostos no Brasil.
Em um mundo diferente com pandemia e guerra, nos últimos anos, o governo trouxe o “Posto Ipiranga” para liderar a pasta da economia e, com um alinhamento dos pilares econômicos com as práticas ortodoxas, conseguiu trazer a economia, pouco a pouco, a um cenário melhor. Pelo menos até a pandemia. Passado o grande susto pelo novo cisne-negro, os fundamentos econômicos, o teto fiscal, a independência do banco central entre outras ações, mostraram-se eficientes. A inflação foi contida pela alta da taxa de juros, que saiu de aproximadamente 2% aa na pandemia para quase 14% aa no fim dela e o Brasil foi visto por muitos como um dos melhores condutores da política econômica durante a pandemia.
Por fim, no âmbito global/ macro, a ascensão de Trump na presidência dos EUA foi transformador. Suas ideias pro-EUA flertava com uma depreciação da política externa. Com a ideia de “Make USA great again”, Trump alterou a política estabelecida pelos democratas, dizendo que iria repatriar a indústria para o território americano. Construiu muros para separar os vizinhos do sul e, inaugurando uma tendencia de comunicação em que o Twitter se tornaria uma ferramenta de oficial do governo, postava ativamente notícias, ações e opiniões sua em nome do governo.
No final de 2019, notícias vindas da China anunciavam o que poderia ser o maior desafio do ser humano na Terra.
Embora no início parecessem distantes as imagens de pessoas em países no outro lado do mundo trancafiadas em casa, com máscaras e roupas do tipo astronauta, não demorou muito para o primeiro caso da Covid-19 aportar no Brasil e de ser declarada uma pandemia global.
Tenho certeza de que as perguntas que fazíamos naquele momento ainda estão frescas na memória de quem viveu isso: Será que isso vai chegar aqui? E se eu pegar esse vírus? E minha família? Filhos? Pais? Como eu vou ao mercado? O que tenho de estocar? Quanto tempo isso durará? O que será de minha empresa? O que será de meu mercado? Temos condições de colocar todos os colaboradores em home-office? Viveremos todos em home-office de agora em diante? Faço um downsizing na empresa? Perguntas e mais perguntas… Poderia usar mais dez páginas e não atenderia todas as perguntas que tínhamos naquele momento em nossas preocupações.
Mas, nos momentos mais aterradores da pandemia, alguns bons valores do ser humano foram potencializados: deu-se valor a categorias de profissionais que não deixaram a “peteca cair”: além de profissionais da saúde, foram exaltados policiais, profissionais da logística, entregadores, cozinheiros, comercio-eletrônico etc. A pandemia arrefeceu com a chegada das vacinas e readaptação do mundo, deixando pelo caminho a vida de muitos seres humanos, muitas empresas e muitos negócios. Ninguém passou ileso, mas o setor de serviços teve a maior afetação naquele momento. Todos têm um amigo ou parente que não conseguiu superar. Momentos aterradores, de incertezas mil.
Novamente a tecnologia jogou e ainda joga um papel de intenso protagonismo: graças a tecnologia muitos empregos foram preservados com o home-office. Passado isso, esperávamos a bonança que costumeiramente vem após a tempestade, mas, ao invés disso, uma afetação da cadeia logística global trouxe a falta de chips e, consequentemente de produtos dos mais diferentes tipos. A indústria não passou ilesa por este período.
E quando a pandemia finalmente arrefecia e a situação econômica mundial caminhava para se normalizar, surge a guerra. A Guerra Russo-Ucraniana, que em seu início, em fevereiro de 2022, causou medo na Europa e no mundo. Muitos especialistas em relações internacionais temiam que se tratasse do início da 3ª Guerra Mundial – hipótese esta até hoje ainda não totalmente descartada. Qual seria o papel das grandes potências, dos EUA, Europa e China neste novo momento da geopolítica internacional? O que dizer do abastecimento do gás russo à Europa? O que dizer do petróleo russo? E do trigo ucraniano? E dos fertilizantes? – de maneira geral das relações comerciais naquela região do mundo? Enfim, a guerra até hoje não foi finalizada, mas já há uma nova acomodação geopolítica e de dependência internacional em curso que de fato, não sabemos ainda como terminará.
Pois bem, é neste contexto em que vivemos. O tal mundo VUCA (Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade, na sigla em inglês) que também se transformou e agora já é o mundo BINA (frágil, ansioso, não-linear e incompreensível, também na sigla em inglês) é o que abraça a nossa existência. É neste cenário de indefinição futura que a liderança se constrói e se prova. Esperamos não viver uma nova pandemia nos próximos cem anos (a anterior, a Gripe Espanhola, foi há cem anos), embora os cientistas não tenham previsões muito otimistas neste campo.
Mas, como sou um otimista, me arrisco a dizer que os líderes que superaram com êxito a fase da pandemia do Covid-19 em postos de direção são líderes incrivelmente vencedores e têm experiencia, atitude e conhecimento para driblar situações análogas – e inclusive para domar a crise ambiental e de aquecimento do planeta que enfrentamos hoje. Em outras palavras, todo o medo, as incertezas e responsabilidades assumidas ao longo do momento histórico recente e atual, estão gravadas em nossas memorias. A boa notícia é que hoje somos líderes melhores e mais bem preparados, talvez como em nenhum outro momento de nossa história.
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