A economia da criatividade e inovação
Dia da Inovação: em abril, outubro ou ambas as datas, o que realmente importa é que o dia seja celebrado e que a consciência de inovação cresça
Assim como outras datas no calendário, não há um consenso sobre o Dia da Inovação. No Brasil, a data de 19 de outubro foi aprovada pelo congresso nacional em 2009 e, sancionada pela lei 12.193 em janeiro de 2010. Contudo, mais tarde, a ONU definiu como Data Internacional da Criatividade e Inovação o dia 21 de abril.
Não importa se em abril, outubro ou ainda nas duas datas, o que realmente importa é que a data seja celebrada e que a consciência da necessidade de inovação cresça.
Assim como não há uma definição para a data no Brasil, não há uma única definição para a Economia da Criatividade e Inovação. O contexto pode variar de uma expressão artística à resolução de problemas em ambientes corporativos, econômicos, sociais e do desenvolvimento sustentável. Atualmente, ela corresponde a aproximadamente 3,1% do PIB mundial e a 6,2% de todos os empregos do planeta.
Certamente é um dos segmentos mais jovens e de alto crescimento da economia global, reforçado pelo relatório da UNESCO: “Re|Shaping Policies for Creativity”.
Há uma crença, inclusive, de que o mundo será pautado pelo crescimento acelerado de produtos e serviços com menores pegadas de carbono, de modo a se atingir as metas de Desenvolvimento Sustentável de 2030 e as 17 ODS’s.
Pertencimento global
As relações entre um país e a ONU são multifacetadas e podem variar dependendo de muitos fatores, incluindo liderança política, mudanças de governo e prioridades nacionais.
Embora signatários da agenda global e, portanto, ostentando nosso pavilhão entre os que pertencem às iniciativas da economia da criatividade e inovação, a verdade é que não há um só “Accelerator Lab” da organização no Brasil, país cuja extensão territorial e diversidade comportaria, inclusive, mais de um.
Enquanto isso, nossos vizinhos Argentina, Uruguai, Bolívia, Paraguai, Peru, Equador, Colômbia e tantos outros já possuem seus programas estruturados e equipes formadas de modo a pertencer globalmente à iniciativa, nós seguimos com uma agenda própria, local.
Uma agenda própria não é necessariamente algo ruim, mas deixar o protagonismo em uma temática como esta de lado, pode ser prejudicial a longo prazo.
Agenda local de inovação
Os fatores que determinam nossa proximidade ou não com a ONU em todas as suas temáticas são os mesmos que afetam a priorização da agenda local de criatividade e inovação. Contudo, seguimos como nação, com destaque em energias renováveis, pela nossa abundante disponibilidade de recursos naturais, em agricultura, como um dos maiores produtores de alimentos do mundo, em biotecnologia, pela rica biodiversidade capaz de promover o desenvolvimento de medicamentos, alimentos e produtos farmacêuticos, em tecnologia aeroespacial, com aplicações importantes em comunicação e pesquisa científica.
Não bastasse o forte desenvolvimento como nação nestas áreas, temos ainda uma potente rede de fomento setorial, criada pelo sistema S, especialmente por SESI, SENAI, SENAC e SESC, aceleradoras de peso como ACE, Liga Ventures, Distrito e Kyvo, além de 19 unicórnios registrados (Startups com valuation acima de U$ 1 Bilhão).
Hiperlocalização
De nada adianta uma organização internacional, uma agenda política e todo uma rede apoiar a inovação se cada pessoa, em cada empresa, em cada segmento não se engajar com o movimento de inovação.
Mais do que criar uma ou ainda várias inovações, o papel da gestão de inovação dentro de uma organização é o de habilitar 100% dos colaboradores a olharem para seus próprios processos e melhorá-los ou ainda revolucioná-los, seja através do intraempreendedorismo, seja por meio do processo de inovação aberta, com o ecossistema de inovação.
Essa regra vale ou deveria valer para qualquer tipo ou tamanho de empresa. De uma MEI até uma grande corporação. Organizações que inovam se destacam. Organizações que criam processos de inovação que habilitam todos a inovar continuamente permanecem!
Agindo em prol da inovação
Em 2018, o programa Fantástico da Rede Globo, amplificou a visibilidade sobre a inovação construída por uma MEI conhecida por “Pipoca do Valdir”. O vídeo, disponível no Youtube, dá conta de que à época o pipoqueiro já tinha implantado 140 inovações em seu carrinho, alçando-o inclusive à carreira de palestrante.
Se em uma MEI, as decisões partem puramente do próprio empreendedor, em uma grande empresa, é comum que hajam barreiras à implantação de uma cultura de inovação. As barreiras são os próprios processos existentes criados para sustentar a organização ou atender a uma agenda do regulador, quando é o caso. Como Yin e Yang, processos são a antítese da inovação.
Processo é em sua definição: uma sequência de tarefas (ou atividades) que ao serem executadas transformam insumos em um resultado com valor agregado. A execução do processo de negócio consome recursos materiais e/ou humanos para agregar valor ao resultado do processo. Insumos são matérias-primas, produtos ou serviços vindos de fornecedores internos ou externos que alimentam o processo. Os resultados são produtos ou serviços que vão ao encontro das necessidades de clientes internos ou externos.
Processo exige uma entrada/insumo conhecido. E, como resultado temos uma saída/resultado conhecido/esperado. Qualquer coisa diferente é, portanto, uma anomalia ou erro.
Um processo que habilite a inovação, será quase sempre uma exceção a um processo que já existe. Do departamento de Compras ao Jurídico passando por toda a parte Operacional da empresa exceções precisarão ser admitidas.
O maior de todos os objetivos de inovação de uma companhia sempre será o de matar a companhia criando um novo e mais sustentável modelo de negócios. O maior objetivo dos processos é o de preservar os negócios da companhia, como eles existem.
Deve-se, portanto, estabelecer uma parceria e não uma queda de braços para que a companhia possa se permitir esta reinvenção. Contudo, é preciso que se diga: cada inovação depois de testada, pode e deve ser processualizada pelo time ou área a qual ela se destina.
Neste dia 19 de outubro e, em todos os próximos dias, convido o leitor deste artigo a fomentar o ambiente de inovação onde estiver. Você pode ser um protagonista desta transformação, ou, ficar comendo pipoca (do Valdir) enquanto assiste a mudança acontecendo do lado de fora!