Busco uma experiência em um setor diferente. Consigo fazer esta transição?

Há oportunidades, mas também riscos, em uma mudança para um segmento muito diferente

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11:56 am - 12 de julho de 2021

No exercício da atividade de headhunting, tenho a oportunidade de conversar com muitos executivos que, dentre outros temas, expressam seus desejos e expectativas sobre o que seria interessante em uma eventual nova oportunidade profissional.

Um desejo muito comum é o de vivenciar uma experiência em um setor diferente daquele onde a pessoa desenvolveu sua carreira. Normalmente esta colocação vem seguida de um exemplo de um colega ou conhecido que fez uma movimentação desta natureza e que está indo muito bem…

Para um profissional que teve sua carreira essencialmente conectada com um determinado setor é possível realizar esta transição, ou seja, assumir uma posição em uma empresa em um segmento diferente?

Sim, é possível. Mas não é o mais provável.

Há várias questões envolvidas sobre este tema. A primeira é a mais óbvia.

Cada setor tem suas particularidades. O conhecimento sobre as empresas que compõe aquele segmento – tanto as que competem diretamente quanto às empresas que formam a cadeia de fornecedores – o conhecimento sobre quem são os clientes, sobre como o mercado se comporta em termos comerciais, as peculiaridades dos processos de negociação e concorrência, os tempos e prazos envolvidos de venda, faturamento, recebimento, os principais gargalos e potenciais problemas da cadeia, o relacionamento pessoal construído com decisores…

O entendimento destes e outros aspectos são ativos conquistados pelos executivos que conhecem e vivem naquele mercado.

Então, do ponto de vista de uma empresa que busca um novo profissional, é razoável o desejo de que um novo profissional que venha a ser contratado traga para a empresa parte destes ativos. Assim, no contexto de uma nova contratação, a tendência mais comum é a de que as empresas lancem um olhar mais atento à profissionais do segmento onde a companhia atua.

Mas há várias outras nuances envolvidas.

Algumas posições são mais “transversais” que outras. Em um exemplo extremo, um profissional especialista em manutenção de turbinas a gás tende a ter menos mobilidade entre segmentos do que um gerente financeiro.

Dependendo da posição, muitos setores guardam similaridades e a “adaptação” do profissional tende a ser mais fácil. Aviação x Automotiva, Infraestrutura x Energia etc.

A moeda possuiu um outro lado: não é o mais comum mas também não é raro, a situação na qual a empresa que está buscando um novo profissional reconheça que determinados setores são mais desenvolvidos em alguma atividade e, por isso, haja uma simpatia por profissionais daquele segmento. Como exemplos de áreas tecnicamente mais sofisticadas, a área de suprimentos na indústria automotiva ou de logística em FMCG.

Mas há um fator novo nesta história toda: estamos em um mundo em mudança cada vez mais veloz. Estas mudanças muitas vezes implicam em fazer coisas que nunca foram feitas antes. Sendo assim, como prever com precisão quais as experiências necessárias para fazer algo completamente novo? Neste contexto, alguns graus a mais de cuidado devem ser incluídos nas avaliações de parte a parte – do profissional sobre a oportunidade/ empresa e da empresa sobre o profissional – para estimar se a “parceria” dará certo. A avaliação e autoavaliação sobre características pessoais torna-se ainda mais importante.

Em resumo, é sim possível mudar de setor. Pode ser mais fácil ou mais difícil dependendo de várias coisas. E pode ser um movimento muito interessante tanto para o profissional quanto para a empresa que o contrata. O novo estimula, enriquece, impulsiona o desenvolvimento.

Mas cabe uma reflexão ao se pensar sobre esta possibilidade:

É importante ter a consciência que, em uma eventual transição para uma empresa que atua em um setor muito diferente, o profissional poderá estar abrindo mão de um ativo valioso (o conhecimento sobre um determinado mercado), o que pode ser um risco considerável.

Este desejo de mudança pode estar relacionados à outros aspectos da vida, não necessariamente ao trabalho exclusivamente. Desta forma, é recomendável pensar se mudanças de hábitos, novos hobbies, a prática de esportes, uma atividade no terceiro setor etc, poderiam ser um caminho para preencher o desejo por desafios e novidades.

*Leonardo de Souza possui mais de 15 anos de experiência nas atividades de Executive Search e de Management Consulting. Formado em Engenharia de Produção pela UFRJ, possui pós-graduação em Gerenciamento de Projetos pela FGV e MBA na Fundação Dom Cabral com extensão na Kellogg School of Management. Atualmente, é sócio da Boyden

 

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