A importância da governança corporativa para investidores em startups

Relação entre investidores e fundadores apresenta assimetria de informações e interesses – mas que pode ser mitigada pela governança corporativa

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2:57 pm - 06 de julho de 2021
venture capital, investimento, startups, inovação

Governança corporativa e startups podem parecer incompatíveis à primeira vista. Muitos empreendedores e até mesmo investidores em startups entendem que inserir processos de governança demanda muito tempo e energia, além de diminuir a flexibilidade, engessando o negócio. Ou seja, tal prática estaria em total desacordo com o ritmo de uma startup, que, por atuar em condições de extrema incerteza, precisa escalar e crescer rapidamente, assim como se adaptar constantemente.

Essa visão está ancorada em processos de governança de grandes empresas, que necessitam de procedimentos muito estruturados em todos os seus âmbitos. Governança corporativa pode e deve estar adequada ao estágio do negócio, como mostra o caderno Governança Corporativa para Startups e Scale-ups, publicado pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).

Para Eric Ries, startup é “uma organização escalável, de alto potencial econômico e inovadora” e pode ser apresentada como “uma instituição humana projetada para criar novos produtos e serviços sob condições de extrema incerteza”. Nas duas definições encontramos o ritmo de crescimento e necessidade de flexibilidade das startups e podemos entender alguns dos motivos pelos quais governança é fundamental para esse tipo de negócio.

Startups são formadas por pessoas, critério que, inclusive, é o mais importante na análise do investidor-anjo (ou do gestor de venture capital, por exemplo) para a tomada de decisão de investimento. São empreendedores e empreendedoras (os chamados founders) que constroem o negócio e é o relacionamento e alinhamento de visão entre eles e seus sócios-investidores que pode agregar um enorme valor ao negócio. Apesar de todos esses pontos positivos, relações entre pessoas também apresentam várias dificuldades.

A relação entre investidores-anjos (ou gestores de venture capital) e founders apresenta uma assimetria de informações e, eventualmente, de interesses, que é mitigada por uma boa estruturação de governança corporativa. Os founders desempenham um papel duplo de sócios e administradores, nem sempre claro para os mesmos, que pode levar a decisões que não estão no melhor interesse da companhia como um todo. Ao permitir o compartilhamento de informações e participação de todos os stakeholders de forma clara na condução da empresa, propicia um crescimento sustentável e viabiliza que o caminho de captação de diversas rodadas de investimento, típico para startups, ocorra com muito menos atrito. Em síntese, o negócio é beneficiado.

Investidores-anjos e gestores de venture capital agregam suas experiências e atuam como mentores e conselheiros (consultivos em estágios mais iniciais ou de administração em estágios mais avançados) nas empresas investidas, tendo um papel fundamental na construção da governança ¨corporativa – definida na página 8 do caderno como “o sistema pelo qual as empresas e demais organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre sócios, conselho de administração, diretoria, órgãos de fiscalização e controle e demais partes interessadas”.

Além de terem interesse direto no acompanhamento e controle de resultados de investimento, trazem a sua experiência nesses processos, o que ajuda a criação de uma cultura de integridade e transparência na preparação para o crescimento e facilita a captação de novas rodadas de investimento, além de gerar segurança para todos e facilitar os processos de tomada de decisões estratégicas. Para os investidores-anjos (ou gestores de venture capital), garantir o foco na missão, adequar o planejamento da organização, monitorar os indicadores de crescimento, efetuar o acompanhamento financeiro e planejar a captação de recursos ao longo do tempo são elementos de mitigação de risco.

O grande desafio para eles é entender o perfeito equilíbrio entre os processos implementados, a energia e os recursos que os mesmos demandam, assim como o estágio de maturidade do negócio. Definir os principais pontos, medir seu impacto e revisar os mesmos ao longo do tempo devem ser tão parte do processo como é na definição de produtos ou serviços.

Outro grande valor para as startups que apresentam uma boa governança corporativa é relativo à sua imagem junto a seus fornecedores e consumidores. A existência de processos que garantem compliance, transparência e conformidade com a legislação tornam essas empresas, ainda que com pouco tempo de existência, negócios confiáveis, o que facilita o relacionamento comercial. Nessa linha, um valor intangível que cada vez mais se transforma em valor monetário em uma sociedade mais conectada a valores de ESG.

Startups são negócios que constroem seu futuro a cada momento. Fazer isso com uma boa governança corporativa agrega valor e aumenta as chances de sucesso!

*Maria Rita Spina Bueno é diretora executiva da Anjos do Brasil e fundadora do MIA – Mulheres Investidoras Anjo. Atua em conselhos de organizações ligadas ao ecossistema empreendedor, como Artemísia e Acelera – Rede Mulher Empreendedora. É cofundadora e conselheira do Dínamo, movimento que atua na formulação de políticas públicas para empreendedorismo e investimento em startups e membro da Comissão de Startups e Scale-ups do IBGC.

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