Moderadores do YouTube são pressionados a assinar termo de isenção
Accenture, companhia que gerencia o time de revisores que moderaram vídeos imprópriors, estaria pressionando funcionários a assiná-lo
O time de revisão de conteúdo da Accenture, empresa terceirizada que presta serviços para o YouTube ao moderar vídeos classificados como impróprios, recebeu no final do ano passado um termo no qual eles reconheceriam que seu trabalho poderia causar doenças psicológicas, como o estresse pós-traumático (PSTD, na sigla em inglês).
Em um documento chamado “Acknowledgement” (“Reconhecimento”), enviado pela plataforma DocuSign e ao qual o The Verge teve acesso, o conteúdo possui trechos nos quais o colaborador afirmaria reconhecer que revisar conteúdos perturbadores faz parte de seu trabalho e que pode haver consequências para a saúde, como o desenvolvimento de estresse pós-traumático.
A íntegra do comprovante teria duas páginas e uma borda preta nas folhas, para sinalizar que não se trata de um simples papel. É o primeiro caso no qual uma empresa reconhece os perigos de se lidar com a análise de conteúdo marcado como impróprio.
As dificuldades enfrentadas pelos moderadores de conteúdo de plataformas como Facebook, YouTube e Twitter vieram à tona durante o ano passado, quando o próprio The Verge realizou uma série de reportagens contando a realidade dos terceirizados que trabalhavam para o Facebook: baixo salário, condições quase precárias de trabalho e pouco apoio para lidar com o dano psicológico causado pela exposição a imagens extremamente violentas.
A Cognizant, empresa que prestava esse serviço para a rede social, anunciou em novembro passado o fechamento dessa divisão.
Responsabilidade das companhias
Além do YouTube, a Accenture também presta serviços para o Facebook e Twitter, que não comunicaram se a empresa enviou o mesmo formulário aos seus terceirizados.
Dentro do documento, o funcionário também se colocaria como responsável por monitorar sua saúde mental e informar à empresa caso sinta que algo não está certo. No mesmo papel, a marca afirma que conta com várias redes de suporte caso o funcionário acredite estar com o transtorno, em especial o auxílio do departamento de recursos humanos.
Para o The Verge, a Accenture comunicou que a assinatura do documento é voluntária, mas funcionários que conversaram de forma anônima com a publicação afirmam que estão sendo ameaçados de demissão caso não concordem com os termos.
Especialistas que conversaram com o site afirmam que a assinatura do documento, no qual os funcionários seriam abrigados a informar para a empresa alguma instabilidade emocional, poderia ser visto como ilegal, já que forçaria o colaborador a se colocar numa posição de vulnerabilidade.
Procurado, o Google enviou o seguinte comunicado:
“Os moderadores fazem um trabalho vital e necessário para manter as plataformas digitais mais seguras para todos. Escolhemos cuidadosamente as empresas com as quais fazemos parceria e exigimos que elas forneçam recursos abrangentes para apoiar o bem-estar e a saúde mental dos moderadores.”