Yuval Harari: a tecnologia e o risco do aumento de pessoas inúteis

Pela primeira vez no Brasil Yuval Harari, autor da trilogia Sapiens, falou sobre os desafios que a humanidade enfrentará com a expansão da tecnologia.

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7:15 pm - 06 de novembro de 2019

Na última terça feira (06/11), a HSM Expo 2019 trouxe pela primeira vez ao Brasil o autor e filósofo Yuval Noah Harari para debater o futuro da humanidade e os novos desafios do século 21. Harari é autor do best-seller internacional Sapiens: uma breve história da humanidade, e do livro Homo Deus – uma breve história do amanhã. Seu último lançamento, que já é também um sucesso, é o título 21 lições para o século 21.

Para o filósofo, os maiores desafios que a humanidade já superou foram a fome, as pragas e a guerra. Hoje, a humanidade cultiva tanta comida, que mais pessoas morrem por comerem muito do que por comerem de menos. “A fome natural desapareceu do mundo e a única fome que ainda existe é a fome política, países como a Síria e o Sudão ainda morrem de fome por uma questão política, por que o governo ainda quer que as pessoas morram de fome”, pontou Harari.

Os seres humanos acreditavam que as guerras eram uma parte natural do mundo imperfeito, foram as últimas gerações que descobriram que nós é que temos o poder de levar a paz ao mundo, tomando decisões corretas. Hoje vivemos na era mais pacífica da história da humanidade e o significado da palavra paz mudou. Antes paz significava falta temporária de guerra, hoje em contraste, paz significa a pequena probabilidade de guerra. Hoje as guerras matam menos que o suicídio e você é o seu pior inimigo.

Então, quais serão os desafios do próximo século?

Para Yuval, os desafios da humanidade no próximo século serão o retorno da guerra, o colapso ecológico e a disrupção tecnológica.

O retorno da guerra

“Se os humanos tomarem decisões estúpidas as guerras podem voltar, infelizmente há um desequilíbrio entre sabedoria e estupidez, é preciso muitas pessoas sábias para fazer a paz, mas um tolo para começar uma guerra”, explicou o autor.

Colapso ecológico

Esse desafio é uma realidade presente que já está acontecendo ao nosso redor. “Atualmente o crescimento econômico é inevitável  e a única esperança realista de evitar o colapso ecológico é o desenvolvimento de tecnologias eco amigáveis”, pontuou Harari

Disrupção tecnológica

Ninguém quer uma guerra nuclear, nem o colapso ecológico, mas infelizmente a fantasia tecnológica de algumas pessoas pode ser o pesadelo de bilhões de outras. “O poder está com quem tem a tecnologia, como a China e o Vale do Silício, o abismo social que isso vai trazer para a sociedade em alguns anos é algo difícil de calcular, são os países em desenvolvimento que vão sofrer”, alertou Harari.

“É comum ouvirmos tanto das empresas e empreendedores que estão desenvolvendo as tecnologias sobre as suas vantagens, meu trabalho é destacar o perigo da tecnologia que muitas vezes não está sendo pensado por quem a está desenvolvendo”, complementou o autor.

O risco do aumento de pessoas inúteis do ponto de vista econômico e politico com a disrupção tecnológica é imenso. Ninguém sabe como o mercado de trabalho será em 2050, mas sabemos que será completamente diferente do que é hoje, já que a maioria dos trabalhos vão desaparecer até lá. Será que trabalhos novos suficientes serão criados? Como treinar as pessoas para esses novos trabalhos?

Como um motorista de caminhão de 40 anos vai ser reinventar como um desenvolvedor de software? Mesmo que isso aconteça não é uma solução no longo prazo.

Hackeando seres humanos

O conhecimento biológico somado ao poder computacional e também à dados é uma combinação que resulta na habilidade de hackear os seres humanos, isso é, a criação de algoritmos que vão nos conhecer melhor do que nós mesmos. Para hacker o ser humano você não precisa conhecer todas as pessoas perfeitamente, somente conhecê-las melhor do que elas mesmas e isso não é difícil.

“Descobri era que gay com 21 anos, como eu não percebi antes? Era tão óbvio, eu não sabia algo muito importante sobre mim mesmo”, disse Yuval. “Talvez eu não saiba que sou gay, mas a Coca Cola sabe e isso é importante para ela, pois da próxima vez ela vai me mostrar uma propaganda com um homem ao invés de uma mulher, e eu vou comprar a Coca ao invés da Pepsi sem nem saber o por quê, são esses tipos de dados que valem bilhões”, completou o filósofo.

Segundo Yuval o que o ser humano pode fazer para superar esse, que parece ser o maior desafio do século, é conhecer ele mesmo melhor do que as máquinas. “Neste momento existem vários governos e corporações tentando hacker você, se eles puderem conhecer você melhor do que você mesmo, eles poderão te vender qualquer coisa, de um produto a um governo totalmente totalitário.”

O que devemos fazer no coletivo?

O autor pontuou três focos para os quais a sociedade deve olhar na prática, para que a disrupção tecnológica não seja maléfica ao ser humano. São elas:

  • Evitar a concentração de dados e poder em um só local;
  • Garantir que toda precaução seja tomada já que alguns países vão perder muito com o desenvolvimento da tecnologia
  • Fortalecer as corporações globais

“Nenhuma nação pode parar a mudança climática por si só, bons nacionalistas precisam ser globalistas já que não devemos subestimar a estupidez humana, ela é muito poderosa”, finalizou Harari.

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