TI + áreas de negócios: é preciso criar sinergia para conquistar bons resultados

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11:10 am - 26 de agosto de 2015
TI + áreas de negócios: é preciso criar sinergia para conquistar bons resultados
Até pouco tempo, a área de TI era um executor: recebia demandas e as cumpria, sempre pensando na quantidade de servidores, storages e outros itens tecnológicos necessários para desenvolver um projeto bem-sucedido. Mas esse perfil, puramente técnico, evoluiu e os profissionais do setor ganharam papel estratégico e começaram a participar ativamente das decisões de negócios.

Em muitas empresas, TI ganhou cadeira permanente no board. Pesquisa realizada com os 154 líderes de tecnologia da informação finalistas do prêmio Executivo de TI do Ano de 2014, promovido pela IT Mídia em parceria com a Korn Ferry, comprova a movimentação. Dos executivos, 51,3% afirmaram que se envolvem sempre nas decisões estratégicas de negócios, mostrando crescente parceria com a área. Item, aliás, destacado pelos 54 finalistas em 18 categorias do prêmio que afirmam manter proximidade com as demais unidades da empresa.

Essa proximidade, no entanto, não acontece ao acaso. É fruto da importância que TI ganhou nos negócios. Mas, afinal, como os líderes de tecnologia da informação estão conduzindo essa aliança, que tem mostrado grandes resultados?

Regina Pistelli, diretora de Tecnologia do Grupo ABC, grupo de serviços de comunicação, conta que essa evolução no relacionamento no seu caso aconteceu de forma muito natural, em razão do seu perfil sempre conectado aos negócios. “Passo 70% do meu tempo com o usuário. Sempre fui assim, desde quando era desenvolvedora”, assinala. “TI tem um linguajar mais difícil, se ficarmos escondidos, o cliente interno não ficará satisfeito. O interessante é estar com eles, entender a demanda. Isso é bom para os dois lados”, completa.

Para Regina, o desafio de estar próxima das áreas é ainda maior, pois como o Grupo ABC atende uma série de companhias de comunicação, de agências de publicidade a empresas de mídia, cada uma tem uma cultura diferente, uma necessidade específica, e para fazer com que os projetos deem certo é preciso estabelecer um alinhamento constante e entender a cultura e o perfil de cada uma das organizações.

Ouvir o cliente e entender seu desafio, na visão de Regina, não é algo que se possa fazer sem sair da cadeira e realmente visitar cada uma das áreas. “Estimulo muito em minha equipe essa interação. Em cada uma das agências que atuamos, tenho um profissional que se reporta a mim e está nos negócios, respirando aquele contexto”, relata.

Certa vez, um de seus clientes enfrentava problema de lentidão no sistema e os usuários estavam infelizes. A TI, por outro lado, encontrava-se exausta tentando encontrar uma solução, mas não conseguia obter êxito na tarefa. “Então, levei os desenvolvedores para trabalhar com os usuários. Foi bárbaro, porque esse sistema era de missão crítica, e eles ficaram ao lado dos negócios. O estímulo mútuo foi tamanho que 90% dos problemas foram solucionados pelos próprios desenvolvedores e somente 10% tiveram de ser resolvidos por especialistas”, lembra.

Na gestão de Regina, é muito comum ainda convidar o pessoal das áreas usuárias para eventos de TI e estimulá-los a conhecer a rotina do departamento, estabelecendo uma espécie de laboratório ‘in loco’. Isso ajuda esses profissionais a terem uma visão completa das atividades dos colegas de outros setores.

Ela acredita que manter proximidade das demais áreas gera, inevitavelmente, uma relação de confiança e respeito e isso ajuda na rápida resolução de problemas, a propor inovações e a captar demandas para atender aos objetivos estratégicos da companhia. “TI carrega o estigma de que não funciona: você pede e não tem. Quando se está próximo, essa visão muda”, pontua.

A executiva observa que a política da ‘TI aqui e negócios lá’ tende a desaparecer ainda mais com a evolução do digital. “Nesse universo, os usuários têm amplo contato com soluções como nuvem e todas as áreas podem usar com facilidade cloud. Por isso, é preciso estar perto para TI permitir o uso da maneira correta, considerando itens de segurança, por exemplo”, diz.

Quebrando barreiras
Na JBS, empresa de processamento de carne bovina, ovina e de aves, a barreira que separa TI dos negócios também desapareceu aos poucos. Um dos principais patrocinadores dessa mudança foi o próprio CEO global da empresa, Wesley Batista. “Ele sempre diz que o sistema não é a da TI, e sim do negócio. Se os dois estão juntos, dará certo”, afirma João Pilla, CIO da JBS.

Pilla relata que a TI tem analistas de negócios. Esses profissionais são responsáveis por entender as demandas das demais unidades, fazer os mapeamentos necessários e levar para o comitê de aprovação. “Temos um grupo estruturado na TI que conhece o negócio. Mas ele não toma decisões de maneira deliberada. Ele vai até a área, faz o mapeamento junto com o usuário-chave, estrutura para depois desenvolver”, conta.

O executivo vê como uma necessidade esse alinhamento, eliminando o ruído entre os talentos por toda a empresa. “As vantagens são diversas. Uma delas é não ter retrabalho, porque ao conduzir o trabalho com outros profissionais, elimina-se a dúvida antes de o projeto ser finalizado”, assinala, completando que o que importa é a união dos esforços.
Atualmente, essa parceria está sendo colocada em prática com o mapeamento dos processos e atribuindo responsabilidades. “Se o pessoal das áreas sentir que está participando, então todos vão apoiar”, completa.

Dono de um bom trânsito com o pessoal de negócios, Italo Flammia, diretor-executivo de Tecnologia da Informação da Porto Seguro, vencedor do prêmio Executivo de TI do Ano na categoria Seguradoras e serviços financeiros, conta também com especialistas de TI, que respondem para ele, alocados nas áreas de negócios.

Flammia relata que a proximidade com os usuários fortaleceu-se especialmente após a implementação do Projeto TI MultiModal, iniciado em 2014. Seu objetivo era readequar processos, controles e metodologias para criar uma TI rápida, ágil e em linha com as especificidades de cada área. “A Porto Seguro é composta por 25 empresas, cada uma com uma necessidade, velocidade e orçamento. E TI teve de se adaptar a essa realidade”, assinala.

Durante o IT Forum 2015, que aconteceu em abril na Praia do Forte (BA), ele reconheceu que a demanda por serviços de TI está vindo cada vez mais de fora do departamento.

“Fizemos recentemente um inventário de sistemas clandestinos e tínhamos 60 plataformas nessa situação. Entendemos que TI não pode ser gargalo, então a proximidade com as áreas pode reduzir a Shadow IT”, observou durante o encontro.
Daniel Moreira, gerente de TI da Coca-Cola FEMSA Brasil, observa que seu principal desafio, hoje, é deixar no passado a imagem de que TI somente entrega serviços para se inserir nas áreas usuárias. Essa mudança está em curso, relata, uma demanda que partiu de tecnologia e já se espalha pelas áreas. “Todos os negócios identificam que precisam de TI. Hoje, além da globalização, o mundo é muito dinâmico e isso requer tecnologia para ser rápido e ágil”, observa o executivo, para quem a sintonia com toda a empresa é inerente ao papel da TI.

Hoje, Moreira participa do board ao lado de seus pares no Marketing, Logística e Comercial para entender o cenário atuais das unidades e identificar oportunidades. “TI começa a falar de processo e não só de tecnologia”, pontua.

Além de ganhar novo status, Moreira afirma que TI passa a participar das tomadas de decisão para o negócio e esse contexto não pode ser observado como custo e sim como oportunidade. “Temos a chance de alavancar novos negócios, otimizando custos”, diz.

Um dos exemplos bem-sucedidos da parceria está em um projeto de armazém vertical conduzindo nas unidades da Coca-Cola. Nele, TI entendeu a necessidade de otimizar espaço nas fábricas, em razão da limitação geografica para crescer e então propôs a estocagem em blocos para apoiar a manufatura. Como benefício, otimizou-se o espaço, o estoque e na alta temporada a companhia consegue fazer o gerenciamento e a entrega de forma adequada, distribuindo o que realmente é necessário.

Na Whirlpool, todas as áreas da companha contam com um parceiro de negócios de TI para dar apoio à área e participar como consultor de projetos especiais. “Com isso, garantirmos o alinhamento e a aproximação de TI com as áreas de negócio”, conta Renata Marques, diretora de TI da Whirlpool Latin America.

Esse casamento começou há pouco mais de três anos, quando iniciou-se o programa Business Relationship Management (BRM). A partir dele, a TI foi direcionada a estabelecer laços com as demais unidades. “Na época também foi criada uma estrutura específica para desempenhar o papel de ‘Business Partner’, mas, hoje, posicionamos como uma competência que deve fazer parte do DNA do funcionário da TI”, explica.

Durante o IT Forum+, realizado de 19 a 23 de agosto na Praia do Forte (BA), CIOs discutiram a integração com as áreas de negócios e reconheceram a necessidade de proximidade com as demais unidades da empresa. Alair Zago, que até pouco tempo respondia pela CIO da Cocamar Cooperativa, migrou recentemente para a superintendência financeira e mais do que nunca sabe da importância de manter esse alinhamento. “É extremamente necessário”, relata.

Luis Felipe Schneider, diretor de TIC na Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, concorda e afirma que a TI vive uma onda de descentralização e é preciso adaptar-se. “Essa mudança já está em curso”, alerta. 

No atual cenário corporativo, TI já entendeu que criar sinergias com os clientes internos é fundamental e as áreas usuárias estão abraçando esse movimento, que adiciona valor para os negócios e, sem dúvida, impulsiona resultados.

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