Tânia Cosentino: IA pode endereçar os principais problemas do planeta

Presidente da Microsoft foi reconhecida com o 'Executivo de TI do Ano' por projeto que leva IA e nuvem à analise da água de rios

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8:21 pm - 22 de abril de 2021
tania cosentino, microsoft brasil Tânia Cosentino, presidente da Microsoft Brasil. Foto: Divulgação

Tânia Cosentino tinha apenas 15 anos quando na escola técnica decidiu pela profissão que iria seguir. “Achei eletrotécnica apaixonante”, conta hoje a presidente da Microsoft Brasil em entrevista ao IT Forum. Aos 16 anos vinha o primeiro emprego em uma gigante industrial, a Siemens. Mais tarde, o despertar para uma carreira executiva acontecia em um ambiente novo, na Schneider Electric. “Comecei a entender que eu precisava liderar. Decidi que eu ia ser a agente de transformação da minha carreira e comecei a investir em mim mesma”, lembra. Vieram especializações em escolas de negócio, incluindo no INSEAD e na Columbia University, e a busca por crescimento em posições executivas. Em 2008, chegava a oportunidade de liderar uma integração de uma aquisição global da Schneider na França. Ao retornar para o Brasil, em 2009, Tânia assumia a então cadeira da presidência da Schneider Brasil e com ela também um marco na história da empresa: era a primeira mulher a assumir a presidência da subsidiária brasileira da gigante do setor de distribuição e automação elétrica. Anos depois, vinha a promoção para a liderança na América do Sul. Em janeiro de 2019, após quase duas décadas na Schneider, Tânia passava a assumir, então, a Microsoft Brasil.

Com uma graduação em Engenharia Elétrica, poderia-se superficialmente afirmar que Tânia é uma mulher de exatas. “Gosto de ter o conhecimento técnico”, pontua ela em certo momento de nossa entrevista. Mas em sua carreira, são as pautas humanas que parecem ir de encontro ao que a executiva busca deixar como legado. Em 2017, foi reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) por seus trabalhos em prol do desenvolvimento sustentável, sendo também integrante do programa de igualdade de gênero HeForShe, da ONU. Membro ativo do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), foi reconhecida com o prêmio Liderança Feminina da mesma entidade. Seus esforços para alavancar a agenda de sustentabilidade e impacto social na Microsoft Brasil e, em especial, pela condução do projeto “AI For Good – uma parceria com a Fundação SOS Mata Atlântica”, deram à Tânia o prêmio Executivo de TI do Ano 2021, realizado pela IT Mídia, na categoria Impacto Social e Sustentabilidade.

O projeto se baseia em dois princípios, o primeiro deles é que o acesso à agua potável de qualidade é um direito básico humano e o segundo se sustenta no fato de que a inteligência artificial e as tecnologias em nuvem podem apoiar e otimizar a análise da água dos rios e escalar o conhecimento obtido para a criação de políticas públicas e outras ações de enfrentamento. “Acreditamos realmente que a Inteligência Artificial pode endereçar os principais desafios do planeta e da sociedade”, destaca Tânia.

IA para direcionar políticas públicas

Mais de 3.500 voluntários da Fundação SOS Mata Atlântica fazem a coleta de amostras de pontos específicos dos rios, lagos, mananciais e bacias. Com o apoio do programa AI for Good, da Microsoft, a Fundação passou a contar com soluções de nuvem, análise de dados e de Inteligência Artificial para uma análise que era, até então, feita de forma manual. A EloGroup, que faz parte do ecossistema de parceiros da Microsoft, assim como executivos de tecnologia da Microsoft e a equipe de tecnologia da Fundação SOS Mata Atlântica atuaram em conjunto para também desdobrar o projeto iniciado em 2019 após anúncio de investimento da Microsoft na Fundação SOS Mata Atlântica, como parte do programa “AI For Earth” da empresa.

Tânia explica que entre os principais desafios dos voluntários do projeto “Observando Rios” estava a coleta de dados e como reportá-los. “Coletar por coletar não faz sentido. É preciso coletar, reportar, trabalhar esses dados e esses têm de direcionar para uma ação, para uma construção de política pública”, conta. “Questionamos como poderíamos ser mais proativos com dados e aí começamos a ajudar nessa captura para avaliar a progressão ou regressão [da qualidade da água dos rios]”, acrescenta.

Dentre os resultados obtidos está a possibilidade da Fundação agrupar toda a sua própria base de dados, que vem sendo feita periodicamente desde 2003, dando à ONG uma visualização dos avanços ou retrocessos nos níveis de qualidade de água de cada ponto de coleta desde o início das amostragens. Além disso, os dados internos cruzados com os dados externos permitem aprofundar o entendimento de quais fatores impactam ou não na qualidade da água e como essa qualidade pode influenciar outras esferas da saúde pública. Tais dados podem, por exemplo, ser cruzados com bases de outras instituições, inclusive, como a do Sistema Único de Saúde, o DataSUS.

Valor e responsabilidade compartilhada

Para Tânia, o projeto mostra também a importância de se trabalhar em coletivo. “O setor privado tem velocidade, capacidade de execução e solução para muitos problemas, mas ele está desconectado da realidade das comunidades. E você tem as ONGs que estão conectadas com essa realidade. Quando você olha para os objetivos de desenvolvimento Sustentável, um deles diz sobre parcerias. Você não atinge nenhum objetivo deles sozinho”, atesta.

Pautas que atendem a tríade do ESG (sigla em inglês para Meio Ambiente, Social e Governança) vêm ganhado a importância no nível dos conselhos e se alinham com o que Tânia reforça sobre a metodologia de valor compartilhado. “É colocar que o seu core bussiness tem um impacto ambiental positivo, e se ele não tiver, você o mitiga”, explica. E para fazer a diferença, as ações ESG precisam estar, indicam Tânia, na agenda do CEO. “O CEO tem de entender que é parte do negócio, e não um apêndice que, visto uma primeira crise, corta-se a verba já que não estaria voltada para o negócio”, reforça. “Ser apaixonada pelo tema também ajuda”, acrescenta.

Há também outro ensinamento que clareou o compromisso de Tânia em relação às iniciativas de impacto social. Há alguns anos, a executiva se viu em meio à Floresta Amazônica para implementar um projeto para levar energia à uma ONG da região. “Eu tinha uma ideia da execução. A gente, como executivo de grandes empresas, acha que tem resposta para tudo. E quando eu cheguei lá, pensei ‘esse vai ser o projeto que vou implementar’. Passei um dia na comunidade e vi que o projeto não tinha a menor aderência com a real necessidade deles. Entendi que, senão construíssemos um projeto juntos, ele não seria bem sucedido”.

Finalistas Executivo de TI do Ano – Indústria

Categoria Impacto Social e Sustentabilidade

Vencedora – Tânia Cosentino, presidente Microsoft Brasil

Finalista – Eduardo Marini, CEO Green4T – finalista

Finalista – Hélio Rotenberg, presidente Positivo Tecnologia

 

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