Superação e inspiração marcam trajetória da CEO da Fronius

Monalisa Gomes está entre as 5 mulheres da empresa no mundo na posição de comando

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11:39 am - 08 de março de 2018
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Todos os obstáculos parecem ter convergido para os caminhos de Monalisa Gomes, hoje CEO da Fronius, multinacional austríaca, atuante nos segmentos de carregadores de bateria, soldagem e energia solar, presente em 28 países. A conquista do alto comando da empresa no Brasil mais do que reconhecimento pela sua capacidade profissional foi uma recompensa pela luta, comprometimento e perseverança nessa trajetória.

Moradora da periferia de São Paulo, no Jardim Miriam, aos 19 anos, em meio à construção da sua formação, fez-se mãe e teve de abraçar essa responsabilidade sozinha. Para cuidar da sua filha e pagar a faculdade, trabalhou na oficina de costura da sua mãe Patrícia. Esta figura humilde e sábia acreditava que o estudo era capaz de mudar o futuro e orientou a filha, desde a adolescência, a fazer um curso de inglês (que logo se tornou fluente).

Mas a descendência negra foi mais um agravante nessa trilha. Monalisa percebeu cedo a diferença de tratamento e da falta de negros não somente no mercado de trabalho, mas em outras áreas da vida. “Não podemos justificar nossos fracassos por sermos negros, brancos ou pardos. Quando queremos algo, é preciso lutar e ir atrás dos objetivos e não culpar o mundo pela cor da pele, pois isso não muda nada”, ressalta.

Monalisa sabia que ser mãe jovem, mulher, de origem humilde e descendência negra, em conjunção, tornaram-se enorme barreira para seu ingresso no mercado de trabalho e então traçou um plano: “Sabia que deveria me qualificar o máximo que podia na minha área, para não deixar margem para desculpas. Isso me fazia avançar. Sou orgulhosa e muito competitiva, o que não me derrubava, me fortalecia”.

Essa perseverança a ajudou a nunca se abater diante de um “não”. “Até porque, nunca relacionei isso à cor da minha pele e sempre busquei entender o motivo daquele não. A posição negativa nos faz refletir mais e buscar soluções. Esta é a visão de quem supera desafios”, ensina.

Por que Monalisa?

Mas de onde veio o interesse de uma mãe tão humilde, sem muitos conhecimentos, em colocar o nome de Monalisa na filha, tão incomum no bairro onde morava e há 34 anos?

Dona Patrícia permaneceu 23 horas em trabalho de parto e durante esse desafio recebeu das enfermeiras uma revista para se distrair e enganar as dores. E foi de uma reportagem sobre a musa de Leonardo da Vinci que a encantou e trouxe a certeza de que Monalisa era a escolha certa. “Sofri bullying na escola por causa do meu nome. As crianças achavam estranho, mas hoje me orgulho disso”, diverte-se a executiva.

Assim, em meio a uma vida difícil e limitada de recursos financeiros, nasceu Monalisa, a primeira pessoa da sua família a ter conquistado uma formação de ensino superior, em Ciências Contábeis, e com especializações e MBA pela Fundação Getúlio Vargas em Gestão.

Conquistas e inspiração

Monalisa ingressou na Fronius em 2006, como assistente contábil, logo depois de ter-se formado. Ela foi indicada por um controller de um escritório, que prestava serviços para a Fronius, onde havia trabalhado, antes de concluir a faculdade.

No ano seguinte, em 2007, Monalisa fez sua primeira viagem internacional, a convite da Fronius para treinamento na Áustria. “Era também a primeira vez que eu viajava de avião e que ficaria afastada da minha filha por duas semanas. Ela tinha quatro anos na época”, conta.

Em abril de 2017, depois de mais de dez anos na função de Controller, Monalisa foi convidada a assumir a diretoria-geral no Brasil da multinacional austríaca Fronius, tornando-se a quinta mulher a comandar uma subsidiária da companhia. Na Fronius, existem 23 homens que ocupam a posição de comando no mundo e apenas cinco mulheres têm a mesma função. Monalisa está entre elas e é a mais nova liderança feminina da empresa.

Hoje, há o reconhecimento de toda a equipe e da organização pelo seu trabalho. “Prova disso, foi a confiança em me colocar no comando. Muitos dos meus funcionários me classificam como guerreira por conhecerem a minha história. Outro dia um deles me disse que sempre fala para filha sobre a minha trajetória e que gostaria que ela se espelhasse em mim. Quer que siga meu exemplo”, relata com orgulho.

“Independentemente do gênero, o trabalho precisa ser executado. As mulheres são testadas a todo momento. Portanto, entregar os resultados antes dos prazos é fundamental para que sejam assertivas nas oportunidades em que precisam se posicionar”, alerta a comandante. “A característica de uma executiva de sucesso é entender seu potencial e exercer sua função, em vez de querer ocupar uma posição masculina”, avisa.

Para alcançar o sucesso, diz Monalisa, é essencial que a mulher tenha desenvoltura, presença marcante, postura e pulso firme. “Não carrego o peso de ser negra e mulher. A escolha de como lidar com isso é minha e eu me fortaleço e ganho forças para mostrar porque estou ali. No final do dia, dou risada de muita coisa. Não é que não me importe, eu apenas não me abalo, pois sei que sou maior do que tudo isso”, finaliza a executiva.

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