Stellantis desenha futuro da mobilidade com plataforma automotiva conectada

A multinacional do setor automotivo Stellantis está em uma jornada para desenhar o futuro de seus carros conectados. Ao longo dos últimos dois anos, a empresa desenvolveu uma plataforma de conectividade para veículos das marcas Fiat e Jeep no Brasil. O projeto rendeu à companhia o prêmio As 100+ Inovadoras no Uso de TI de 2021 na categoria Indústria Automotiva, Autopeças e Mecânica.

O desenvolvimento de uma plataforma para carros conectados da Stellantis acompanha uma tendência global do setor: automóveis cada vez mais integrados a tecnologias de conectividade, expandindo pontos de contato entre montadoras e clientes e gerando novas experiências e oportunidades de negócio.

“A conectividade é um meio para trazer novos serviços, trazer entretenimento, trazer mais interação entre montadora, concessionários e consumidor, e, em um próximo passo, com uma série de parceiros em um ecossistema amplo”, explicou André Luiz Souza Ferreira, CIO da Stellantis para a América do Sul, em entrevista ao IT Forum. “Esse é o caminho.”

Segundo o líder de tecnologia da Stellantis, a complexidade do projeto exigiu o envolvimento de ao menos 4 mil pessoas na região e de múltiplas pesquisas e benchmarks antes do início de seu desenvolvimento. A pesquisa de campo envolveu até uma expedição à China, onde a empresa procurou entender tecnologias análogas para carros conectados e buscar inspirações para o projeto local.

O próximo passo foi a seleção de parceiros para fornecimento de soluções necessárias para o lançamento da plataforma no Brasil. A lista é longa, mas inclui nomes como TIM, responsável por fornecer conexão aos veículos através de SIM card eletrônico, e Harman, que fornece a plataforma Ignite. “Tudo completamente customizado para nosso mercado”, afirmou o diretor de tecnologia.

Apesar de dificuldades encontradas no caminho, o projeto foi bem-sucedido. O primeiro veículo conectado da Stellantis, o Jeep Renegade, foi lançado em abril deste ano. Desde então, a montadora lançou outros cinco modelos conectados no país. Em seis meses, já são mais de 20 mil veículos conectados circulando pelas ruas do país.

Além dos próprios veículos conectados, Souza Ferreira afirma, outro mérito do projeto foi aproximar TI e Negócio dentro da Stellantis. Além de CIO regional da companhia, o executivo também passou a ser responsável pela área de negócios que poderão surgir a partir dos serviços conectados. “Foi um crescimento profissional não só trazer a TI para dentro do carro, mas assumir um novo papel dentro da organização. Temos um mundo de oportunidades ainda a ser explorado”.

Experiências conectadas

Através dos novos veículos conectados, clientes têm a possibilidade de dar comandos remotos aos carros ou até conferir informações, em tempo real, sobre a saúde de sistemas veiculares. Tudo isso pode ocorrer via aplicativo móvel. Usando o app, motoristas podem, por exemplo, consultar o volume de combustível no tanque, consultar a posição geográfica do veículo ou até mesmo dar a partida de forma remota – e, com isso, ligar o ar-condicionado antes de chegar ao veículo.

Para o mercado brasileiro, a empresa aposta especialmente na camada extra de segurança que as ferramentas conectadas trazem aos veículos. No caso de uma colisão, por exemplo, o sistema conectado de bordo pode realizar uma ligação automática ao serviço de concierge da empresa para auxiliar o motorista.

Em caso de furto, o sistema também pode ser utilizado para a localização e recuperação de veículos – segundo Souza Ferreira, desde que o sistema chegou ao mercado, a empresa já enfrentou 10 casos de furto, oito dos quais tiveram os carros recuperados.

Potencial de novos negócios

Além de expandir as possibilidades de interação entre motoristas e seus veículos, os sistemas de conectividade também são vistos como potencial nova fonte de novos negócios para a Stellantis. Assim como smartphones, carros conectados podem receber atualizações de software remotamente – e algumas delas poderiam ser oferecidas como serviços premium aos clientes.

A Stellantis já está experimentando com o modelo. Segundo Souza Ferreira, a empresa recentemente lançou um novo veículo que trazia um recurso tecnológico não disponível em carros da geração anterior. Por uma compatibilidade de hardware, foi possível, via software, entregar esse mesmo recurso para veículos antigos através de um update.

“Isso, nesse momento, sem custo para o cliente”, explicou o CIO. “[Mas] no futuro, será a possibilidade do cliente que desejar comprar um novo tuning para seu carro, para torná-lo mais esportivo, poder fazê-lo online”.

A possibilidade de novos negócios também se abre através de parceiros. Integrando serviços e aplicativos terceiros que podem rodar dentro de veículos Stellantis, como apps de pedágio ou estacionamento, podem melhorar a experiência do cliente e gerar fontes de renda para a montadora.

Desbloquear essa nova fonte de receita, no entanto, ainda é um desafio a ser enfrentado pela companhia. Segundo o diretor de tecnologia, especialmente no Brasil, ainda há um desconhecimento por parte de consumidores sobre o que é um carro conectado. “Muita gente acha que ter Android Auto e CarPlay significa ter um carro conectado, mas não é disso que estamos falando”, pontua.

Com uma previsão de ter 300 mil carros conectados nas ruas em dois anos, a missão de comunicar ao público qual o valor agregado desse tipo de produto, será o principal desafio do projeto no futuro. “Explicar para esse ecossistema de borda, incluindo dealers e clientes, qual é o valor agregado da conectividade continua a ser um grande desafio”, conclui.