Sonda: ‘pensar saúde ao invés de doença já é inovador’

Projeto da integradora chilena oferece programa de mudanças de hábito e saúde mental para colaboradores e melhora qualidade de vida

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7:30 pm - 24 de novembro de 2021
Adriano Espósito, diretor de inovação e transformação digital da Sonda para a América Latina Adriano Espósito, diretor de inovação e transformação digital da Sonda para a América Latina Foto: Divulgação

Até a eclosão da pandemia de COVID-19, a preocupação das companhias com a saúde mental dos funcionários nunca havia sido tão grande. Isolamento social, receio de ficar doente, economia ruim e medo de perder o emprego – esses e outros elementos se somaram em uma combinação potencialmente perigosa.

Lidar com o problema foi o grande motivador para o projeto Funcionário Conectado, executado pela integradora multinacional chilena Sonda e reconhecido como vencedor do prêmio As 100+ Inovadoras no Uso de TI de 2021, na categoria Indústria Digital – TI e Telecom – Externo.

Trata-se de uma plataforma em nuvem baseada em inteligência artificial que coleta dados dos trabalhadores de forma ativa (através de questionários online) e passiva (usando vestíveis e outros dispositivos sob o conceito de IoB, ou Internet of Body). A partir dos dados coletados, o sistema gera interações, dando ao usuário, por exemplo, instruções diárias de como mudar hábitos negativos. Se alimentar melhor, por exemplo, ou fazer mais atividades físicas. O grande objetivo é melhorar a qualidade de vida e, por tabela, a saúde mental.

“A Sonda tem 13 mil funcionários. Olhando para dentro de casa, a empresa se viu em um momento de avaliar como estava a saúde mental dos colaboradores”, lembra Adriano Espósito, diretor de inovação e transformação digital da Sonda para a América Latina. “Fizemos vários estudos e criamos essa oferta de saúde mental escalável. Serve para qualquer indivíduo, independente do cargo. Como essas pessoas podem melhorar comportamento e estilo de vida para ficarem menos estressadas?”

Funciona assim, na prática: o usuário aceita utilizar a plataforma e, a partir daí, preenche um questionário de diagnóstico. O sistema se pauta sobre sete pilares considerados as bases da saúde mental, incluindo sono, alimentação, atividade física, relacionamentos e finanças. O formulário é preenchido novamente a cada seis meses.

“Em paralelo tem o acesso diário. Todo dia você tem de 2 a 5 minutos de uso da ferramenta, que te dá dicas para mudanças de hábito”, explica Espósito. Essas dicas são baseadas em um método de mudança comportamental chamado Prochaska, de cinco fases – pré-contemplação, contemplação, determinação, ação e manutenção.

“A gente entendendo o gap quando preenche o formulário, e a IA começa a dar micropílulas diárias. Pequenos vídeos, textos e áudios sugerindo coisas. Há toda uma questão de ranking, pontuação, socialização, premiações, que incentivam o uso. E essa interação na ferramenta vai retroalimentando a IA, para manter [o usuário] mais engajado”, explica o executivo.

Os dados coletados por dispositivos vestíveis também permitem uma camada adicional de cuidado na plataforma. Pessoas com trabalhos de alto risco ou com exigência de concentração elevada podem ser monitoradas mais de perto, permitindo medidas preventivas de modo a evitar acidentes, por exemplo.

“A Sonda ganha dados estatísticos. Ela não olha os dados sensíveis e de comportamento individualmente, mas consegue ter uma visão sistêmica de grupos. Será que determinadas pessoas de tal cidade ou filial estão mais estressadas que outras? E aí o RH consegue atuar de forma estratégica, tendo o atendimento mais próximo ou criando outras soluções”, explica Espósito, afastando a possibilidade de mau uso desses dados por parte da empresa.

Detalhes técnicos

A Funcionário Conectado roda na nuvem – mais especificamente a Azure, da Microsoft –  e utiliza algoritmos baseados em IA para analisar os dados obtidos. O Data Lake é alimentado tanto pelos dispositivos em IoB como pelos dados coletados nos questionários. Há também o uso de automação robótica (RPA) para colher informações de forma digital e escalável. A orquestração é feita via containers e aplicando o padrão BFF (Back-end For Front-end).

O desenvolvimento da plataforma foi feito em parceria pela Sonda e por uma startup especialista em saúde e com conhecimento sobre bem-estar. A própria Sonda, por ter ofertar soluções para o setor da saúde, também conta com profissionais médicos que atuaram como consultores para a construção da plataforma.

“Eles são a base cientifica e de saúde para comprovar o que estamos fazendo”, explica o executivo. “Em termos de tecnologia, temos diversos parceiros. Foi um desenvolvimento da Sonda, com toda estratégia de inovação e ecossistema de startups.”

O projeto começou pela filial brasileira da Sonda. Atualmente são cerca de 750 usuários ativos da plataforma no país, que deve ser lançado em outros 10 países até maio de 2022. A meta é alcançar todos os 13 mil funcionários da empresa. Também há planos de, posteriormente, oferecer o sistema para clientes externos.

Resultados e expectativas

A solução completa foi desenvolvida entre maio e junho de 2021, e a implantação na própria Sonda começou a há pouco menos de três meses. Isso significa que não há ainda resultados auferidos, uma vez que mudanças de hábito levam entre quatro e seis meses para mostrarem resultados, diz Espósito. “Queremos coletar [dados de resultado] a partir de março”, diz.

De qualquer modo, há medições feitas pelos parceiros de desenvolvimento da Sonda para parte das funcionalidades presentes na solução completa. E eles incluem desde redução de custos com turnover e planos de saúde até uma maior proximidade da empresa com os funcionários e, claro, melhoria na qualidade de vida e aumento da produtividade.

Para o executivo, o projeto reflete também uma preocupação social da Sonda, uma vez que o cuidado com o público interno também está dentro dos princípios de ESG. E foi também um desafio pessoal para Espósito, cientista da computação cuja carreira toda foi orientada a posições de liderança técnica e que nunca havia imaginado se engajar tanto com o tema “bem-estar”.

“Estamos muito confiantes de que vamos ter muitos benefícios. Se parte [da solução] já traz grande benefício, imagine mais completa”, diz o diretor, que vê a inovação não só nas tecnologias utilizadas na plataforma, mas em sua própria motivação. “Todo mundo se preocupa com a doença, mas poucos estão olhando a causa. O sonho é não ficar doente. Só no modo de pensar já é inovação.”

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